Na espreita (por Mauro Jácome)

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Já temos o “campeão” do primeiro turno. Não há taça, não há volta olímpica, mas esse “título” é um indicativo de quem mostrou algo diferente; de quem trabalha a bola, preferencialmente, no chão, fugindo da mesmice que assola o futebol brasileiro. Do Íbis à Seleção do Mano.

Outro fator importante é que, dentre os vinte participantes do campeonato, o Galo faz valer o mando de campo mais do que qualquer outro. Achou um jeito de jogar no Independência e tem ao seu lado uma torcida fanática, empolgada, que empurra o time aproveitando-se do formato do estádio.

O nosso Fluminense vai ter que continuar ganhando e aguardar um tropeço do Atlético. Ainda temos uma rodada no próximo final de semana e, depois, um segundo turno que promete ser muito disputado entre os dois times da ponta da tabela. Depois do Cruzeiro, o Atlético Mineiro tem uma sequência equivalente à do Fluminense. O Galo pegará Ponte (c), Corinthians (f) e Bahia (f) nas três primeiras rodadas do segundo turno, enquanto o Fluminense jogará com Corinthians (c), Figueirense (f) e Santos (c).

O Vasco vem caindo nesse fim de turno. Está com sérias dificuldades de fazer com que a bola chegue ao Alecsandro. Ronda a área, vira o jogo, Juninho tenta, mas o Vasco não chega ao gol adversário. Esse é o principal fator da queda de rendimento. No início do segundo turno, terá pela frente: Grêmio (f), Portuguesa (c) e Náutico (f). Se o Cristóvão resistir no cargo esta semana, o clássico contra o Fluminense será seu jogo de vida ou morte. Dali não passa.

Vi o jogo do São Paulo sábado e fiquei impressionado com a mudança de postura, de motivação, de velocidade do time com a volta de Lucas. Jadson também jogou um bolão. É um time que não consegue a estabilidade. Se conseguir, poderá visualizar as primeiras colocações e incomodar a dupla gaúcha. Tolói, Cortês, Cícero, Lucas, Jadson e Luís Fabiano formam uma espinha dorsal que poucos têm. Depois do Corinthians, começa o returno com Botafogo (c), Bahia (f) e Inter (c).

A dupla Grenal terá o clássico do próximo fim de semana e, dependendo do resultado, poderá ser um divisor de águas. Uma vitória dará ao vencedor muita moral. Uma derrota, pelo contrário, poderá criar crises para um dos lados. Depois, o Grêmio terá Vasco (c), Palmeiras (f) e Atlético-GO (c). O Inter, Coritiba (f), Flamengo (c), São Paulo (f).

O Cruzeiro foi para o espaço com a goleada sofrida lá em Curitiba. Se não o tirou matematicamente de nada, aniquilou o pouco de moral que ainda existia. Domingo, tem o clássico. Se ganhar, milagres podem acontecer; se perder…

O Botafogo irritou a torcida tricolor no domingo. Quando todos acreditavam que tiraria dois pontos do Atlético, bobeou. Oswaldo de Oliveira terá uma semana de cão em General Severiano. É o mesmo caso de Cristóvão, do Vasco, se resistir até o próximo domingo, estará com a corda no pescoço no jogo contra o Flamengo.

Voltando ao Fluminense, teremos uma semana para que Abel trabalhe o time, para que os contundidos se recuperem, para que a torcida discuta sua relação com o time. Aconselho o torcedor a assistir ao VT do jogo do Atlético e ver a importância da torcida mineira para a campanha do time. Caramba! Somos vice-líderes. Poderíamos, inclusive, estar mais perto do Galo se não tivesse havido aquele erro de arbitragem no jogo do Engenhão contra o próprio Atlético.

Parafraseando o comentário do amigo Marcus Vinicius Caldeira no programa #Panorama Tricolor 15 (http://www.panoramatricolor.com.br/programa-panorama-tricolor-15/): “o que precisa mais para a torcida do Fluminense ir ao estádio? (…) A CBF terá que inverter a ordem na tabela. Então, a torcida irá, porque o time vai ficar no desespero. Só assim…”.

 

UM POUCO DE HISTÓRIA – O que já se escreveu sobre o Fluminense

O outro lado de Parreira

Esta semana será uma prévia do que acontecerá daqui a 19 rodadas. Nesta semana, teremos o fechamento do turno; lá, do campeonato. Lá, teremos uma semana de nó na garganta, frio na barriga, falta de apetite, de sono. Lá, estaremos.

Para relembrar o clássico do próximo fim de semana, busquei um jogo que fez história e transcrevo aqui um trecho do livro “Maracanã – 50 anos de glória”, de Renato Sérgio. O livro foi escrito para homenagear o cinquentenário do Maior do Mundo:

“27 de maio de 1984 – Um empate de zero a zero com o Vasco de Roberto Costa; Edevaldo, Daniel Gonzales, Ivã e Airton; Pires, Mário e Artuzinho; Jussiê (Marcelo), Roberto e Marquinho dava o título de campeão brasileiro ao Fluminense de Paulo Vitor; Aldo, Duílio, Ricardo e Branco; Jandir, Delei e Assis; Romerito, Washington e Tato, diante de um público de 128.781 pagantes e renda de 638 milhões de cruzeiros.

