Idiocracia (por João Leonardo Medeiros)

João Leonardo

Peter Siemsen pensa que somos todos idiotas. Será que ele acha que a gente esqueceu que Mario Bittencourt era até agora o candidato da situação, o nome dele mesmo, Siemsen, para a presidência? Será que ele acha que a gente não sabe que Bittencourt foi colocado no comando do futebol com a esperança de que teríamos um trabalho comprometido com o clube, vitorioso primeiro no campo e depois nas urnas? Será que ele acha que a gente não percebeu que o departamento de futebol do clube foi usado desde o início como trampolim para a campanha de Bittencourt?

A gente não esqueceu nada disso. Também não esquecemos que a dupla Bittencourt-Simone contratou uma dezena de jogadores no ano passado com base num tal scout. Por scout, leia-se: Francis Melo e Eduardo Uram. Cliquem nos sites dos respectivos empresários, ou seja, www.brazilsoccer.com.br e www.francismelo.com.br, vejam a lista de atletas (clientes) e conheçam um pouco de nossa história secreta. Ontem, hoje e sempre, lá estão eles, controlando um percentual expressivo da folha salarial do clube. Vejam a lista de jogadores que estiveram no plantel só nos últimos dois anos: Antônio Carlos (EU), Guilherme Santos (EU), Lucas Gomes (EU), João Filipe (EU), Henrique francês (EU), Wellington Carvalho (EU), Diego Souza (EU), Cícero (EU), Fred (FM), Jonathan (FM), Gerson (FM), Higor Leite (FM), Danielzinho (FM), Eduardo (FM), sem contar Vinícius, que brigou com Francis Melo na saída do Flu, e o treinador Enderson Moreira (FM). Se pegarmos a lista desde 2005, é de estarrecer.

Em 2015, com a saída da Unimed, o Fluminense gastou com força. Não faltou dinheiro. Renovaram com as estrelas do período Unimed, algumas já decadentes – sem condições de render no tempo acordado do contrato –, trouxeram cerca de quinze jogadores, muitos com contratos longos, a maioria rendendo muito mal no lugar de onde veio. Só faltava dinheiro para contratar uma boa comissão técnica. Nessa hora, o aparelho ideológico da situação entrava em campo gozando os críticos: querem contratar o Guardiola, não sabem da realidade financeira, não veem a necessidade de controlar finanças. Vão pro inferno: se não tivessem contratado Ronaldo Gaúcho, Osvaldo, Pierre, Magno Alves, Antônio Carlos, Wellington Paulista e Jonathan (todos inúteis para o clube), quem sabe até o Guardiola aceitasse a proposta do Flu com a grana correspondente, apenas para ter uma experiência no clube mais tradicional do Brasil.

A questão da comissão técnica é paradigmática: precisavam de uma marionete. Isso porque nada podia sair errado no plano de projetar a candidatura Bittencourt. O esperado bom resultado do futebol não podia ser o produto da ação de excelentes técnico e preparadores físicos, mas sim da genial orientação do guru que comandava o futebol. Aos fraquíssimos técnicos que “comandaram” o time, coitados, impuseram jogadores péssimos, um esquema de jogo inflexível, uma pré-temporada festiva, uma rotina de treinos ridícula, a submissão às estrelas do elenco.

Deu merda, com o perdão da palavra. O segundo semestre de 2015 deveria ter provocado a queda de Bittencourt, até para salvar sua candidatura. Não provocou. Em lugar disso, Siemsen resolveu assumir a formação do elenco ele mesmo, já fritando publicamente Bittencourt. Não foi ele quem trouxe pessoalmente Henrique? Não foi ele quem mandou embora Biro-Biro, sendo que a gente procurava um jogador para a posição? Diego Souza não precisava de ajuda, porque é jogador de Uram, logo era só dizer que precisava passar um tempo aqui no spa tricolor. É cedo para avaliar a renovação do elenco, mas certo é que Siemsen participou ativamente do processo. Só achando mesmo que a gente é idiota para apresentar-se, agora, surpreso com o volume de gastos.

