Marcão encontrou o mapa da mina (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, o Fluminense é o time que nunca está indo exatamente para onde parece estar indo. Se voltarmos cinco rodadas no tempo, tínhamos um time encostado no G-6 e no G-4, com uma já prolongada invencibilidade no Campeonato Brasileiro, desde, na ocasião, a chegada de Marcão.

Desde então, vimos o Fluminense ser derrotado em casa pelo Fortaleza, empatar, também em casa, com o Atlético GO e ser derrotado pelo Corinthians, indo para no meio da tabela, mais próximo do Z-4 do que do G-6. Sinal de alerta ligado, pois tínhamos, até o final de outubro, uma sequência bem incômoda. O único jogo em casa seria contra a poderosa dissidência. No mais, Athlético PR, Santos e Ceará fora.

A minha análise, na ocasião, após a sequência de maus resultados, se voltava para a parte de baixo da tabela. Dizia eu que o Fluminense precisava terminar outubro o mais distante possível da zona de rebaixamento, para então repensarmos nosso papel na competição, tudo isso levando, obviamente, em conta o desempenho e a evolução da equipe em campo.

Então vem o Fluminense e opera duas vitórias seguidas naqueles que, em tese, seriam os jogos mais difíceis da sequência. É bem verdade que os adversários, Athletico e Dissidência, foram a campo com formações bastante desfiguradas. Assim como é verdade que o Fluminense, apesar das vitórias, esteve longe de apresentar um futebol encantador ou convincente. Fato é, no entanto, que o Fluminense voltou para o seu campeonato natural, que é a briga por uma vaga na fase de grupos da Libertadores.

E eu espero que dessa vez o Fluminense enverede por uma rota definitiva de vitórias e boas exibições, condição para a qual temos as armas necessárias, mesmo nesse momento de escassez no elenco para algumas posições. É claro que, pelo menos nesse momento, estamos com a conta do chá, com as ausências de Ganso, Gabriel Teixeira e Fred, além da saída de Nenê. Apesar disso, tem um momento do Fla-Flu de ontem que é didático, do qual eu falarei a seguir.

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A Dissidência, apesar dos desfalques, não abriu mão de sua forma de jogar e iniciou a partida buscando o ataque, sempre com muita intensidade e povoamento do nosso campo. Conseguiram chegar duas vezes com perigo ao nosso gol já nos primeiros 10 ou 15 minutos de partida, com uma bola batendo no travessão do formidável Marcos Felipe.

A ausência de Nino, apesar da boa atuação de Lucas Claro e, mais uma vez, da grande exibição de David Braz, comprometia nossa saída de bola, com André bastante sobrecarregado, puxando quase todas as nossas jogadas de transição com o custo de ter que se livrar da marcação de vários adversários.

Mesmo assim, o Fluminense logo começou a incomodar e chegar com algum perigo às imediações da meta rubro-negra. O problema é que a ideia de Marcão de atrair o adversário para desarmá-lo e buuscar jogadas de contra-ataque não funcionava. Quando chegava ao ataque, era trabalhando a bola desde a nossa intermediária.

A questão é que Marcão, ao efetivar John Árias como titular, passou a ter um jogador com características mais ofensivas, mas fazendo o mesmo papel defensivo de Nonato. Ao passo que Luis Henrique e Caio Paulista seguiram afundando na linha média de marcação, deixando John Kenedy isolado na frente. Assim sendo, os contragolpes não aconteciam.

O lance do primeiro gol do Fluminense, marcado pelo prodígio John Kenedy, é didático. Tínhamos uma jogada de contra-ataque, que começa com Luís Henrique e passa por Árias, mas a demora na chegada de novas peças para a ação ofensiva acaba dando tempo para a defesa da Dissidência, que estava desmontada, se posicionar. Ocorre, no entanto, que, naquele momento, o Fluminense consegue chegar com números ao ataque. Centralizado, Caio Paulista recebe a bola, se livra do marcador e consegue o toque para André ou Yago, que já se aproximava da zona de criação ofensiva.

Luis Henrique, que estava livre pela esquerda, sem ter sido percebido por Árias, se desloca para a área, atraindo a marcação, enquanto Marlon (boa partida) se lança no corredor lateral e recebe o passe com tempo para pensar, ajeitar o corpo e fazer o cruzamento para o gol de JK.

O gol precoce fez com que o Fluminense dobrasse a aposta numa ideia de jogo arriscada, afundando ainda mais a marcação para jogar nos erros do Flamengo. Não que os erros não acontecessem. O que se vê, durante quase 20 minutos de jogo, é o Fluminense desarmando o adversário em profusão, provocando situações de contra-ataque, mas sempre esbarrando na falta de números no campo de ataque.