‘Quando, aos 42 minutos do segundo tempo, Assis ajeitou a bola com o pé esquerdo e chutou rente à trave, nenhum tricolor no Maracanã conseguiu se conter. Havia no ar a certeza de que a Copa Brasil já tinha seu dono. Alguns riam, outros choravam. Os que ainda tinham voz, gritavam. O jogo prosseguiu mais alguns instantes e de repente, como se estivesse combinado, a explosão da torcida passou a acompanhar as luzes piscando no placar: é campeão, é campeão, é campeão. (…) Emoções de uma torcida que não mais gritava ‘diretas, diretas, diretas e um, dois, três, quatro, cinco, mil, queremos eleger o presidente do Brasil’ como no início da partida, saudando o tricolor confesso Dante de Oliveira (‘A explosão da torcida revelou mais uma vez o que está no coração do povo. Vamos conquistar agora as Diretas-já, que será um título para toda a população brasileira’), o deputado da emenda das Diretas, presente na Tribuna. A torcida agora se banhava em pó-de-arroz e em delírio, acompanhando pelo placar, aos gritos, nome a nome, os novos campeões do Brasil.’ (Milton Costa Carvalho, no Jornal do Brasil).

Ainda no Jornal do Brasil, Oldemário Tonguinhó contava: “O jogo já estava nos descontos e Parreira se movimentava no banco de reservas de um lado para outro. Havia muita gente na lateral do campo atrapalhando sua visão, quando, de repente, dezenas de microfones cobriram o rosto do técnico em busca de um depoimento sobre o título. Mas ele grita que o jogo não tinha acabado ainda, olhar fixo no gramado. Os repórteres se embaralham entre os fios e quase derrubam Parreira. Ao seu lado, Admildo Chirol o ampara e quase vai ao chão também. Mas quando Romualdo Arpi Filho apita, Parreira corre para o túnel de acesso ao vestiário. A porta está aberta, protegida por um segurança baixo mas de peito largo, ele sai do caminho e Parreira vai direto para a rouparia. Começa a chorar, com o rosto virado para a parede. Não quer falar com ninguém. O roupeiro fica olhando a cena, emocionado. Os soluços agora aumentam de intensidade, ele se descontrai e chora alto, livre, franco, as lágrimas descendo sobre o peito. Ao longe, a festa. E o barulho dela chegando até o treinador, sozinho, ele e sua grande emoção, depois confessada como uma das maiores de sua vida. ‘Graças a Deus. Ganhar um campeonato brasileiro orgulha qualquer um. E eu vivi momentos terríveis nos últimos meses, tentei impor um trabalho à Seleção e não consegui. Recebi muitas críticas, fui até mesmo ameaçado. Mas não houve tempo de mostrar nada, o time se apresentava num dia e jogava no outro. Por isso, quando aceitei dirigir o Fluminense, foi pensando em fazer alguma coisa para provar até a mim mesmo, daí não ter renovado o contrato com a CBF, que exigia um trabalho de sucesso imediato e isso é quase impossível numa Seleção.’”

Estava prevista para o dia seguinte, a visita de um grupo dos Emirados Árabes disposto a contratar Parreira, a qualquer preço, diziam, um milhão de dólares por ano, falavam.

(Naquele dia, por oito milhões de dólares, o Nápoli da Itália levava Maradona do Barcelona, que tinha pagado nove milhões.)”

Sérgio, Renato – Maracanã – 50 anos de glória – Rio de Janeiro – Ediouro – 2000 – páginas 163 e 164.

 

Mauro Jácome

Panorama Tricolor/ FluNews

Revisão: Rosa Jácome

Imagem: Google

Contato: Vitor Franklin

4 Comments

  1. Maurão, lembre-se que o Galo disparou quando 5 times ainda curtiam os jogos ou a ressaca da Libertadores. Agora será igualdade. Fora o Corinthians que só pensa no mundial e fugir da eventual zona de rebaixamento. Daí a Sulamericana pode dividir a força para os mineiros.
    Por outro lado não vejo o Vasco morto. Apenas adoeceu. Pode ficar bom a qualquer momento e voltar a brigar pela ponta.
    Ah! Minha aposta será por uma chegada disputada pelas vagas da libertadores… na minha opinião, além de Palmeiras e Corinthians, já classificados, teremos Santos, Atlético-MG, Fluminense e Vasco ou Cruzeiro.

    1. Uma coisa que observo ao longo dos pontos corridos: a fronteira dos 4/7 jogos de instabilidade. O campeão, após ficar de 4 a 7 jogos na instabilidade, sem vitórias, retoma a campanha anterior. Os outros ficam no perde-ganha.

      1. O Atlético ainda não teve o azar de ficar sem o RG, Bernard e Danilinho, juntos, em um ou mais jogos. O Flu já ficou sem o Deco, Fred, Nem.

        As peças do Flu são bem melhores que a do Atlético.

        Outro detalhe: pouco se fala, mas o Leandro Donizete tem papel fundamental naquele time. Carrega o piano, junto com o Pierre, na marcação para os demais jogarem com tranquilidade. Leandro, inclusive, sabe sair jogando e ajuda da armação quando os outros estão marcados.

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