O Maracanã é uma grande oportunidade (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, vamos direto às contas. De acordo com o boletim financeiro de Fluminense e Luverdense, podemos aferir que o custo de Match Day para o Fluminense é de R$ 400 mil. Ponto.

Na próxima quarta-feira, com ingressos a R$ 50,00, mas com uma série de promoções, imagino que o ticket médio seja de R$ 25,00. Em outras palavras, precisamos ter 16 mil pagantes no estádio para não termos prejuízos. Qualquer coisa acima disso representa lucro.

Sob esse ponto de vista, jogar no Maracanã começa a valer a pena, já que não devemos mais ter jogos com público minguado. Acredito, até, que, com o retorno de Pedro, possamos ter um público na casa dos 30 mil pagantes, o que nos renderia um bom lucro.

Essas são as condições que teremos para jogar sob o novo modelo. Com um detalhe: a partir do jogo contra o Goiás, além de termos controle total  sobre os custos da operação, passaremos a ficar com as receitas de consumo do estádio, que eu não tenho a menor ideia de quanto seja, mas não há dúvidas de que a conta é de somar.

De qualquer forma, fiquemos, por ora, com essa conta de R$ 400 mil de custo operacional por jogo, incluído o aluguel, com a obrigação, para não ter prejuízo, de colocarmos 16 mil pagantes. Essa seria, também, a condição que o Fluminense teria jogando como inquilino do Flamengo no Maracanã.

Como nós teremos que arcar com um custo mensal na casa de R$ 1,1 milhão, já que resolvemos ser sócios do Flamengo no empreendimento, não basta ficar no zero a zero no Match Day. Mas vamos fazer os cálculos objetivamente. A partir de maio, o Fluminense deve ter uma frequência de quatro jogos mensais no Maracanã. Em quatro partidas, pagaremos R$ 360 mil de aluguel. Sendo que, nesse caso, pagaremos para nós mesmos. Ou seja, é despesa de um lado, receita de outro. Esses R$ 360 mil servirão para ajudar a pagar o custo administrativo com o estádio. O que significa que o nosso prejuízo cai de R$ 1,1 milhão para R$ 740 mil.

Recapitulando: se o Fluminense tiver saldo zero na operação de seus jogos, partimos de um prejuízo com a gestão do estádio de R$ 740 mil. Isso significa que, para ficarmos no zero a zero, os quatro jogos mensais terão que, somados, gerar lucro de R$ 740 mil. Amigas, amigos, isso não é nenhum absurdo. É só dividir R$ 740 mil por quatro jogos e concluiremos que precisamos gerar um lucro médio por jogo de R$ 185 mil. Isso significa termos um público médio de 23 mil por jogo.

A pergunta que se impõe é: a torcida do Fluminense está disposta a comprar esse barulho, ou continuará fazendo beicinho? Vamos entender, aqui, que o Maracanã é uma grande oportunidade para o nosso clube, que vai depender da nossa torcida. Precisamos deixar de ser motivo de chacota em esquinas mal faladas.

Só que o cálculo não fica por aí. A voracidade do Flamengo com relação ao Maracanã não é por acaso, assim como não é por acaso a parceria com o Fluminense. Tendo o Fluminense como parceiro, o Flamengo divide os custos. Isso significa sair de um custo anual de R$ 26,4 milhões para um custo de R$ 13,2 milhões. Com isso, o Flamengo garante uma operação lucrativa só com as receitas dos jogos, é o que vem mostrando a presença de público rubro-negro no estádio.

Só que nós falamos em público médio de 23 mil pessoas para gerar receita suficiente para pagar toda a conta e ficar no zero a zero. Porém, eu ainda não incluí nessa conta as demais receitas do Maracanã, como camarotes, publicidade, visitação, aluguel para outros clubes e realização de eventos nos dois gigantescos aparelhos esportivos do complexo. Em outras palavras, isso quer dizer que com média de 23 mil pagantes no Maracanã o Fluminense também terá lucro garantido com o projeto.

Ah, mas se o Fluminense ficasse como inquilino e tivesse 23 mil pagantes por jogo, já lucraria bastante com o estádio. Sim, é verdade, pois não teríamos o custo administrativo de R$ 1,1 milhão. Será que, para a marca Fluminense, seria válido ser visto como o clube que joga toda semana de aluguel no estádio, pagando para seu rival? Acho que não. Além do mais, o Fluminense, parceiro ou inquilino, será gerador de conteúdo. Conteúdo atrai receita com publicidade. Ser um dos gestores do Maracanã traz prestígio. Um bom projeto pode até atrair bons patrocinadores e investimentos para o clube.

