Marcão, vamos conversar… e umas palavrinha sobre espanholização (por Marcelo Savioli)

Marcão, vamos conversar um pouco… Quer dizer que você tirou o Daniel para colocar o Lucão porque entendeu que precisávamos ter mais um pivô para aproveitar as jogadas feitas pelos lados, que estavam acontecendo o tempo todo?

Marcão, meu caro, eu devo dizer para você que foi numa dessas jogadas pelo lado que saiu o nosso gol de empate, e quem tabelou e cruzou a bola no pé do Marcos Paulo foi o Daniel.

Marcão, como se não bastasse ter tirado o Daniel, o arco, você substituiu, também, o Marcos Paulo, a flecha. O que você tem nessa cabeça para fazer uma asneira dessas, Marcão? Você quer, depois de ter feito história no Fluminense, ficar estigmatizado como o técnico que levou o clube que você tanto gosta para a cova?

Marcão, coloca uma coisa na cabeça. Tirar o Daniel de campo, só se ele estiver morto ou pedir para sair. Você já ouviu falar em mudar posicionamento dos jogadores? Se ele estiver cansado, muda o posicionamento. Porém, melhor que isso, só se você colocar gente para ajudá-lo na criação, pois assim ele não vai cansar tão rápido.

Marcão, você sabe com qual ataque nós estávamos quando empatamos o jogo, logo depois de termos criado oportunidades seguidas? Era Marcos Paulo, Yony e João Pedro. Se você fizer as contas, são os três jogadores do elenco que mais marcaram gols na temporada. Esse era o ataque escolhido pelo Diniz, cujo modelo de jogo você quer reproduzir.

O time que conquistaria facilmente a Copa Sul-Americana era formado por Muriel, Igor Julião, Nino, Digão e Caio Henrique; Allan, Daniel e Paulo Henrique Ganso; Marcos Paulo, Yony González e João Pedro.

Vai por mim. Escala esse time contra o Ceará, deixa os três fazendo o carrossel na frente, prende um pouco mais os laterais, dá mais liberdade para Ganso e Daniel se aproximarem do ataque, adianta o Allan, avança as linhas de marcação, coloca o time para pressionar saída de bola.

Marcão, antes disso, coloque um vídeo para mostrar como você jogava, a forma como defendia essa camisa, como era capaz de arrastar a cara na grama, se fosse preciso, para ganhar uma bola. Avisa que aqueles que não estiverem dispostos a ser um Marcão em campo podem pedir para não jogar e treinar separado até o final da temporada.

Guarda o Nenê no banco para quando precisarmos prender a bola no final do jogo, segurá-la no ataque. O Nem, já que ele pelo menos corre horrores, deixa para quando um dos atacantes cansarem e o adversário estiver pressionando, para nós termos contra-ataque.

Faz tudo que eu estou te dizendo que nós dificilmente voltaremos a perder até o final do campeonato. Esse time aí que eu escalei é muito melhor do que 70% dos adversários que nós temos pela frente.

Outra coisa, Marcão, me diz o que vocês fizeram com o Miguel Silveira. Ele está escondido para se desvalorizar e ser vendido por uma mixaria durante uma madrugada fria de dezembro, como foi feito com o Marlon? O moleque é craque, coloca para jogar. Já viu o Rennier no Flamengo? O moleque foi titular contra a gente naquele passeio que você nos ajudou a levar com a escalação mais estapafúrdia do ano.

Talvez você ainda não saiba, mas um rebaixamento será o fim do Fluminense, a maior grife esportiva do Brasil, a mais espetacular história de um clube poliesportivo, Prêmio Nobel do Esporte, berço da Seleção Brasileira, maior celeiro de craques de todo o futebol mundial. Você quer que tudo isso acabe, Marcão? Você vai continuar contribuindo para que isso aconteça?

Então, contra o Ceará, o nosso time titular e esse que eu falei, jogando dessa forma que eu estou indicando. Transforme os atacantes, que são todos jovens e vigorosos, em seus principais marcadores, mas não fazendo papel de assistentes de lateral. É para colocá-los marcando a saída de bola, com a linha de meias compactando e trazendo a última linha para a linha divisória do campo.

Marcão, coloca isso na cabeça. Daqui para frente, em jogo do Fluminense, o Fluminense joga e os adversários correm baratinados, sem saber o que fazer ou a quem marcar, porque o ataque se movimenta freneticamente, ninguém guarda posição. Para piorar, recebe o apoio próximo de Daniel e Ganso, que o cara parou um átimo de segundo para pensar, eles colocam um atacante na cara do gol.

