O campeão dos centenários (por Alexandre Berwanger)

O Fluminense é o decano dos grandes clubes de futebol brasileiros, dos raros, se não o único que já nasceu grande e pujante, servindo de exemplo e modelo para todos os que vieram depois, tendo sido o primeiro deles a completar o seu centenário.

Tendo estimulado a criação de tantos clubes, ensinado outros a jogar futebol e ter sido o berço da Seleção Brasileira, foi também o principal organizador deste esporte no Brasil, estando sempre a frente das principais iniciativas para o futebol brasileiro ter atingido a grandeza e o reconhecimento internacional que tem.

Talvez por isto, o Fluminense tenha uma ligação tão grande com centenários, sendo um campeão inesquecível no centenário de um clube de regatas em 1995, campeão brasileiro no centenário de um grande clube paulista em 2010  contra a vontade da CBF, que fez de tudo para impedir a conquista tricolor, e até no centenário do São Cristóvão, também considerando a fundação do clube de regatas que foi um dos dois clubes que o gerou, em 1998, quando os dois clubes fizeram a final da Copa Rio, torneio classificatório para a Copa do Brasil, no último ano em que teve a participação dos grandes clubes cariocas e o último grande momento do simpático clube cadete, até agora.

Em 2009, tivemos a honra de jogar partida comemorativa pelo centenário do Coritiba, vencendo por 1 a 0, em 18 de janeiro. Quis o destino que os dois clubes disputassem uma partida dramática na última rodada do Campeonato Brasileiro deste ano, em partida que veio a rebaixar o Coritiba, extremamente tumultuada, com o Fluminense conseguindo o resultado que lhe convinha e saindo de campo sem nenhuma provocação ao clube paranaense, após o empate por 1 a 1.

Mas a ligação do Fluminense com centenários vai muito mais longe, como demonstro a seguir.

O Torneio Bicentenário dos Estados Unidos da América de 1976.

Os EUA organizaram um torneio retumbante para comemorar o seu bicentenário da Independência, tendo também como objetivo estimular a prática do futebol em terras norte-americanas, visto nesta época o futebol ser um esporte praticamente desconhecido naquele país. Esta e outras iniciativas acabaram por conseguir êxito, visto os EUA terem passado de coadjuvante inexpressivo, para uma nação relevante na prática deste esporte. O sentimento patriótico estava elevado às alturas, com festejos por todo a nação e uma áurea de felicidade e orgulho estampadas por todo este grande país.

O Torneio Bicentenário, que fazia parte importante destes festejos, reunia, além da nação anfitriã, três seleções campeãs mundiais, Brasil, Itália e Inglaterra, algo meio que parecida em sua organização com o que seria mais tarde a Copa das Confederações.

Assim como a Copa das Confederações, o Torneio Bicentenário dos EUA foi uma competição oficial autorizada pela FIFA, aliás, como as Copas Rio 1951 e 1952. Estranhamente a mesma imprensa que considera o Torneio Bicentenário dos EUA uma competição oficial, vira a cara para a Copa Rio.

Curioso, não?

Logo a imprensa, da qual se espera, imparcialidade, isenção e informação de qualidade?

O que o Fluminense tem a ver com isso?

Entre os titulares, estiveram e tiveram participação relevante, Miguel, Rivellino e Gil.

Para começar, Gil foi o artilheiro desta competição com 4 gols, e na final contra a Itália, nação de tantos torcedores do Fluminense e “oriundis”, Gil fez dois gols e Rivellino deu um show a parte, comandando a goleada da Seleção Brasileira por 4 a 1, com Miguel segurando a defesa!

Na verdade, mais importante ainda do que tudo o que consta acima, é fazer o leitor compreender a importância de um centenário, para um clube, para uma coletividade qualquer, mas principalmente para um país.

O Centenário da Independência do Brasil e os Jogos Olímpicos de 2016.

Este ano, foi o aniversário de 90 anos da realização dos eventos mais importantes do Centenário da Independência do Brasil, eventos estes realizados, organizados e patrocinados pelo Fluminense Football Club.

