Império da mediocridade (por Lennon Pereira)

IMPÉRIO
Peço desculpas aqui aos meus queridos leitores pela excessiva objetividade futebolística com que redigi minha ultima crônica. A vida estava um turbilhão de emoções e compromissos se amontoando. Como detesto não cumprir qualquer que seja minha obrigação, apesar da benevolência de meu editor, que me liberou do compromisso semana passada, não quis deixa-los na mão e por isso me utilizei do recurso da objetividade, e como é raro fazer, analisei única e exclusivamente o aspecto futebolístico da rodada do brasileirão. Fazendo agora essa assunção de culpa, voltarei hoje ao velho estilo que tento defender esse cantinho semanal que me foi confiado.O tema a ser abordado começou a surgir após assistir aos primeiros jogos do brasileirão 2013 e materializou-se de vez, após participar como ouvinte de um processo seletivo comandado pelo RH da empresa na qual trabalho. Ao ser convidado para analisar os currículos dos candidatos a um cargo de nível superior, fiquei extremamente empolgado e animado.Eram todos candidatos com anos de experiência, um ou dois títulos de MBA e experiências em empresas conhecidas.

Imaginei eu que participaria de um processo de alto nível e que seria uma árdua tarefa escolher apenas um entre tantos bons perfis profissionais.

Começamos o processo apresentando a empresa e a vaga disponível e em seguida solicitamos que os candidatos fizessem uma breve redação, se apresentando pessoal e profissionalmente.

Vinte longos minutos se passaram até que todos terminassem seus textos. Peguei as redações e me retirei da sala, enquanto o RH fazia os demais testes. Li com atenção todas elas e retornei para o momento em que cada um se apresentaria verbalmente e contaria um pouco de sua vida e suas experiências.

As oratórias confirmaram o que a frieza das redações insinuava. Dificuldade em concatenar ideias, em seguir uma linha lógica de raciocínio e dificuldade em ser claro e objetivo. As redações não haviam mentido. Erros básicos de português. Frases mal formuladas e orações sem pé nem cabeça. Um dos candidatos chegou a fazer uma redação em tópicos, no melhor estilo power point.

Nesse momento eu entendi o motivo de nossos dirigentes de futebol as vezes contratarem tremendas “bombas” tidos como craques e revelações. Currículos são como os DVDs que os empresários usam. Falam friamente sobre os pseudos melhores momentos de cada um, engole quem quer. Se buscarmos algo além da superfície, o resultado muitas vezes é catastrófico.

Cursos em instituições renomadas, assim como passagens por clubes renomados, não são garantia de qualidade.

Pior no mundo real do que no futebol. O que vejo hoje são instituições a torto e a direito, cursos e mais cursos. Muita quantidade e pouca qualidade. De que adianta termos 70% ou 80% da população com nível superior, se por trás desses diplomas temos indivíduos semianalfabetos, ou analfabetos funcionais? Cidadãos sem nenhum senso crítico, que tem como espelho da vida a novela das nove e o reality show apresentado por Pedro Bial?

Espero melhores dias para nosso futebol, que tem hoje uma seleção que não ganha de ninguém, e que carrega medalhões improdutivos como o pseudo craque Neymar. Sim, pseudo craque, pois para mim, craque é aquele que com a camisa amarela, faz chover, desequilibra e é decisivo. Já vi muitos assim. Ronaldo, Romário, Pelé, Rivelino, Garrincha (esse em vídeo tape), entre outros. Caras que com a amarelinha faziam os outros tremerem, ao invés de tremer.

Espero também dias melhores para nossa nação, com menos heróis e ídolos saindo do Big Brother ou das capas das revistas de fofoca, e mais heróis saindo das boas universidades e das academias de ciências e de letras e menos das academias de ginástica.

Acho que nosso país precisa de menos massa siliconada e muscular, e mais massa cinzenta.

E que voltemos ao tempo da medição por qualidade e não quantidade.

Para não passar em branco, Fluzão 100% e mamãe apresentando melhoras.

Boas férias ao meu querido editor, e para meus leitores até breve, durante a ausência do meu mestre, fiquei com a honrosa incumbência de produzir uma crônica a mais para ocupar o enorme espaço que sua ausência causará!

S.T.

Lennon Pereira

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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3 Comments

  1. é isso aí Jorge. Falou tudo. A Copa deve ser novamente de decepção como em 50. e a venda de Nem, é melhor eu “nem” comentar…

  2. Caro Lennon Pereira (poderia ser a introdução de uma carta ao John Lennon, quisera)
    A sua narrativa da experiência da seleção de RH não me surpreende. A educação insuficiente e deformada do nosso povo explica muito bem a nossa ineficiência e incapacidade de reverter o histórico drama de pobreza (material e intelectual) da nossa pátria. Naturalmente o reflexo dessa educação de baixo nível se reflete também no futebol, onde vemos dirigentes desqualificados e sem visão estratégica. Esse mal assola todos os clubes brasileiros e lhes impõe um afastamento abissal do primeiro mundo da bola. Recentemente vi na Europa como os clubes estão bem organizados e como faturam com suas marcas, tornadas poderosas e consumidas por toda a população fanática ou não por futebol. É um negócio altamente lucrativo e que promove países inteiros. Enquanto isso nossos clubes andam de pires na mão, vendendo jogadores como a única forma de arrecadar algum trocado, como faz neste momento o nosso Flu, que vende o Nem por míseros 8 milhões de euros, peanuts para os turcos.
    Paradoxalmente, mesmo com esse atraso intelectual conseguimos ser pentacampeões e chamados de país do futebol. Pena que isso já não seja mais uma verdade e justamente nas portas da Copa no Brasil. Do jeito que nossa seleção está parece que vamos fazer a festa e quem vai se divertir serão os convidados.

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