Ingratidão ou má formação na base tricolor? (por Wagner Victer)

Tenho percebido em muitas redes sociais e grupos tricolores, manifestações de torcedores demonizando, até de forma legítima, jogadores da nossa base que são contratados por clubes adversários e que desprezam suas origens de Xerém. Esse comportamento merece uma devida reflexão quanto às razões.

Casos de jogadores do passado como Roger Flores, Diego Souza e Toró e mais recentes, como Gerson e Pedro, nos coloca diante de um dilema interpretativo: são ingratos ou erramos na formação? Ou seria um pouco de ambos?

Como experiência para essa análise simplificada, tive a oportunidade de conhecer o Gerson ainda antes de subir ao time profissional do Fluminense e, em uma conversa, fiquei bastante chocado como ele desconhecia a história, tradições e conquistas épicas do Fluminense. Não era uma postura isolada, pois o mesmo desconhecimento também já havia observado em outros atletas da base, com quem tive oportunidade de conversar.

A formação de um atleta de um clube não deve se limitar apenas aos treinamentos de táticas, fundamentos e regras de futebol. Sem uma intensa formação de atletas na base em questões sobre a história do clube e suas conquistas, o cultivo do respeito a seus ídolos e até neste processo com a convivência com outros atletas vinculados a história do clube, não é possível se cultivar o orgulho, amor e respeito pelo mesmo. Esse processo é bastante diferente de querer, de maneira artificial e impositiva, transformar o jovem em um torcedor do clube, pois muitas vezes já chegam com influências clubísticas de sua família, sendo até torcedores de outro clube, o que até deve ser respeitado.

Muitos dos jovens de nossa base equivocadamente se condicionam a cultuar atletas de outros clubes, adorar a pauta da mídia, mesmo que essa seja polêmica, a idolatrar jogadores internacionais e, principalmente, ouvir cegamente seus empresários e agentes como sendo Midas para seu gerenciamento de carreira, não compreendendo principalmente a importância do Clube que os acolheu, os formou e os criou como sendo uma referência para a vida e que portanto merece o absoluto respeito. E isso deve ser passado na nossa formação que, infelizmente, pelos fatos recentemente apresentados, tem sido deturpado com o absurdo ético de funcionários de Xerém saindo e rapidamente se transformando em agentes dos próprios jogadores que ajudaram a formar.

O afastamento de práticas formais para cultivar o respeito à instituição formadora não se limita a cultivar o amor e respeito ao clube, mas também a tudo que lhe afaste do glamour do “Grande Jogador”, que atualmente caminha com seus adornos por belos brincos de brilhantes, fones de ouvido, tatuagens vistosas como se esse estereótipo fosse um elemento de alavancagem de sua carreira. Isso fica bastante claro quando a grande maioria de nossos atletas que foram para a Copinha em São Paulo sequer conseguiam fingir balbuciar o Hino Nacional Brasileiro. Esse despreparo foi até observado no último jogo contra o Bangu, quando o jovem Gabriel Capixaba, ao ser entrevistado ao fim da partida onde fez um gol, reconhecer não saber falar em uma entrevista, como se um Mídia Training básico não tivesse sido ofertado a esses jovens.

Tive a oportunidade de, como Secretário de Estado de Educação, levar por nossas equipes um pouco de cultura de cidadania para esses jovens, através de Palestras para o ensino dos princípios e rigores da Lei Maria da Penha, que pode destruir o caminho dos atletas. Nas palestras que fizemos em Xerém e também para outros clubes, víamos um grande interesse dos garotos, mas também era notável a falta de cultura básica e formação familiar. Esse gap formativo se reflete na adequada preparação do atleta, inclusive na forma de como deve se comportar em sua carreira, o que irá certamente definir a sua atitude futura perante o clube formador, que deve ser percebido como parte de sua família, não só durante a sua passagem mas também após a sua saída.

O comportamento esperado de um jogador quando sai de um clube como o Fluminense, bem como na sua admissão em outro, é um tema que deve ser ensinado e orientado aos jovens como sendo um valor de respeito a sua própria carreira e não como apenas um tema de pauta dos agenciadores de carreiras e empresários que, com seus assessores de redes sociais, permitem e incentivam comportamentos desnecessários e desrespeitosos em relação ao seus ex-clubes, em especial aos seus torcedores, com práticas como renegar as origens, fazer postagens com comentários indevidos em redes sociais, beijar o escudo e comemorar gols de maneira efusiva e desrespeitosa contra o clube que os formou.

O erro que esses jovens cometem é notadamente fruto de uma omissão na formação do atleta, pois no momento que tais valores estiverem devidamente integrados na sua formação, eles não vão passar pelo glamour de sentirem prestigiados por uma nova agremiação sem ter a vergonha de renegar o clube que os formou.

Panorama Tricolor

@PamoramaTri

#credibilidade

8 Comments

  1. Discordo de grande parte do seu comentário. Jogador é como qualquer outra pessoa, tem time do coração desde pequeno. Quando eles são captados pelo Flu, já tem a sua preferência por um clube. A única exigência que podemos fazer, é lutar sempre para ganhar, pois exigir que eles torçam para o Flu é falta de bom senso. Não vejo nada de mais, em Gerson, Pedro e outros quererem jogar pelo Fla, qual é o problema? É o clube pelo qual eles torcem. ST

  2. Caro Wagner , concordo plenamente com as sua palavras. Creio que o clube deveria passar um ‘ filme ‘ ou algo do tipo , aos garotos da base , mostrando a eles a grandeza da história tricolor.

  3. Totalmente de acordo. Essa postura de alguns jogadores formados no clube sempre me incomodou bastante e invariavelmente me pergunto, o que o Fluminense ensina sobre a nossa história a esses meninos para receber tanto desprezo e ingratidão ? ST4.

  4. Os garotos não conhecem a história gloriosa do Fluminense e são testemunhas da patifaria que rola em Xerém.

  5. Como sempre muito bem colocado Wagner. Faltou o mais recente exemplo do Pedro no Flamengo. Uma vergonha

  6. Concordo com tudo o que foi colocado, principalmente no que tange aos aspectos comportamentais, sobre o Hino Nacional, etc, mas conhecer a história do Clube não os tornaria mais “fiéis’.
    A busca pela riqueza no futebol é a verdadeira e única mola mestra que os incentiva (impulso familiar) desde novos….Talvez um trabalho com a família desses meninos, ainda qdo bem novos os fariam ter olhos mais aguçados quanto às investidas dos “agentes futebolísticos”, e principalmente entender o que…

  7. Wagner,

    Ora de forma explicita ora não. Mas o conceito que Xerém é fábrica e Laranjeiras é loja se não do princípio há tempos permeia a nossa divisão de base. Não podemos ser levianos e disparar acusações até mesmo porque aos olhos do coração qualquer julgamento fica deturpado. Mas os resultados insistem corroborar com as nossas teses. Antes de Xerém maior vencedor da Copa São de Juniores, depois de Xerém sobram justificativas que títulos não são a finalidade da formação. Não éramos vencer…

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