O fim do futebol carioca? (por Zeh Augusto Catalano)

ventos da mudança fluminense

Nunca tive a chance de assistir uma partida em Álvaro Chaves. Certamente os tricolores mais experientes que leem esta coluna devem ter tido essa oportunidade. Me dói ver o estado atual do Estádio Manuel Schwartz.

São Januário resiste, praticamente intocado, ao passar do anos. Não é uma situação melhor do que as Laranjeiras. Mas a falta de dinheiro, vontade e ideias manteve o velho estádio como testemunha dos áureos tempos do futebol carioca. O estádio está caindo aos pedaços. Para onde se olhe, você vê a estrutura caindo aos pedaços, banheiros em petição de miséria. Mas, mesmo assim, quem lá vai assistir uma partida de futebol tem a experiência cada vez mais rara de ver um jogo num estádio de futebol e não numa “arena”. E a sensação é maravilhosa. Uma volta no tempo.

Tudo já podia ter sido mudado. Caso a oposição tivesse ganho a eleição, é muito possível que hoje São Januário já tivesse sido posto abaixo, para a construção de mais um caixote padrão fifa. Pasmem, tal ideia é defendida por grande parte da torcida. Querem a modernidade. São Januário é velho e ultrapassado. Temos de evoluir.

Uma passadinha por Londres derruba por completo essa tese. Eu juro que queria entender o porquê de Craven Cottage, estádio de 1896, do Fulham, servir (a seleção Brasileira jogou ali há alguns poucos anos) e São Januário, um projeto quase quarenta anos mais recente, ter de virar entulho.

Eu também gostaria de entender o porquê de não se poder mais jogar em Rua Bariri, Aniceto Moscoso, Ítalo del Cima, Caio Martins (parece que o Botafogo ressuscitará o estádio de Niterói por causa da falta do Engenhão – reservado para as Olimpíadas) na Ilha do Governador, entre outros, enquanto em Londres há cerca de dez estádios ativos.

Olhem agora, por favor, essa reportagem sensacional da ESPN sobre um time da nona divisão inglesa.

Alguns pontos nela ajudam a explicar o porquê das coisas no Brasil. Uma ilhota minúscula como a Inglaterra tem (pelo menos) nove divisões organizadas. Aqui, neste Brasil continental, temos porcamente quatro divisões, com cerca de cem clubes. E só. A grande maioria dos times que disputa a quarta divisão, por exemplo, passa cerca da metade do ano inativo, sem ter qualquer campeonato para disputar. Por que não se organizam campeonatos de quinta, sexta, sétima divisão e por ai adiante? Há times. Há jogadores. Estádios. Torcidas. Não há vontade.

Como pode o futebol brasileiro viver com essa quantidade ínfima de clubes?

Agora, os times preparam a já famosa Liga. Em termos de futebol brasileiro, é outra tragédia. Caso aconteça, poderá causar o fim de equipes como Madureira, Bangu, América, São Cristovão. Clubes históricos do Rio de Janeiro que, em caso da extinção do Campeonato Carioca, perderão ainda mais espaço que já perderam.

Alguns de vocês podem pensar que o que interessa, de verdade, é o lucro imediato. Aumentar em muito as vendas de camisa, direitos de transmissão, sócios torcedores. Pouco interessa se o Bangu, por exemplo, passe a criar cabras em Moça Bonita. O Fluminense vai lucrar milhões com jogos contra Cruzeiro, Atlético, Flamengo…

Mas o que move o futebol é a rivalidade local. As vitórias sobre os arquirrivais, os jogos no subúrbio, num calor escaldante, contra adversários carne-de-pescoço. A morte dessas experiências é, mal-comparando, para o torcedor jovem de hoje, como a morte da geral do Maracanã. Uma asséptica arena. Longe dos seus ídolos.

Lógico que há muito mais variáveis infuíndo nesse contexto. Mas esse é um ponto fundamental: matar os campeonatos regionais não é a solução. Rubinho continuará sua caminhada de grande líder da federação enquanto se taca fogo no sofá.

E olha que não falei no parceiro na iniciativa. Medo.

Abraços

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: va/pra

CAPA O FLUMINENSE QUE EU VIVI AUTÓGRAFOS

5 Comments

  1. As ligas inglesas são fruto da organização e parceria entre os clubes para os clubes. Surge na década de noventa pra libertar os clubes da Federação em relação às cotas de TV. Isso precisa ser feito no Brasil pra ontem. Ainda não acho que essa liga vai chegar a ser isso, dado a participação dos dirigentes ASantos e do Petraglia. Mas como disseram aí. Depois do que a FERJ fez com o Flu no carioca do ano passado fica complicado até de entrar em campo. Pra quê, se já sei a final e o campeão?Vc não?

  2. Escrevi um comentário grande pra publicar aqui, mas o limitador de caractere impediu a postagem… Pena…

  3. Bom dia chará!. Não dá para jogar um campeonato de cartas marcadas e com bandidos comandando. Só quem ganha são eles. O Roubinho está rico, sem precisar trabalhar. Ganha o seu dinheiro às custas dos clubes.

    1. Olá Zé Roberto,
      obrigado pelo comentário.
      Gostaria de lembrá-lo do episódio da Portuguesa, do final de 2013.
      Caso tenha ocorrido o que achamos que ocorreu, Rubinho, Eurico e companhia serão inocentes trombadinhas perto dos verdadeiros bandidos.
      Não dá o que pensar?
      grande abraço!

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