O Fluminense 2020 é muito diferente do de 1970 (por Aloísio Senra)

Tricolores de sangue grená, tem sido difícil pra caralho acompanhar o Fluminense nos últimos oito anos. Então, resta-me recordar o passado, apelando a uma efeméride tricolor para tal. Nesse domingo, dia 20 de dezembro de 2020, cinquenta anos terão se passado do título mais difícil da história do futebol nacional, o Robertão de 1970, conquistado pelo Fluminense Football Club. Meio século da primeira conquista nacionalmente relevante para o futebol carioca. Ainda que o Botafogo tenha vencido a Taça Brasil anteriormente, tratava-se de um torneio de caráter curtíssimo e eliminatório, com menos jogos que a natimorta Primeira Liga. A Taça de Prata, não. Reunindo os principais times do Brasil, contou com disputas de alto nível no ano do tricampeonato mundial da seleção brasileira. Os principais craques jogavam nos times brasileiros, o que resultava em pelejas fantásticas e memoráveis. Este humilde colunista tratou deste título na segunda edição do História Raiz, disponível no canal do Trio da Arquibancada Raiz no Youtube. Caso haja interesse, segue o link, e perdoem-me pela música alta:

É impossível recordar essa conquista e não me lembrar das demais. E, lembrando-me das demais, encaro com angústia e indignação extremas o período flusociano pós-2012, que só mudou de mãos e de legendas, mas continua em seu cerne extremamente similar. Só não posso dizer que é igual porque a gestão atual me parece ser pior. Senão, vejamos… como entender uma base que se destaca em todas as competições que disputa ser tão pouco aproveitada, enquanto vemos uma patota de ex-jogadores, perebas e amigões do churrasco sendo utilizados sem a menor cerimônia? Fred, Nenê/Ganso, Hudson, Muriel e Matheus Ferraz versus John Kennedy, Miguel, André, Marcos Felipe e Luan, e o time que só aguenta um tempo ganha por 4 a 1 na escalação. As duas últimas partidas foram um soco na nossa cara, visando quebrar nossos dentes e não nos deixar sorrir nunca mais. O futebol horroroso – porém resultadista – que víamos com Odair deu lugar a um futebol horroroso – porém derrotista – que vemos com Marcão.

É inaceitável deixar de derrotar o pior Vasco da história, que muito provavelmente encarará a segunda divisão pela próxima década, por covardia. Os primeiros trinta minutos nos permitiriam liquidar o jogo, e Marcão não quis. É inacreditável termos perdido cinco pontos para o Atlético-GO nesse campeonato, fora a eliminação na Copa do Brasil. Sobre a última partida, fico bastante indeciso sobre qual foi pior: esta última, em que ainda tive que aturar entrevista do boneco do posto mulambo porque meteu um gol em 1.700 jogos, ou a surra que levamos sob o comando de Odair. Em ambas, contudo, imperou a desorganização tática, vontade zero de vencer, má qualidade técnica, certos jogadores mortos e/ou parecendo jogar de favor, entre outras bizarrices. Marcos Felipe foi o único destaque positivo, o que já era óbvio que seria. Não foi bem no pênalti, mas seu único demérito no jogo foi este. E nós, que mirávamos a Libertadores (e até o título sem diarreia mental de treinadores), já somos o sétimo colocado, perigando cair pra oitavo e vendo o nono se aproximando. Delícia.

E aí eu lhe pergunto o seguinte, torcedor tricolor: o que você faria? Se o problema for do ponto de vista do técnico, eu tentaria trazer um comandante cascudo, experiente e com títulos, para encarar um desafio deste tamanho. E Dorival me parece ser o único nome disponível no mercado (inclusive já houve notícias de que o Fluminense tem interesse nele). Só que infelizmente acho que o buraco é bem mais embaixo, e que dificilmente Dorival vai aceitar pegar esse rabo de foguete. As últimas escalações de Marcão refletem o que quer a diretoria. E o que quer a diretoria? Vamos consultar então o orçamento para 2021, para o qual o Conselho convocou reunião essa semana. Quais são as metas? Finais do Carioca, décimo lugar no Brasileirão, terceira fase da Copa Sul-Americana e sexta fase da Copa do Brasil. O Fullham brasileiro está ganhando corpo com a gestão Mário Bittencourt. Quando olho o que já fomos de 1902 a 2012 e comparo com os últimos oito anos, percebo que chegamos à culminância do projeto flusociano nesta reunião. O apequenamento irreversível do Fluminense é iminente.

Pessoas da gestão, façam um favor ao Fluminense: não se candidatem à reeleição em 2022. Sei que não vão renunciar nem largar o osso durante o triênio, mas tenham pelo menos dignidade para abrir caminho para quem vá resolver nossos problemas. Porra, pelo menos planejem ser campeões da Sula, já que aparentemente o “projeto Libertadores” foi pro ralo! Se não tivéssemos o orçamento comprometido com perebas e ex-jogadores em atividade, teríamos como investir. Nossa base é boa. Se bem trabalhada, vai dar caldo. Mas não enquanto a panela do asilo estiver no fogo. Torcida, acorde! Parem de endeusar técnico, jogador, dirigente, o escambau a quatro. Teve gente falando em “melhor presidente da história do Fluminense” em relação a Mário Bittencourt! Repeteco do Peter, que também recebia essa alcunha? Mário é mais omisso que Abad e mais incompetente que o Peter. Reparem, planejam as finais do Carioca porque já acham que serão vices. Caso contrário, planejariam o título!

Eu fico me perguntando o que vai ser de nós agora. Sinto-me desamparado, sabem… como se não houvesse esperança, não houvesse o que fazer. Sigo denunciando, mostrando os problemas, mas o canto da sereia parece já ter hipnotizado a muitos. Entre culpabilização pelos que pediram a saída do Odair aos que pedem calma para que o trabalho de Marcão tenha continuidade, o que acho bastante provável é que façamos zero pontos nos próximos três jogos e integremos a décima posição que tanto postulam. Se nada mudar, se a base não for usada da maneira que deve, se Marcão ou quem quer que seja o novo técnico não entender que não dá mais pra esse bando de jogadores velhos, caros, ruins e desinteressados comporem a espinha dorsal do clube e continuarem sendo titulares ou primeiras opções, o resto do campeonato será só mesmo para cumprir tabela. E muitos ainda levantarão as mãos aos céus e agradecerão por pelo menos um ano de “tranquilidade” em que não lutamos para não cair. Pobre Fluminense. Pobres tricolores. Sem curtas hoje.

1 Comments

  1. Assino embaixo. Até mesmo Fred, com todo legado que o fez personagem destacado de nossa rica história, não tem condições de jogar em alto nível, não compete mais, lento e previsivel, manchando sua própria história no Flu. Falam em não lançar a base precipitadamente, mas palmeiras, santos e fla têm o feito e dado certo. Nossa base ê inferior às deles??!!

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