Muito se conhece sobre o Campeonato Sul Americano de 1922, atual Copa América, quando a Seleção Brasileira de futebol conquistou o seu segundo título internacional relevante, assim como o primeiro, em 1919, conquistado dentro dos muros do Fluminense, mas pouco se escreve sobre os Jogos Olímpicos Latino-Americanos (mais um esquecimento da imprensa?), primeira competição precursora dos atuais Jogos Olímpicos Pan-Americanos, o que ganha ainda mais relevância neste momento em que o Rio de Janeiro se prepara para sediar os próximos Jogos Olímpicos de Verão (será que alguém já informou isto para a Prefeitura do Rio?).

O evento teve a cerimônia de abertura dia 13 de setembro de 1922 e 162.000 pessoas assistiram aos eventos, uma enormidade para os padrões da época, conforme informa o excelente Blog Paixão pelo Flu, de Natália Lacerda.

A intenção não é expor nessas linhas a grandiosidade do evento, mas apenas registrar a grandiosidade patriótica do Fluminense Football Club, sem parâmetro na nação, e não falo apenas de clubes de futebol, mas de todas as pessoas físicas e jurídicas que compunham o Brasil de então, patriotismo este que seria reafirmado em várias ações nos tristes anos da Segunda Grande Guerra Mundial.

Sobre os Jogos Olímpicos Latino-Americanos de 1922, recomendo a leitura do livro “1922: CELEBRAÇÕES ESPORTIVAS DO CENTENÁRIO”, de João Manuel C. Malaia Santos e Victor Andrade de Melo, pela Viveiros de Castro Editora/7 letras (2012), com 182 páginas contando a história do grande evento, que acaba também por minuciar fatos detalhados da história do Fluminense, pouco divulgados na atualidade e que ajudam a reconstruir a história do próprio Brasil, enquanto nação.

Respeito por uma instituição centenária que faz parte da História do Brasil.  

Ingleses, norte-americanos e tantas outras nações tem um respeito enorme pela sua história e por suas tradições, colocando as suas instituições veneráveis no lugar que elas ocuparam por conta de suas contribuições aos seus países.

Já passou da hora da imprensa brasileira parar de ignorar o papel do Fluminense na construção do esporte e da nação brasileira, tentando esconder a enorme contribuição do clube em diversas áreas há 110 anos, fazendo comparações totalmente descabidas com clubes que cresceram a partir da década de 1960, tentando, como tem feito nas últimas semanas, desvalorizar mais uma campanha vitoriosa do clube dentro dos gramados.

O Fluminense, em qualquer país sério, seria sempre lembrado e tratado como patrimônio nacional que é, por tudo o que já fez dentro e fora dos gramados pelo seu país.

Respeito.

Alexandre Berwanger

Panorama Tricolor/ FluNews

@PanoramaTri

Contato: Vitor Franklin

15 Comments

  1. Alexandre, muito bom esse post.

    2012 não é o centenário do Santos? Mais um que a gente vai comemorar ? 🙂

    1. É verdade, Paulo Lopes, embora no caso do Santos não seja uma relação tão chamativa como as outras, mas vale a nota, por que não?

  2. Obrigado, Eduardo!

    Graças a pessoas com o seu talento, os feitos do Fluminense não serão esquecidos jamais!

  3. Prezado Alexandre M. B. Berwanger,
    Muito bom texto. Na verdade, arrebatador! Viva Miguel! Viva Rivelino! Viva Gil! Viva o Fluminense! Viva o Brasil!

    Gostei muito da última parte: “O Fluminense em qualquer país sério, seria sempre lembrado e tratado como patrimônio nacional que é, por tudo o que já fez dentro e fora dos gramados pelo seu país”.

    Mas fique tranquilo, pois cada vez mais nós contribuiremos para transformarmos o nosso amado Brasil. E com toda certeza, faremos de tudo para que todos os cidadãos brasileiros possam conhecer a História e a grandiosidade do inigualável FLUMINENSE FOOTBALL CLUB.

    Nós somos a História!!!

