Hoje, ontem e sempre (por paulo-roberto andel)

maracanã final de 2008 oleo

HOJE

Sem Vinicius, mas com a volta de Fred, o Fluminense luta para consolidar sua posição no G4 do Brasileirão. Descontadas as hipérboles e os arroubos a respeito, o fato é que num campeonato bastante parelho, sem nenhuma equipe brilhante e ainda com longa disputa à frente, o Tricolor pode brigar acima das expectativas de muitos torcedores como eu, outrora satisfeitos com a chamada campanha digna mencionada inclusive pelo mandatário do clube.

Antes do início da rodada de ontem, sete pontos separavam o líder, Sport (19), do 11º colocado, Palmeiras (12), sinal claro de equilíbrio. Um ou dois tropeços consecutivos, tudo muda. Futebol é um estalar de dedos. Não se pode vacilar.

Ultimamente tenho ficado mais empolgado para ver muitos jogos dos times brasileiros, inclusive os que claramente não vão disputar nada além da fuga da zona de rebaixamento. Um dos que mais tinha me agradado no começo, não pela pontuação, mas pelas partidas em si era justamente o Santos. Mas aconteceu que a campanha degringolou e, agora, sem Robinho as coisas tendem a ficar mais difíceis. De toda forma, o Fluminense deve ter seus cuidados para logo mais. A favor, a torcida empolgada e em bom número, além da boa fase recente em termos de pontuação.

A garra demonstrada no segundo tempo da vitória de virada sobre o Goiás é um indicador de ânimo e confiança. No esporte, tão importante quanto ter recursos é acreditar no que se faz. No Brasileiro, temos exemplos fartos de times modestos que, bem preparados, fizeram grandes campanhas nas edições de pontos corridos. Até aqui, o Flu só destoou contra o Atlético Mineiro, um dos brigadores. Passou a ter um treinador, a equipe ficou mais combativa, compacta, a performance melhorou. Está longe do ideal, mas parece ser o suficiente para bons sonhos. Lembrando sempre: futebol é momento, a vírgula de hoje é o hiato de amanhã. Mas tudo tem seu tempo, uma coisa de cada vez e vamos em frente.

Uma boa vitória hoje à noite é mais um passo para a consolidação de um ano bem mais satisfatório do que os de 2014 e, principalmente, 2013. Embora seja ponto pacífico que, em diversas oportunidades, a dirigência tricolor troque as mãos pelos pés (e, em efeito cascata, os aspones de plantão), é inegável reconhecer certa articulação (bônus e dividendos à parte…) principalmente depois do ano passado, quando acabou o amor da então eterna investidora do clube. Ao contrário do que tanto queriam muitos rivais, incluindo os parajornalistas, a saída da Unimed não significou a extinção do Fluminense – por favor, não caiamos no discurso em prol de “tricolores apaixonados”, verdadeiro sinal de negócios à vista – TODOS somos apaixonados – ou quase. Longe disso, muito longe. Ora, se não acabou em 1999 e em 2008, por que ocorreria aqui? Nenhum sentido.

Que o Fluminense do gramado consiga repetir a dedicação demonstrada domingo passado no estádio Serra Dourada. A torcida tricolor merece uma grande apresentação em campo – a parte dela é sempre feita nas arquibancadas.

HÁ SETE ANOS

Em 2008, o futebol brasileiro realizou a maior festa de sua história num estádio, que não foi sequer igualada pelas partidas da Copa do Mundo de 2014.

Era o Fluminense em campo, em desvantagem, lutando pelo título da Copa Libertadores da América, que acabou não vindo.

Em geral, os torcedores de futebol tendem a demonizar tudo que não seja título. Aqui expresso minha modesta condição de membro da exceção.

Afinal, como deixar de lado a lembrança de um ano em que tiramos do caminho os multicampeões São Paulo e Boca Juniors? As partidas fenomenais. A imponente goleada de 6 a 0 sobre o Arsenal – a maior da história da competição entre times do Brasil e da Argentina. Golaços de Dodô, Washington e Conca durante o certame.

Foram momentos mágicos que não culminaram num final feliz. Entretanto, é injusto que sejam apagados.

