Não é tão simples (por Mauro Jácome)

130 - 19022014 - Não é tão simplesNesta semana, devido à discussão sobre o jogo Vasco x Flamengo, Renato Marsiglia deu uma entrevista à Rádio Globo sobre a implantação da tecnologia nos jogos de futebol. O ex-árbitro levantou diversas questões interessantes sobre o assunto que vem à tona toda vez que um lance acontece. Entre todos os discutidos, abordarei os que eu considero principais.

Renato Marsiglia disse que a profissionalização é necessária, mas, naquele momento, não seria isso que resolveria o problema. O auxiliar estava bem posicionado e olhando para o lugar certo. Concordo com a visão dele, pois a profissionalização vai além de lances como esse. E erros inacreditáveis continuarão a acontecer, mesmo com a criação da carreira de árbitro de futebol.

O que vimos no domingo passa à margem dessa questão. A pergunta que deve ser feita é “por que o assistente não se pronunciou?” e não “por que o assistente não viu?”. Ninguém me convence de que ele não viu. Impossível. Ficou na dúvida? Impossível. Outro detalhe: árbitro e bandeirinha poderiam ter assinalado. Milhões de situações idênticas já aconteceram no futebol quando não havia auxiliares de linha de fundo e, na esmagadora maioria, o gol foi marcado.

Ele questiona quem realizaria as filmagens. Penso que seriam empresas terceirizadas. Não vejo CBF e Federações, no caso, em condições de realizar essa tarefa. Sendo assim, há que se preocupar com a idoneidade. Também não acho prudente delegar aos detentores do direito das transmissões a missão. Lembro-me de um Vasco x Corinthians, pela Libertadores de 2012, em que houve divergência entre os tira-teimas da Globo e da Fox Sports.

Segundo Marsiglia, para se distribuir as diversas câmeras pelo estádio (linhas de fundo, linhas de impedimento e linhas das grandes áreas) os gastos seriam altos. A minha opinião é de que, se não for para cobrir todos os espaços passíveis de dúvidas, não há sentido em incluir a tecnologia. Por exemplo, não adianta colocar filmagens nas linhas de fundo e não colocar na região de impedimento ou vice-versa. Outra questão: quais os campeonatos teriam a tecnologia? E ainda, quais os jogos da rodada? Todos? Só os dos times grandes?

Pensando no Campeonato Carioca atual, a Cabofriense enfrenta o Audax na penúltima rodada. Pode ser que um esteja lutando para se classificar entre os quatro primeiros e o outro para não ser rebaixado. E aí? Cabofriense e Audax também são filiados. Por fim, num Campeonato Brasileiro, quais seriam os jogos principais? Realmente, o custo seria absurdo. Mais, ainda, para um futebol pobre de recursos igual ao nosso. Vale a pena pesar o custo e o benefício.

Outro ponto muito interessante da entrevista foi: os donos das transmissões, o público presente e os telespectadores aceitariam as interrupções constantes? Comparando com a NFL e com o tênis, que recorrem à TV para analisar dúvidas, esses esportes são formatados com interrupções. O jogo em si tem o ritmo corre-para-corre-para. Futebol não é assim, o público é diferente. Quanto mais dinâmica melhor.

Arrisco dizer que essa é a questão crucial, pois pode tornar o jogo confuso e enfadonho e a medida atrapalhar mais que ajudar. Imagine um jogo “pegado” em que os dois times pressionariam o árbitro, constantemente, para recorrer ao VT. Por exemplo, no jogo de domingo, quatro interrupções aconteceriam: os dois gols e mais dois impedimentos duvidosos. Ainda, muito do que se polemiza nas arbitragens brasileiras são lances interpretativos, sem senso comum, ou seja, que vídeo nenhum iria resolver. O sucesso na utilização da tecnologia dependeria de critérios para a eleição do tipo de dúvida que seria analisada.

Como saldo de tudo isso – dos fatos e dos argumentos – ainda tenho dúvidas da eficiência da implantação de tecnologia. Fico imaginando vinte e dois jogadores, dois técnicos, milhares nas arquibancadas criando um grande furdunço em centenas de jogos, tornando-os mais chatos do que já estão, para resolver um dos problemas em meio a outros, também graves, mas que dão menos audiência.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @MauroJacome

Foto: atarde.uol.com.br

Revisão preliminar: Rosa Jácome

7 Comments

  1. (…) Um inquérito também se faz necessário.

    E o tal inquérito esportivo pode inclusive dar azo a um inquérito criminal, visto os agentes, os interesses envolvidos e a forma escandalosa em que tal situação ocorreu.

    Mais: o boquirroto que ocupa a presidência dos urubengo deveria tornar em atos as suas palavras sobre a moralização do futebol e solicitar um empate e seu respectivo ponto para o Fiasco na Grama, mesmo que isso custasse ao seu clube de remadores a perda de pontos. Hipócrita.

  2. (…) implementação dessas novas tecnologias, porque dinheiro achar-se-á se vontade houver.

    O que nos traz ao terceiro aspect deste extensor comentário: a arbitragem em si.

    Ora, não foi apenas o infeliz na linha do gol que falhou.
    E a responsabilidade sequer é dele, pois que mero auxiliar do árbitro principal da partida, o responsável pela equipe de arbitragem e a realização do evento dentro nos limites das regras do jogo.

    O árbitro e o bandeirinha também falharam.

    Um inquérito

  3. (…) fluxo e até mesmo interruptivas da dinâmica de jogo.

    Creio que a tecnologia de linha de gol com chip na bola embora não seja o bastante já é um primeiro passo. Talvez até mesmo o primeiro passo entre muitos necessários, mas um que é básico.

    A linha de off-side é fundamental, mas transpassar a linha de gol é o objetivo do jogo.

    Num país em que os recursos são mal atribuídos, financeiros ou não, é uma questão de planejar-se honestamente a implementação dessas novas tecnologias,…

  4. ST**** Mauro

    Muito bem pensado e escrito o texto. Parabéns.

    O Futebol tem uma dinâmica que, por exemplo, o Rugby não tem.

    Enquanto num o recurso ao video é extenso, o outro, mesmo que excepcional, tal recurso desvirtuaria características do jogo, como são as fases de domínio , ou até opções de jogo como o contra-ataque.

    Entetanto, não se recorrendo ao video também não se põe de lado outras tecnologias, neste caso menos intrusivas no fluxo e até mesmo interruptivas da dinâmica de…

  5. concordo com o comentario do Caique, o capitao de cada equipe teria direito a duas interrupcoes em cada tempo, e os lances seriam por vt da transmissao, como eh hoje no volei, nao dura nem trinta segundos o “tira teima”ou “desafio” como quiserem chamar.

  6. É fácil resolver isso: Cada time teria direito a duas interrupções em cada tempo.

    Mais simples impossível.

    1. Concordo com vc Caíque! Nao atrapalharia em nada o andamento do jogo, e mais, essas paradas seriam só em lances como o do classico, ou seja, para analisar se a bola entrou ou não! Com menos de um minuto o juiz veria o replay e concluiria! O que o torcedor suporta, e nisso discordo do colunista, é ser feito de palhaço de ir ao estádio, ou prostar-se na poltrona de casa, e ver seu time ser escandalosamente prejudicado e, para evitar isso, parar o jogo por um ou dois minutos não seria nada demais.

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