Pode-se dizer que o Fluminense desperdiçava grandes oportunidades na origem. Um pouco mais de ousadia, teríamos liquidado o jogo no primeiro tempo, de tão favorável que era o cenário para sairmos nos contagolpes em bloco. No entanto, nossa única jogada de perigo aconteceu, mais uma vez, numa jogada de construção coletiva, em que o genial Luís Henrique invadiu a área e a defesa deles teve que se virar para interceptar o passe já na pequena área.

Falando em Luís Henrique, foi ele também o responsável pela única chance clara de gol da Dissidência, quando tentou dominar uma bola na meia lua da nossa área e deu um presente para o atacante fuzilar Marcos Felipe quase da marca do pênalti. Mas aí, amigas, amigos, era o Marcos Felipe no gol.

O primeiro tempo terminou com o Fluminense acuado e já sem qualquer saída de bola, dando chutões para a frente e devolvendo a bola para o adversário, que esbarrava no nosso forte sistema de marcação e acabava por não conseguir criar nada.

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O Fluminense volta para o segundo tempo com a mesma proposta arriscada, atraindo o adversário para o nosso campo, mas sem conseguir os desarmes de antes, sem conseguir contra-atacar e devolvendo a bola sistematicamente para eles. Ao ponto de incendiar a torcida deles e nos criar um ambiente desfavorável.

Aos 14 minutos de jogo, no entanto, Marcão percebe a arapuca em que estava metido e resolve fazer a substituição que quase nos leva a uma goleada histórica. Percebendo que nosso problema era a entrega total do meio de campo para a Dissidência, Marcão tira Caio Paulista, que nem jogava tão mal, e coloca Martinelli.

O que para muitos poderia parecer uma manobra defensiva foi, na verdade, uma guinada do Fluminense no jogo. Para piorar a situação da dissidência, no lance seguinte Luís Henrique fez grande jogada e cruzou rasteiro, com veneno, para a área, onde encontrou o artilheiro para balançar as malhas dissidentes mais uma vez.

Curiosamente, o Fluminense muda sua postura em campo, adianta as linhas e coloca a Dissidência em apuros. Num lance que poderia ter desencadeado a goleada tricolor, Martinelli se apresenta pela direita, faz grande jogada, JK faz o corta luz e o cruzamento encontra Yago praticamente na marca do pênalti. O arremate não sai com muita precisão e Diego Alves consegue interceptar o chute antes da bola bater na parte de dentro da trave.

Não demorou muito, Renê, que vinha sendo perseguido pela torcida rubro-negra, diminui em um lance vadio na entrada da nossa área. O lateral adversário praticamente dividiu a bola com nosso defensor e acabou acertando uma bomba, que surpreendeu Marcos Felipe.

O gol rubro-negro tocou fogo no Maracanã, incendiando os dois lados da arquibancada. Quem dera fosse esse momento vivido num Fla-Flu de 100 mil presentes!

Aos poucos, Marcão muda todo o nosso ataque e Marlon sai machucado para a entrada de Danilo Barcelos. Entra em cena, então, mais um personagem da noite, estranhamente muito injustiçado no Fluminense. Abel Hernandez substitui o já cansado John Kenedy, grande personagem da jornada, e, aos 40 minutos, com o Fluminense ainda melhor em campo, ganha do zagueiro e executa uma obra prima, mandando a bola no ângulo esquerdo de Diego Alves, sem apelação, decretando a quarta vitória tricolor em Fla-Flus em 2021.

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O jogo de ontem deixa algumas lições claras para a nossa comissão técnica:

– John Kenedy é nosso centroavante titular e Abel Hernández é o centroavante reserva.

– Martinelli não pode ser reserva nem do Fluminense nem de nenhum time do Brasil. Mas é nenhum mesmo!

– Marlon começa a impressionar positivamente.

– David Braz vai se mostrando um líder em campo e uma referência técnica.

– Um time que tem Marcos Felipe, Nino, André, Yago, Martinelli, Luís Henrique e John Kenedy tem obrigação de obter uma vaga na Libertadores de 2022.

– Jogar com as linhas baixas com esse time tem que ser uma alternativa para momentos específicos de jogo e não um paradigma.

– John Árias fez, disparado, a melhor atuação pelo Fluminense.

– Caio Paulista pode ser um ótimo reserva para Luís Henrique.

– Contratações inteligentes e pontuais podem transformar o Fluminense num timaço em 2022.

– Fred e Bobadilla são opções táticas para o banco em situações específicas de jogo.

– Um time intenso e solidário faz com que os atributos técnicos e táticos se evidenciem.

Saudações Tricolores!

1 Comments

  1. Não poderia concordar mais! Só acho que o Arias não jogou tanto assim.
    MF, JK, Martneli, Calegari, Nino, André são craques! LH pode vir a ser.
    Braz, Yago e Marlon estão dando conta do recado.
    Contratações cirúrgicas e subida de mais alguns garotos e teremos time para títulos em 2022.

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