Se a Libertadores não veio para o Fluminense, um completo azar dela. Um dia virá. E será um título muito comemorado, mas apenas mais um dentre os inúmeros que o clube já dispõe.

Desde aquele dia do insucesso nos tiros penais, desafiamos o impossível, fomos à lona, nos recuperamos, ganhamos grandes títulos, afirmamos nosso nome no continente e estamos aí. A atual tabela do campeonato não nos deixa mentir.

Títulos e conquistas são praxe em todos os grandes times brasileiros. O Fluminense não fica atrás de nenhum deles. A coisa muda de figura quando conseguimos ser gigantes demais mesmo quando o triunfo não vem. As derrotas e lutas de 2008 e 2009 explicam muito de 2010 e 2012.

Vergonha não é ser vice-campeão internacional numa disputa de pênaltis, mas sim subornar para se salvar em qualquer campeonato.

Fazer a história é bem mais do que “apenas” ser campeão, com toda a contradição possível.

É natural que alguns adversários vibrem com a conquista da LDU. Perto do que fizemos de 2008 para cá, se eles tentassem argumentar seriam ridicularizados.

Naquele dia da final, o Tricolor não foi o campeão da América. Mas não precisou disso para ser o mais amado, o mais vibrante, o idolatrado, o exemplo supremo da tradição de nosso melhor futebol.

Conseguiu a façanha de sair vitorioso sem o título.

E assim tem continuado em sua longa jornada a desafiar definições, paradigmas, preconceitos e manchetes putrefatas de tão manipuladas. É cômodo e simples ser gigante nas vitórias. O difícil é ser monumental nas derrotas.

Ou “O Fluminense não nasceu para ser unanimidade nem massa de manobra do interesse demagógico das elites opressoras. O Fluminense nasceu para atravessar a harmonia do bloco dos contentes. Nasceu para incomodar o senso comum. Essa é a nossa sina”.

Quem sabe?

PARABÉNS

Aos bombeiros pelo seu dia. Ninguém os chama para coisa pequena; é sempre uma tremenda roubada. Encaram as piores coisas todo dia e salvam vidas.

Os que dignificam o nome da corporação merecem supremo respeito.

SOBRE O DEPUTADO

Quando um parlamentar segue à risca o discurso da Flapress, ainda que de modo indireto, está configurada a imagem do idiota “cordial”, que em nome de sua idiotice agride o próximo sem razão.

O deputado Paulo Pimenta poderia ter usado um exemplo mais razoável. Comparar o Fluminense com Eduardo Cunha é, no mínimo, a sandice de quem é totalmente ignorante em termos da realidade histórica do futebol contemporâneo.

Com mínima leitura, Pimenta poderia ter lembrado de nomes mais afinados com a dialética Cunha, tais como Marín, Del Nero e Kleber Leite, este com os bens bloqueados desde ontem, em vez de malversar o nome do Fluminense.

A única coisa certa desse episódio é que o deputado entende tanto dos acontecimentos do futebol brasileiro quanto uma pedra, um tijolo ou um kiwi.

Ou seja: nada.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: pra

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4 Comments

  1. Paulão, primorosas as colocações sobre 02/julho e trajetória até ali. Irretocável, e sempre emocionante, para o bem e para o mal, lembrar de tudo aquilo. Obrigado pela companhia nas jornadas tricolores há 30 anos!

  2. Prezado
    Lendo sua crônica hj, me lembrei da minha maior tristeza no futebol em 63 anos de vida, que hj fazem 7 anos e não consigo esqueça-la. Engraçado é que consigo me lembrar de lances que vi ao vivo no antigo maracanã, desde o primeiro gol do FLUZÃO que vi na vida (Valdo partida final contra o Botafogo em 1959) mas não me lembro de nenhum gol ou lance daquela fatídica noite, mas tenho certeza que ainda verei o nosso FLUZÃO, conquistar esta taça que escorregou lentamente de nossas mãos.
    ST

  3. Mais uma crônica divina. Também não esqueço desta data. Que pelo menos hoje nosso time nos dê uma amenizada com uma vitoria hoje.

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