Mas não é só Siemsen que acha que a gente é idiota. A Flusócio, por exemplo, também. Se vocês acompanham seu blog, sabem disso. Em outros tempos, a Flusócio corretamente lascou lenha em dirigentes (Jackson Vasconcelos), diretores de futebol (Rodrigo Caetano) e em departamentos inteiros do clube (Marketing). No entanto, durante todo o período Bittencourt, as pesadas críticas ao futebol do time (concordo) sempre pouparam seu nome, até o fim. Culpou a oposição, os treinadores, os jogadores, a imprensa, a torcida (até a soberana, acreditem), mas jamais o vice de futebol e seu fiel escudeiro.

Quando começa assim, o que vem depois é o cinismo. Em exemplo: recentemente, lançaram um post comentando a situação de Jonathan, que nem joga, nem deixa o clube. Numa curta síntese, o post dizia que estranhava a situação. O principal grupo político da situação não sabe o que acontece no clube? A Flusócio não sabe que Jonathan é jogador de Francis Melo, um dos dois que têm despejado o peso morto do seu portfolio de clientes nas Laranjeiras? É claro que sabe, mas está nos tomando por idiotas.

Celso Barros também nos julga uns otários. Ele acha que a gente não sabe que, com a grana que a Unimed botou no clube durante 15 anos, poderíamos ter contratado melhor, feito elencos melhores, ganho mais títulos, construído um CT e um estádio. Será que ele não sabe que a dupla gerência Horcades-Barros arrasou as finanças do clube, criou um período de contingência absoluta (muito bem enfrentado por Siemsen, diga-se de passagem) e quase nos transformou num Botafogo? Ademais, ele pensa que a gente não sabe que ele faliu a própria Unimed-Rio. Se você tivesse uma empresa, contrataria Barros para gerenciá-la, depois de ele ter quebrado a última empresa que comandou? Gosta dele? Leva para casa e coloca para administrar a sua poupança.

Como disse na última coluna, no Fluminense atual só se salva a torcida. Por enquanto, ela optou pela resignação. Simplesmente deixou de aparecer no estádio e agora nem mais sócio-torcedor vai pagar, porque só um otário paga uma grana para não obter nada em retorno. Os dirigentes nem um estádio prepararam nos últimos sete anos para a gente ver o time jogar na cidade do Rio em 2016 (será que foram surpreendidos pelos Jogos Olímpicos?). Como a gente não pode ir ao jogo, a grana do sócio-torcedor – hoje o maior patrocínio do clube –, deveria servir para contratar jogadores melhores. É isso que está acontecendo?

Há certamente uma forma de reverter esse quadro pavoroso que cerca o ano e a próxima eleição. Parem de nos considerar estúpidos, todos vocês que participam do comando do clube ou o almejam, incluindo seus apoiadores ideológicos na mídia e nos blogs. Vocês não lideram uma idiocracia.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: jlm/pra

5 Comments

  1. Hola tricolores,
    Parabéns, texto lúcido e representativo, deve chegar a quem de direito, não pode ficar apenas no conhecimento dos torcedores.
    ST

  2. Aplausos!!!

    É a síntese de todos os que pensam por conta própria.

    As vezes beirando a incoerência (no meu caso) de ver em Frederico um peso morto, mas uma possível “solução” caso repense seu jeito de jogar (menos fixo na frente em busca de artilharias).

    Só rindo de mim mesmo por acreditar que é só questão de alguém colocar ordem na casa , digo no time.

    ST

  3. Perfeito texto.

    Se nada mudar, o Flu terá um ano muito ruim, com possível rebaixamento no brasileirão.

    Dúvida: se Mário e Celso são candidatos ruins, quem deverá ser o Presidente do Flu de maneira a trazer-nos títulos ao mesmo tempo em que as dívidas financeiras continuem sendo solucionadas?

    1. Vamos aguardar o lançamento das candidaturas, no momento está difícil não votar em branco.

      ST

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