Marcão, é para triturar o Ceará e depois triturar o Vasco. Entendeu Marcão? Estou torcendo por você, mas não se recuse a fazer o óbvio. Jogar como o time do Diniz não é sair tocando a bola lá de trás, até porque a bola porque a bola passará 90 minutos na intermediária adversária. Jogar como o Diniz é dominar o adversário e controlar o jogo, esgotá-lo moralmente, como faz o Flamengo com seus adversários.

Estamos entendidos, Marcão?

***

Aliás, falando em Flamengo, eu acho que a goleada sobre o Grêmio na última quarta-feira foi uma bênção para o futebol brasileiro.

Quantas vezes vimos o Grêmio disputar algo sem nenhuma chance, como foi nessa semifinal de Libertadores, nos últimos dois ou três anos?

O 5 a 0, com aquele passeio em campo, teve o efeito de um avião caindo em cima de uma casa de boneca. A gente avisava que o avião estava caindo e que esmagaria a casa de boneca, mas o pessoal que queria ver a casa de boneca esmagada dizia que o avião não era um avião e que a casa de boneca era fruto da nossa imaginação.

Eu queria que as pessoas se dessem conta de que aquilo que chamamos de espanholização do futebol brasileiro não é algo que se constrói da noite para o dia.

Porque uma coisa é você pegar Real e Barcelona, que já eram os dois principais clubes do país, com estruturas superiores aos adversários, e despejar rios de dinheiro da televisão. Então, a espanholização do futebol espanhol aconteceu rapidamente e os dois ficaram anos e anos se revezando no topo da tabela.

Aqui no Brasil, a proposta era transformar duas grifes de segunda linha em Real e Barcelona. Corinthians e Flamengo não tinham história, tradição nem organização para, de uma hora para outra, se tornarem protagonistas. É só ver que quase todas as conquistas nacionais desses clubes só aconteceram graças a escândalos de arbitragem.

Mesmo assim, os amigos podem observar que o Corinthians foi campeão em 2015, com muito apito amigo, diga-se de passagem, e 2017. Em 2016 e 2018, o Corinthians saiu de cena. Nesses dois anos, o Flamengo foi vice campeão brasileiro, no primeiro deles empatado com o Santos.

Ninguém nas Organizações Globo contava que o Palmeiras fosse aprontar com a Crefisa e deixar o Flamengo no cheirinho. Ninguém esperava que o Cruzeiro fosse se atirar ao abismo das dívidas para montar um elenco fortíssimo, tirando dois títulos da Copa do Brasil dos dissidentes.

Então, a ascensão do Palmeiras e a valentia do Cruzeiro só serviram para maquiar o avanço da espanholização, consolidada no dia em que os dirigentes capachos da Globo assinaram contrato de direito de transmissão até 2024.

O que podemos esperar até 2024 é que Corinthians, Flamengo e Palmeiras disputem os títulos nacionais, com o São Paulo podendo beliscar uma coisa aqui ou ali, que é para não ficar tão sem graça.

Quanto ao Corinthians, podem ficar tranquilo que já, já, aparece um rio de dinheiro por lá, como o que apareceu na Praia do Pinto.

Tudo que está acontecendo no futebol brasileiro foi minuciosamente planejado. Nós vivemos um roteiro que começou a ser escrito lá no final da década de 1970, com a criação da FAF (Frente Ampla pelo Flamengo), que tinha como artífices integrantes das Organizações Globo.

O que acontece a partir de 2012 é apenas o golpe derradeiro nas tradições do futebol brasileiro.

No mundo encantado da Globo, Flamengo e Corinthians são os protagonistas, ao ponto de tornarem-se grandes players internacionais. O São Paulo seria a terceira força, uma espécie de Atlético de Madri. Grêmio, Palmeiras, Cruzeiro, Internacional, Santos, Atlético MG e Vasco seriam os coadjuvantes de luxo. Talvez até conseguissem um título a cada 15 ou 20 anos, só para ter graça.

Botafogo e Fluminense, nesse fantástico mundo da dindinha, seriam os principais alvos, que é para acabar de vez com a ideia de futebol carioca. O Botafogo seguiria a sina que o acompanha desde a criação, mas o Fluminense, não. O Fluminense precisaria ser humilhado intensamente, incansavelmente, impiedosamente.

Afinal, a Globo é Flamengo e, como todo flamenguista, tem um forte ressentimento em relação ao Fluminense. Em sua mania de grandeza, nunca suportaram o gigantismo do Fluminense e, o pior de tudo, que foi o Fluminense ter sempre sido o protagonista no Fla-Flu e campeão carioca do século XX.

A humilhação do final dos anos 1990 aplacou essa revolta, que chegou ao apogeu no fatídico gol de barriga, que acabou nos custando muito caro, sob a pesada botina da CBF, comandada pelo rubro-negro Ricardo Teixeira. Mas veio a Unimed e lá estava o Fluminense novamente no topo. Mas isso também vai nos custar muito caro.

