O desastre da espanholização no futebol brasileiro (por Thiago Muniz)

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Nas últimas rodadas, vimos acompanhando o desempenho esdrúxulo e ridículo dos árbitros e dirigentes em favor de certos clubes, afora a total inércia da grande mídia econômica que, aos poucos, está favorecendo financeiramente alguns clubes e assassinando outros, tão importantes no cenário nacional.

“Espanholização” é o termo cunhado pelo especialista em marketing esportivo Amir Somoggi e que, após a implosão do Clube dos 13, ganhou força entre os times nacionais que passaram a negociar os seus próprios contratos com a detentora dos direitos televisivos – Rede Globo- que, segundo o site Futebol Business, pagou pelo triênio 2012 -2015 R$ 2,7 bilhões pelas partidas da série A, no canal aberto e nos fechados, sem contar o pay-per-view.

O futebol brasileiro caminha em passos largos em direção à espanholização.

O principal motor desse processo é a distribuição das cotas de TV, segundo levantamento do Itaú BBA.

O termo se refere à situação da Liga BBVA (Espanha), na qual Real Madrid e Barcelona abocanham 55% da receita total do campeonato e boa parte dos títulos nacionais.

Em 2011, o Grupo 1, formado por Corinthians, Flamengo, São Paulo, Internacional e Atlético-MG teve receitas de R$ 980 milhões no total, R$ 257 milhões a mais do que recebeu o Grupo 2 (R$ 722 milhões), formado por Santos, Cruzeiro, Palmeiras, Grêmio e Vasco. Em apenas dois anos essa distância dobrou, alcançando R$ 577 milhões.

Isto ocorre porque a emissora carioca aumentou o repasse ao Grupo 1 em um ritmo muito superior ao do pelo Grupo 2. Entre 2011 e 2013, o repasse ao primeiro escalão aumentou 43%, enquanto o segundo cresceu apenas 22%.

A distância para o grupo 3, formado por Fluminense, Botafogo, Coritiba, Atlético-PR e Bahia é ainda maior: de R$ 679 milhões, em 2011, para R$ 877 milhões em 2013. Na média, cada clube do primeiro escalão teve receitas de R$ 281 milhões, contra R$ 106 milhões do terceiro.

Segundo números do consultor Amir Somoggi, com os dados dos balanços financeiros dos clubes de 2014, o Flamengo faturou R$ 115,1 milhões com direitos de TV e o Corinthians R$ 108,7 milhões.

O abismo entre o clube que mais recebeu, Flamengo e o que menos recebeu, Ponte Preta, é de 5,8 vezes. Para o banco, os clubes brasileiros deveriam mirar a Bundesliga alemã, onde o Bayern de Munique recebe apenas o dobro do clube pior colocado da liga, o Greuther Fürth.

Os clubes precisam se unir.

Basta de notas oficiais patéticas quando são beneficiados.

É hora de exigir uma profissionalização capacitada. A partir de quem a comanda.

Não podemos ficar inertes com a futura falência dos grandes do futebol brasileiro.

A partir de 2016, haverá um aumento na cota de TV do Brasileiro, que deve fazer crescer um pouco a diferença entre Corinthians e Flamengo e os demais clubes, mas que ainda ficará longe da perversa realidade do Campeonato Espanhol.

É um absurdo essa diferença de valores e os clubes serem coniventes com isso. É justo que o time com mais torcedores inscritos no pay per view receba valores maiores por isso. Agora, dar de largada uma vantagem de R$ 110 milhões de reais para Corinthians e Flamengo em relação a clubes de fora do Eixo, apenas vai tornar o campeonato cada vez mais desigual. Se continuar assim, chegará o tempo em que apenas Corinthians e Flamengo terão chances de titulo. A continuar esse caminho nefasto, os outros clubes deveriam sair fora e criar um outro campeonato paralelo.

Na minha opinião, o modelo ideal no Brasil seria parecido com a da Premiere League: 70% dividido, e os outros 30% de acordo com audiência e posição na tabela. É um modelo que não gera desequilíbrio e nem injustiça, já que no fim das contas o campeão receberia mais que o último colocado, porém o ultimo colocado não receberia uma quantia pífia.

Esse critério de mensurar o tamanho da torcida tem de ser discutido.

No Brasil nunca houve uma pesquisa séria e de qualidade.

Todas são encomendadas e, por isso, muito suspeitas. Ninguém sabe o real tamanho das torcidas. E quem afirmar o contrário estará mentindo.

As mídias oligárquicas paulistanas e cariocas endossam falácias sobre esses dois times (Corinthians e Flamengo) há mais de 40 anos. E não me venham com essa conversa fiada de audiência que é outra mentira. O que determina maior ou menor audiência é a importância do jogo, independente de quem joga.

Não bastasse a diferença financeira administrada com a parcialidade de um torcedor (flamenguista ou corintiano), teremos que aturar e conviver por muitos anos com a parcialidade casuística do STJD.

Como convencer o torcedor descrente a continuar torcendo? Mas ninguém é obrigado a torcer, a ver jogos, a acompanhar o esporte, os ortodoxos me responderão. Se o cidadão colocar na cabeça que aquilo não é sério, ele larga. É um fato.

Cartolas e empresários, acordem! Isso não pode continuar assim. Pelo bem do futebol brasileiro.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: portal mídia esporte

o fluminense que eu vivi tour outubro 2015

1 Comments

  1. Muito bem analisado sobre a distribuição e falácias que rondam a FERJ, a FPF e a CBF.
    Aguardo análise sobre formato do campeonato brasileiro, estaduais, interestaduais e ligas paralelas.
    Abraço

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