Lição para Ofélias… (por João Leonardo Medeiros)

…Magdas e Baltazares

Minha paciência com a crônica esportiva, profissional e amadora (ou amadora-remunerada e amadora-amadora) realmente se esgotou. Minha paciência com algumas análises de botequim também se esgotou. Minha paciência com os comentários no intervalo dos jogos e mesmo durante os jogos na arquibancada se esgotou. Não aguento mais tanta asneira, tanta gente despreparada, incapaz de interpretar de modo minimamente adequado o mais óbvio dos óbvios. Escrevo as linhas abaixo como um manifesto-desabafo.

Não me refiro aqui ao já inevitável título do Fluminense. Inevitável porque os adversários inteligentemente estão jogando a toalha diante da superioridade incontestável e extraordinária do Fluminense e partindo para a conquista de objetivos sub-ótimos ou para o planejamento da próxima temporada. Refiro-me, na verdade, à lenga-lenga insuportável que usualmente é traduzida numa única sentença estúpida: o Fluminense jogou mal, mas ganhou. Sentença que se desdobra em lamúrias e/ou advertências com um tom sério-crítico patético, totalmente canastrão, geralmente verbalizado como: a arbitragem está ajudando, o time tem sorte, se não fosse o goleiro, blá, blá, blá… argh.

Será que não atinou a nenhum desses comentaristas de plantão que o Fluminense tem como esquema de jogo definido trazer o time adversário para o seu campo, cansá-lo durante um bom tempo e matar o jogo? Será que os rebanhos de Ofélias, as manadas de Magdas, os cardumes de Baltazares da Rocha não perceberam que, tendo um goleiro extraordinário, uma zaga segura, uma boa cabeça de área, bons armadores, um atacante rápido como uma flecha e um centroavante genial, essa é uma boa estratégia? Uma estratégia e não mera casualidade? Será que não lhes passou por instante o pensamento de que o Fluminense corre um risco calculado?

Não sei desenhar, de modo que não poderia ilustrar o argumento de modo acessível às Ofélias, Magdas e Baltazares. Desço, então, à cultura popular para oferecer uma imagem do raciocínio mais acessível a mentes pouco preparadas. Conto com os amigos para didaticamente transmitir a mensagem aos menos favorecidos em termos de massa cinzenta.

Recordo-me um dia que, na crônica de um jogo, fiz uma analogia entre a vitória do Fluminense e o personagem do cinema Rocky Balboa. Não me lembro exatamente que jogo tinha sido, mas a metáfora pretendia retratar o fato de o Fluminense ter sofrido o jogo todo e saído com a vitória ao final. Usava a figura do lutador representado por Stallone, portanto, para descrever uma situação atípica, pois o Fluminense àquela altura jogava com outra estratégia, mais direta, sem mediações. Pensava, sobretudo, nos primeiros filmes da longa e irregular série, na qual Apollo Creed, um grande lutador massacra Rocky, mas é incapaz de vencê-lo por knock-out e acaba derrotado no confronto da revanche.

Meus amigos, tenham neste ponto paciência, pois é possível que vocês já se deparem com os olhos de Ofélias, Magdas e Baltazares brilhando por terem finalmente entendido o que vem se passando neste Brasileirão de 2012. Mas há uma lição final a ser ensinada e, para isso, mantendo a ilustração, é preciso recorrer ao Rocky III, em particular ao confronto entre Rocky e o lutador-armário Clubber Lang, interpretado pelo gigante Mr. T. Pois bem, a diferença entre os confrontos dos dois primeiros filmes com Apollo Creed e o confronto do terceiro com Lang está na estratégia. Rocky não pretendia ser massacrado por Apollo; apenas aconteceu, entre outras razões porque Apollo era um grande campeão. Mas Rocky pôs sua resistência à prova contra Lang, deixando que o negão lhe aplicasse uma tremenda surra. Tendo resistido à surra, Rocky provocou três efeitos sobre o Lang: provou que não podia ser derrubado facilmente, cansou o rival à exaustão e minou sua confiança. Preparado o terreno, com meia dúzia de golpes, Rocky levou Lang à lona, num sensacional knock-out.

Assim é o Fluminense de hoje, meus queridos. Um time tão bom, tão seguro de si, tão confiante em sua defesa e em seu ataque que se atreve a dar campo aos adversários, que se permite deixá-los rondar nossa área e chutar contra livremente contra o nosso goleiro, como se fossem crianças chutando a bola para o papai. A bola não entra, o tempo vai passando, o adversário começa a se irritar, briga com o juiz, a impaciência da torcida (quando jogamos fora, o diferencial de nossa campanha – vejam a tabela) faz-se sentir, as pernas rivais começam a cansar. Aí nosso matador se lança sobre o touro com a espada de prata e, como diria um  de nossos armadores, é créu sobre créu.

Meus queridos, só um time fantástico, histórico, tem tanto sangue frio. O time vem repetindo essa estratégia desde a Libertadores e o Estadual. Ela vem dando certo, claro. Mas ainda tem idiotas que acham que o Fluminense jogou mal todos os jogos em que venceu não agora no Brasileirão, mas no ano todo. Pergunto eu: estou errado em perder a paciência?

João Leonardo Medeiros

Panorama Tricolor/ FluNews

@PanoramaTri

Contato: Vitor Franklin

4 Comments

  1. Mutos me acham radical quando falo dos comentário no jogos do Fluminense e penso que estou muito ligado nas entre linhas e os outros nao percebem mais lendo seu artigo vejo que estou certo e confirmo minha analise, comentarista de futebol na tv é a profissão mais inútil que existe .

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