O avesso do avesso (por Paulo-Roberto Andel)

cleber mendes lancepress

I

Fiéis a granel, admiráveis maníacos, guerrilheiros vindos de todos os lugares e o Maracanã das sete e meia da noite teve um colorido especial. Vencer o líder do campeonato – o Cruzeiro – era imperativo e, ao mesmo tempo, deixar a incômoda zona de rebaixamento. O Fluminense venceu. Não foi brilhante, não foi deslumbrante, mas a postura do time mostrou que é possível ir bem mais além do que o décimo-terceiro lugar já cravado pelos derrotistas de plantão.

II

Eu ainda torço pelo canto do cisne de Deco. É um craque. Está no fim da carreira, todos sabemos. Fez um ótimo lançamento pela direita e errou todo o resto. Temos quatro meses, ele ainda pode voltar a brilhar caso se recondicione. Com o craque mal – ainda que tenha saído por contusão -, curiosamente veio a grande sacada para a vitória: Luxemburgo, mostrando o serviço esperado, tirou-o para a entrada revigorante de Felipe, outro craque também condenado pelos derrotistas em plena baba. Antes subestimado por Abel, o meia entrou e deu o talento que nosso meio-campo há muito carecia: a ligação, o passe, tirar de Fred a necessidade oca de ter que vir buscar jogo atrás. Mais tarde, no segundo tempo, o craque decidiria o jogo. Deco saiu, mas bem que poderia ter sido Wagner, em noite de time-com-um-a-menos-em-campo. Quando veio, o Cruzeiro foi perigoso: ameaçou Cavalieri e acertou uma bola na trave.

III

O Fluminense atacava também, mas pouco finalizava. Então veio o pênalti quase no fim do primeiro tempo. Retratos de um time em reconstrução: Fred deu três paradinhas, cobrou mal. Fábio não se mexeu, pegou o penal e ainda a sobra. Mau sinal para a descida ao vestiário, mas foi justamente daí que o tricolor recobrou as forças. Não foi um jogo fácil: o Cruzeiro tem um bloqueio defensivo vigoroso, muitas vezes marcando na intermediária adversária. Caldeira estava ao meu lado e pedia por velocidade, juventude. Foi atendido.

IV

Segunda etapa, sem maiores mudanças no paradigma do jogo, exceto pelas boas tentativas de Felipe, sempre tratando a bola laranja como se ela fosse branca num verde de sinuca. Luxemburgo queria mais: colocou os garotos Igor Julião e Kenedy. O time mudou. Há quanto tempo não víamos um lateral-direito impetuoso com a camisa do Fluminense, ousando, agredindo?

V

Felipe deu a cartada final. Lindo passe na esquerda, Carlinhos cruzou bem e Kenedy tentou finalizar de voleio. Errou, a bola quicou, Fred foi mais Fred do que nunca, águia do Atlântico Sul: cabeçada firme, impecável, sem chance para Fábio, 1 x 0 Fluminense a quinze minutos do fim. Eu pensei em Zé Teodoro contra o Flamengo em 1991, tentando cruzar, errando, a bola também quicando e o garoto Alexandre deixando seu único vestígio com nossa camisa num Fla-Flu imortal. E Fred finalmente entrou para a galeria dos dez maiores goleadores do Fluminense na história, empatado com Magno Alves. Ainda deu tempo de Cavalieri ser monstro numa defesa que praticamente foi a de um pênalti. E a última bola cruzeirense foi um Ai-Jesus perto da nossa trave direita.

VI

Nossa torcida deu o show de sempre. Lindas cores, mulheres inesquecíveis, rapazes em procissão e cânticos. De ruim, apenas a eterna incompetência administrativa do Maracanã: inadmissível que num estádio “arena” com a chancela de dona fifa um terço da torcida só consiga entrar nas arquibancadas com mais de vinte minutos de jogo.

Pela primeira vez em minha vida tive que assinar um documento para ter meu ingresso de torcedor validado e entregue.

E preciso não confundir profissionalismo com burocracia oca.

VII

O Fluminense não vai morrer, o Fluminense não vai acabar. Nada de alarmismos afetados.

Eduardo, Fabiano, Mônica, Ricardo, Geninho, Natarelli, Alexandres, Caldeira, Luciano, Carla, Nelson, Roger, Álvaros, muitos mais, todos nos abraçamos. Saudamos Shara e Marina com as honras da casa, lembramos de Juliana.

O fim da noite ainda foi mais engraçado. Quem nos desdenhava na segunda levou três chineladas de primeira. É por aí.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: Cleber Mendes – lancepress

2 Comments

  1. ALELUIA VENCEMOS GRAÇAS A DEUS….COMPLETAMENTE ALIVIADO…E A TENDÊNCIA É MELHORARMOS…COM AS BÊNÇÃOS DE JOÃO DE DEUS

    ST

    VALEU FREDERICO….VC É O CARA

  2. Fiquei contente com a vitória e ainda não é o momento de analisar o trablaho do velho Luxa. Mas, senti uma certa involução em relação ao que time vinha jogando, apesar da vitória. Mas, como disse, o Luxa não teve tempo de colocar sua filosofia de jogo em cena.
    De bom a volta do Felipe, que mudou completamente a qualidade do meio de campo em apenas 45 minutos. Por que será que o Abel não o escalava?
    Vem mais pedreira pela frente e espero que o time recupere sua confiança, que está visivelmente abalada. Sem ela, seremos dominados nos jogos como ontem.

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