O exemplo alemão (por Marcelo Vivone)

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Tive o privilégio de assistir aos jogos da Liga dos Campeões dessa semana. Mesmo que os tenha visto à noite e já sabedor dos resultados, foram jogos que me empolgaram e marcaram por suas impressionantes dinâmicas de jogo.

Não vou me alongar na análise tática dos 2 jogos, até por que o craque da escrita, Mauro Jácome, já fez uma brilhante análise do jogo entre Bayern x Barcelona aqui mesmo no Panorama. Mas é inevitável fazer algumas observações a respeito.

Impressionante o crescimento de qualidade que o futebol alemão conquistou. Já via o Bayern como um dos melhores times do mundo da atualidade, mas confesso que conhecia (e conheço), muito pouco do futebol alemão como um todo.

Estimulado pelo sucesso dos 2 times alemães, resolvi pesquisar algumas informações sobre o futebol desse país e descobri que esses resultados são fruto de um trabalho sério, iniciado há 10 anos, por federação e clubes, na busca de um crescimento conjunto.

Traçar hoje um paralelo com a realidade que vivemos em terras brasileiras é muito triste. A 1ª pergunta a fazer é: será que algum dia nós brasileiros vivenciaremos um movimento no sentido de tornar nossos campeonatos realmente interessantes e rentáveis? Não imagino que isso aconteça com os Sr. José Maria Marin à frente da entidade maior do nosso futebol e, tampouco, com o Sr. Rubens Lopes à frente da federação do nosso estado.

O Borussia tem uma história recente que impressiona: em 2004, um novo presidente assumiu a gestão do clube e, de lá para cá, conseguiu sanar uma dívida que há 6 anos atrás era de 170 milhões de euros e crescia 25 milhões por ano. Uma das medidas adotadas foi vender seu estádio. Acontece que o sucesso de seu trabalho foi tanto que o clube hoje já é novamente dono desse espaço. Grande parte dessa conquista deve-se ao alcance de relevantes números, que garantem ao clube receitas mensais fixas: a média atual de torcedores por jogo é de impressionantes 80.478 pagantes (o estádio tem capacidade para 80.700 torcedores) e o número de sócios é de 68.000.

As semelhanças entre o Fluminense e o Borussia são motivo de grande esperança para nós tricolores. Nosso clube também passou por muitas dificuldades recentes e ainda tem uma dívida parecida com a que tinha o clube alemão. O Fluminense também teve uma mudança de gestão da água para o vinho e vem colhendo os frutos dessa enorme mudança de filosofia. O Fluminense, a exemplo do Borussia, tem hoje um presidente que tem como principal meta alcançar padrões elevados administrativos e de resultados. Ambos os clubes têm também em comum uma rica e vitoriosa história.

Outro importante ponto de semelhança entre o Fluminense e o Borussia é o investimento feito nas categorias de base. Aliás, dos 4 finalistas da Liga dos Campeões, 3 deles (Barcelona, Bayern e Borússia) são clubes formadores de jogadores. Sem dúvida, essa é uma filosofia a ser continuada e cada vez mais desenvolvida pelo Fluminense. Hoje estamos entre os 3 maiores clubes formadores de jogadores do país e a tendência é melhorarmos ainda mais. A gestão Peter acabou de completar a 2ª fase de reformas em Xerém, num investimento (e não gasto) total de 3,5 milhões de reais nesses pouco mais de 2 anos. Peter introduziu também uma nova filosofia em relação à venda de jogadores: hoje não vendemos mais um jovem promissor por qualquer bagatela.

Uma das diferenças existentes hoje entre os 2 clubes é que o projeto do Borussia está prestes a completar 10 anos, enquanto o nosso ainda não completou um triênio. E é esse ponto o motivo de tanta esperança na comparação entre Fluminense e Borussia. Os frutos em termos de resultado para o Borussia chegaram a partir da temporada 2009/2010 do futebol alemão. Demoraram, portanto, algo em torno 5 anos. O Fluminense tem ainda um longo caminho a seguir, mas o que foi feito e colhido até agora nos permite vislumbrar um futuro brilhante para esse centenário clube. Estamos galgando os degraus necessários para que a instituição Fluminense seja novamente referência para as demais.

Um grande problema que iremos enfrentar ao longo de todo esse percurso é que não vivemos na Alemanha e temos uma realidade bem diferente. Aqui, confederação e federação parecem fazer de tudo (e mais um pouco) para empatar qualquer iniciativa de moralização e de incutir qualquer tipo de planejamento no cenário vigente. As dificuldades parecem ser ainda maiores quando se trata do Fluminense. Mas, mesmo que o nosso caminho tenha muito mais pedras do que o percorrido pelo Borussia, eu acredito muito no espírito do nosso presidente, que congrega planejamento, pensamento de vanguarda e inovação, transparência, benchmarking, estratégia de marketing e tudo mais necessário para reconduzir a instituição Fluminense ao status que tinha há algumas décadas atrás. Arrisco-me a dizer que o nosso futuro pode ser ainda mais brilhante do que o passado, mesmo conhecendo e respeitando o que representa o Fluminense do século XX.

Sempre que elogio a administração atual do clube, faço questão de salientar que não pertenço a qualquer grupo político e que sequer conheço um membro da atual diretoria. Essa é uma opinião de quem acompanha ao máximo possível as informações que envolvem o seu amado clube e, por isso mesmo, quer muito ver o grupo atual reeleito nas eleições do final do ano.

As opiniões aqui contidas sobre os clubes alemães são independentes de suas classificações ou não para as finas da Liga dos Campeões. É claro que, no fundo, todo o planejamento visa alcançar as vitórias, mas ainda que elas não venham nessa Liga dos Campeões, o trabalho realizado pelos clubes alemães e sua federação deve ser conhecido, seguido e elogiado.

Marcelo Vivone

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: en.wikipedia.org

6 Comments

  1. Marcelo, obrigado pela referência. O texto está perfeito. Infelizmente, não vejo ninguém preocupado em repensar o nosso futebol. Os estádios estão vazios, o futebol desinteressante. A Seleção é o reflexo dos nossos problemas. Nunca tivemos uma oportunidade como a que estamos tendo. Economia propícia, vários estádios modernos, potencial de consumo fantástico. No entanto, não há movimento para ir de encontro a essa mina de ouro. Marin só tem tempo para se defender, as federaçōes trabalham fisiologicamente, os clubes não querem se unir. Enfim, daqui a vinte anos, temo estarmos ouvindo as mesmas ladainhas e que se perdeu o bonde da história.

  2. Excdelente Vivone!

    Na Alemanha, as transformações não vieram só dos clubes. Valorizam os campeonatos, cotas de TV mais igualitárias, piso e teto salarial dos jogadores, ingressos mais baratos. Resultado: estádios lotadíssimos, aumento de receitas e clubes mais fortes! Não à toa teremos uma final alemã na Champions!

    Alguém duvida?

    1. Marcelo Vivone:

      Pois é, Velho. O envolvimento foi total, passando inclusive pela confederação deles. Dá pra imaginar isso acontecendo aqui no nosso estado ou no país? Impossível né. Os exemplos são claros de que estamos a anos-luz de qualquer movimento nesse sentido:
      1 – a palhaçada recente da federação do Rio apoiando o mico histórico do Flamengo pleitear a realização de um novo jogo;
      2 – a Globo Produções atrapalhando tanto o Fluminense quanto o Botafogo ao mexer na tabela das semis do turno, novamente com o consentimento da federação do Rio.

      Mas pelo menos o nosso clube está num caminho muito bom. O problema é o entorno…

      Abraço.

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