O que está reservado para o Fluminense nessa história é ser espancado, humilhado e pisoteado pelo Flamengo pela eternidade, para o delírio da nassaum, na qual 95% dos cidadãos não tem direito a um lugar na arquibancada ou a um pacote de pay per view, mas engrossam as estatísticas usadas para manipular a opinião pública e justificar o assalto à história e à tradição do futebol brasileiro.

E antes que alguém venha tentar justificar essa indecência com os argumentos fabricados pela mídia, eu recomendo esperar o meu artigo de terça-feira.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

10 Comments

  1. Prezado Savioli- acompanho suas análises há anos. Antes de soltar sua análise de globalização hoje, veja os demonstrativos financeiros da praia do pinto. No ano de 2016 receberam um aporte desproporcional de verba de transmissão- num ano inclusive medíocre deles. Dobraram o faturamento o que lhes permitiu segurar talentos e vender a preço justo. Com dinheiro e um mínimo de organização qualquer um faz um bom trabalho. Abraço

  2. Eu iria com
    Muriel,
    Julião, Frazan, Nino e Orinho
    Caio Henrique, Daniel e Ganso,
    Marcos Paulo, João Pedro e Yoni Gonzalez.

  3. Mais um excelente texto, Savioli. Te acompanho há tempos no O’Tricolor, e em geral suas análises são perfeitas quanto ao extracampo. Dentro das quatro linhas, divergimos um pouco. Faz parte

    Escrevo pra avisar: pra quem comenta, não aparece qual é o limite de caracteres

    ST!

  4. “…..delírio da nassaum, na qual 95% dos cidadãos não tem direito a um lugar na arquibancada ou a um pacote de pay per view, mas engrossam as estatísticas usadas para manipular a opinião pública e justificar o assalto à história e à tradição do futebol brasileiro”. NO ALVO. VERDADE NUA E CRUA E A EMISSORA FAZENDO ESTÓRIA. ST SAVIOLI

  5. Boa Noite Savioli!

    Quero tecer apenas um comentário.
    Perfeita sua colocação quanto a chamada espanholização nestas terras tupiniquim.
    Sou das antigas, do tempo da Máquina e digo que naquela época os dissidentes não eram absolutamente nada. Sua torcida sim já era maior que a nossa, porém a imensa maioria gado de manobra. Mais recentemente, quando da final da Libertadores em que perdemos o primeiro jogo para altitude, um dos jornais da mídia apoiadora deles, tripudiou de nós, e quando…

    1. Aamigos, eu peço por favor para vocês atentarem para o limite de palavras por comentário. É só dividir o comentário em vários, porque eu tenho visto que vários deles ficam pela metade.

      Eu me comprometo a falar com o Andel para ver o que pode ser feito para resolver esse problema, mas vamos tentar fazer isso, por ora, porque eu fico frustrado ao ver os comentários de vocês pela metade.

      ST

      1. A impressão que eu tenho é de que eu fui ao cinema para ver um filme, estou doido para ver o final e, faltando 20 minutos para acabar o filme, a luz acaba. rsrs

        ST

  6. Boa noite, Savioli. O Flamengo pode ter todo este suporte “global” que você falou. Some-se a isso, um presidente banqueiro que transita como ninguém no meio financeiro sórdido do País, burla-se a Lei federal de Licitações 8.666, fecha com a CAIXA (!?) e ocorre a maior transformação do futebol brasileiro (e que ninguém questiona). O Clube se torna padrão de gestão! pára com isso. Nunca se gastou tanto no Flamengo, desde o início deste modelo de responsabilidade financeira (!?). De maior…

  7. Savioli, coincidência ou não, este time citado por você foi aquele que passeou contra o Peñarol (“com as ressalvas de que antes era Pedro no lugar de JP, e que para este jogo de quarta não teremos Allan suspenso”)…
    Espero que o Marcão perceba o quão infeliz está sendo deixando dois dos jogadores mais talentosos do time no banco (JP e Ganso).
    Espero que o Flu se recupere.
    ST.

  8. Savioli, te acompanho bastante desde o portal O’Tricolor (“acho que é assim mesmo que escreve”). Seus textos são sempre muito coerentes, este não é diferente, e já fico ansioso pelo texto de terça.
    Sobre o Marcão, acho um pouco injusto tirar alguma conclusão quanto à capacidade do profissional quanto treinador, uma vez que ele soma só o seu sétimo jogo no comando do nosso Flu, mas me parece que ele meio que tem escalado o time com base em “pedidos” da torcida. Primeiro JP (“acho que pq…

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