Há muito mais em jogo, caros amigos (por Paulo-Roberto Andel)

Logo mais tem uma partida. Mais uma de uma turnê que nunca termina, feito a de Bob Dylan. Não que vá mudar muito a temporada, porque não vai mesmo, mas é importante a vitória para o Fluminense. Sempre deveria ser, mas vivemos tempos, digamos, sombrios.

Acabou de começar a quarta-feira e penso que tem Fluminense por todo lugar. Quem pode acreditar que a torcida se resume à internet? A conta não bate. Então temos mais de um milhão de tricolores fora desse processo.

Penso em alguns tipos admiráveis.

O garotinho de uns oito ou nove anos com sua caixa de doces perto da Central, com sua camisa tricolor poída, tão menino e já lutando tanto, sonhando com grandes gols mais tarde, sonhando em ser jogador um dia e fazer gola pelo Fluminense, mesmo que isso pareça quase impossível.

Seu Getúlio, vigia de um prédio na Tijuca, que não coloca TV na portaria de jeito nenhum por motivos perversos. Já preparou as pilhas do radinho para escutar o jogo lá longe, longe. Ele é tricolor desde os tempos de Denílson e Marco Antônio.

Paulinho, office boy há muitos anos, conseguiu sobreviver empregado em plena pandemia. É um sujeito de sorte. Mora em Queimados, faz uma longa viagem de trem todo dia e conta as horas para o fim do expediente. Vai correr pra casa, tomar um banho, preparar a janta, descansar um pouco e colar a vista na televisão, porque o Fluminense é seu combustível.

Falei de três casos. Podiam ser trinta mil. As histórias se repetem com personagens diferentes, e todas elas têm o Flu como um objeto de amor identificado, num escudinho colado numa porta de vidro, na traseira de um carro ou num botão de panelinha perdido numa velha caixa de brinquedos. Numa bola de borracha. Numa fotografia. Talvez num telhado de zinco. Na parede de um barraco. No muro carcomido de uma casa abandonada de um bairro respeitável. E daí?

Tem esperança, desejo, fé. Tem vontade de ser campeão, que faz falta. Tem a memória dos pais, avós, irmãos, gente que vai e vem porque, no fim das contas, o Brasil é uma república federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus.

Sites? Blogs? Picocelebridades? Já pararam para pensar que, em todos os rincões do Brasil tem alguém que gosta do Fluminense? Tanta gente, tanta coisa, tanto ir e vir na vida?

Já se deram conta de que o futebol vai muito além de intensidade, flutuação, assistências, marcação dobrada e outras pérolas? Há muito mais em jogo, caros amigos.

1 Comments

  1. Vi uma notícia que o pessoal da globo considera o Flu azarão. Nem dá pra zangar. A síndrome de Robin Hood existe. Varios pontos preciosos se perderam assim. Espero que hoje seja diferente. ST…

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