    Um abraço fraterno e…

    Saudações Tricolores,

    EDUARDO COELHO

  4. Elucidação de uma instituição com estas minúcias me enriqueceram de orgulho por fazer parte dela, há 56 anos, como torcedor , muito obrigado Alexandre , vc foi de uma perfeição , só os que amam são capazes , qdo no final do texto diz :
    “O Fluminense, em qualquer país sério, seria sempre lembrado e tratado como patrimônio nacional que é, por tudo o que já fez dentro e fora dos gramados pelo seu país.”

    Talvez, por terem conhecimento desta história com h , esses idiotas que nutrem uma inveja – o pior dos pecados capitais – que destrói almas , como se fosse seu principal alimento .
    Não devemos ficar com raiva desta gente , não faz parte da índole do bem , devemos sim, ter pena pq eles possuem o pior dos sentimentos ” ódio”.

    Como , fiz questão de frizar , o Fluminense tem história com H os outros tem estórinha .
    ST meu irmão

    1. Fiquei emocionado Mauricio com as suas palavras a respeito de nosso Fluminense, mais ainda, ao refletir que o Fluminense somos nós, o que também me dá muito orgulho de poder ser merecedor da dádiva divina de pertencer a Torcida Tricolor, mesmo sendo um dos menores de todos os tricolores.

  5. Obrigado, amigo, contamos com essa rede de novos relacionamentos, pretendemos complementar o que arrecadarmos até meados do próximo ano com recursos próprios. A galera aqui do Panorama está ajudando muito, temos fé em Deus que vamos conseguir. ST, Waldir Barbosa Junior.

    1. Quando eu tinha 14 anos fui convidado pelo então presidente da FLUNITOR, Fernando, para fazer parte de uma rede de apoio a candidfatura daquele que seria o presidente do Fluminense, Silvio Vasconcelos, com alguns encontros tendo sido na casa do Preguinho.
      Desta época, lembro com carinho dos recortes de jornais e fotos que o Preguinho me mostrou, sem ter ainda a idéia do gigante que ele foi, gigante também na humildade, pelo tratamento que dispensou a esse menino vindo de Niterói para participar de um movimento em pró do futuro do Tricolor, mostrando, tanto ele quanto Silvio Vaconcelos, emoção por ver um menino de 14 anos preocupado com o futuro do FFC.
      Com o passar dos anos, entendo melhor a emoção deles, pois percebo que os mais jovens são a continuidade do esforço em pró de nossa paixão comum, a nossa esperança em um futuro de glórias contínuas para o Tricolor.
      Preguinho também faz parte de minha vida pelo tratamento fraterno que me dispensou.

  6. Alexandre, bom dia. Excelente texto, a perspectiva histórica tem sempre muita relevância, é trazendo esta história à luz dos fatos atuais que a mantemos viva; a propósito, daí a relevância do livro sobre João Coelho Netto, que infelizmente poucos Tricolores tem percebido a importância e se disponibilizado a nos ajudar, seja divulgando nossa proposta de financiamento coletivo para o livro, seja efetivamente doando quantias banais, que se gasta em três latas de cerveja. Preguinho é um atleta atemporal, e para agregar valor ao que você tão bem explanou em seu texto, Mano, irmão mais velho dos Coelho Netto, foi enterrado no dia em que a Seleção Brasileira jogava a final do Sul-americano, contra o Uruguai, e a vitória inclusive, foi dedicada a ele. Temos depoimentos do proprio atleta registrado no livro, que brevemente, com a ajuda de todos os Tricolores, será publicado. ST. Waldir Barbosa Junior

    1. O lançamento do livro sobre Preguinho, Wladir, preencherá uma lacuna imensa na literatura esportiva.
      Conte com o meu apoio para a divulgação e desde já, como leitor deste livro.

      1. O que tenho que fazer para , não só adquirir o livro , contribuir também com esta obra que , c certeza , expõe e retrata ao leitor a vida de um homem brasileiro cheio de virtudes e que merecia maior divulgação . Um atleta quase perfeito , não sei se Pelé foi melhor , que merecia uma estátua , até já votei nele , na entrada das Laranjeiras ou do CT que esta para ser construido .

        PS- Eu sou meio idiota para lidar com modernidades da tecnologia , portanto tem que ser da maneira mais simples possível para contribuir …rss
        ST

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