Então, amigos, amigas, esse problema é nosso. Esse é o momento de abraçarmos o clube e esquecer um pouco as preferências políticas e maledicências. A torcida do Fluminense sempre se caracterizou por amar o seu clube e não por fazer jogo político de “A” ou “B”, fazendo oposição ao próprio clube, dizendo que “eu não vou ao Maracanã enquanto fulano estiver lá” ou “eu não entro de sócio enquanto beltrano for presidente”, sem sequer ter a mínima noção das intenções de quem está de fora, porque eu tenho certeza de que 99% não sabem.

Quarta-feira tem Pedro, nós já temos o Ganso, e a classificação rende ao clube uma bolada de R$ 2,5 milhões. O Maracanã é uma grande oportunidade e é a nossa casa. Devemos, sim, cobrar mais transparência da atual gestão. Não basta dizer que está em processo de obtenção da CND. Tem que dizer quando isso vai acontecer, presidente Abad. Tem que dizer claramente se existe um acordo formal para que o Fluminense, tão logo as obtenha, se transforme também em permissionário no Maracanã. É preciso, também, dizer quais são os planos para nós tirarmos esse elefante do meio da sala, que são os R$ 200 milhões de dívidas de curto prazo. Porque nós sabemos bem que o clube é inviável sem equacionar essa dívida, que vamos sempre atrasar salários e recolhimento de impostos, o que tornará inviável ter as CNDs e obter uma posição sustentável na gestão do Maracanã. Sobretudo porque, como já sabemos, o clube continuará tendo que se desfazer dos seus melhores jogadores para poder cobrir o rombo no fluxo de caixa, o que empobrece o nosso produto e compromete até mesmo o próprio projeto Maracanã.

Então, o que eu quero saber é: cadê o aporte do fundo de investimento que o presidente estava prospectando? Já cansei de dar a dica aqui. Em vez de comprometer as receitas ordinárias, coloca como forma de pagamento e garantia o abatimento da dívida a cada transferência de atleta que o Fluminense fizer. O investimento passa a ser em cima das vendas, sendo que o investidor participa da gestão comercial envolvendo os atletas, de modo que haja transparência e segurança no processo. Ou será que o problema do Fluminense para fechar um acordo assim é ter que ter transparência?

Independente de tudo isso, e por tudo isso, a torcida do Fluminense é o grande protagonista desse momento em que o clube emerge para a velha rotina de glórias ou afunda na mesquinhez, ganância e estupidez que nos flagelam.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

4 Comments

  1. Perfeito como Análise. Espero que alguém da Direção tenha um mínimo de juízo e Competência pra resolver esta dívida de curto prazo cuja solução havíamos acreditado ter sido obtida pelo Siemsen que nos enganou durante 6 anos. SAUDAÇÕES TRICOLORES !

    1. Eu não gosto muito de pregar panaceias, não, mas desatravancar esse passivo de curto prazo pode não ser a solução de todos os problemas, mas não haverá solução para problema algum sem ela.

      Abração!

  2. Boa tarde, Marcelo. Só acho que onde estiver o Flamengo deveríamos estar em lado oposto. Apenas acho. O presidente dos caras é banqueiro e, assim, burlando a Lei 8666, no meu entender, levantou o clube e não por administração responsável – balela da mídia. O fato, prá mim, nos meus 66 anos, enquanto não tivermos responsabilidade organizacional para reestruturar o nosso clube, tudo o mais cai no vazio – assim como nossa torcida nos dias atuais. Outro dia tive pelo Rio e fui até a sala de…

    1. Não vamos ser tão radicais. Teve um pouquinho de competência na recuperação financeira e econômica do Flamengo, embora saibamos que 80% do mérito vai para os trambiques dos carecas influentes no mercado financeiro e, principalmente, para o dinheiro da Globo. Agora, essa relação do Maracanã é comercial, tem que haver confiança entre as partes. O Fluminense tem que ficar de olho aberto, porque a gente sabe muito bem com quem nós estamos lidando.

      Abração!

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