Há 110 anos, nascia um gigante. Há 42, um amor (por Marcus Vinicius Caldeira)

 

Em 21 de julho de 1902, Oscar Cox e um grupo de aficcionados pelo embrionário esporte criado na Inglaterra – onde os atletas chutavam uma bola – conhecido como “football” fundaram no Rio de Janeiro um clube dedicado para a prática deste esporte e o chamaram de Fluminense Football Club. Até este dia, o esporte mais popular da cidade era o remo. Era! Por que depois desse dia tudo iria mudar na Cidade Maravilhosa e no Brasil em termos de esporte. O Fluminense foi a gênese do futebol no Rio e um dos maiores responsáveis por este esporte ter virado esta paixão no Brasil! Somos a história do futebol neste país.

A história deste gigante chamado Fluminense, todo mundo sabe. Mas, o que ninguém sabe é que no primeiro dia de setembro de 1970, eu nascia e, comigo, uma história de amor à primeira vista por este clube fantástico. Não tenho dúvidas de que virei tricolor no primeiro dia de vida. Eu explico. Nasci numa maternidade localizada no Boulevard 28 de Setembro, no bairro boêmio e musical de Vila Isabel. Filho de mãe tricolor e pai vascaíno. Mas, o incrível é que a obstetra que me ajudou a chegar ao mundo era tricolor e me deu para minha mãe um escudo do Tricolor a ser bordado em uma camisa minha. Provavelmente aquele escudo e aquelas cores impressionaram o recém-nascido. E não venham me dizer que crianças não enxergam cores, pois as cores do Fluminense até um cego é capaz de enxergar. Portanto, sou tricolor desde o primeiro dia de vida.

As minhas primeiras lembranças tricolores são os recortes de jornais e revistas sobre Rivelino e a Máquina Tricolor, colados nas paredes do quarto de minha tia numa casa no subúrbio do Rio de Janeiro. Minha tia amada e infelizmente, já falecida, contribuiu muito por eu ser apaixonado pelo tricolor. Ela era!

Em 1980, comemoro meu primeiro título. Não que o Fluminense não ganhasse títulos antes. Desde que nasci, o Tricolor já tinha sido campeão brasileiro e quatro vezes campeão carioca (o título mais festejado no Brasil àquela época). Mas eu era muito pequeno. Em 80, não. Já ouvia jogos pelo radinho de pilha. E lembro-me bem daquela final. Estava fazendo a primeira comunhão na igreja Sagrados Corações, na Tijuca. Um amiguinho do prédio em que eu morava levou um radinho para a igreja e, pasmem!, ficou ouvindo o jogo. Não existiam fones de ouvido naquela época. Imaginem a cena. A festa pela comunhão rolava e eu ouvindo o jogo com ele. Na igreja.

Ainda sobre este jogo, lembro-me que o gol saiu quando entrei no carro do meu avô para irmos embora para casa e que tanto eu e meu amigo descemos para o playground com a camisa do Fluminense – lógico, para celebrarmos a conquista.

Em 1984, outra passagem marcante de minha vida enquanto tricolor. O Fluminense iria decidir com o Vasco o campeonato brasileiro daquele ano. Meu pai viajara para o exterior. Perturbei meu avô, que morava perto do Maracanã, para me levar ao jogo. Ele decidiu de última hora e, coitado, partiu com duas crianças (eu e meu irmão rubro negro) para o estádio. Mais de cento e quarenta mil no antigo maior do mundo. Lembro-me do périplo que foi para comprar ingresso e entrar no estádio. Quando chegamos nas arquibancadas não havia mais lugares. O jeito foi acomodar eu e meu irmão (um com 13 e outro com 12) na grade do Maracanã. Isso mesmo, ficamos sentados no chão de frente para a grade e com os pés para fora da arquibancada. Bons tempos aqueles daquela bagunça no estádio. E o Flu conquistou seu segundo título brasileiro, que agradeço até hoje ao meu falecido avozinho por ter me proporcionado aqueles momentos maravilhosos da final daquele ano.

Em 1985, veio a consagração de uma pré-adolescência de plena realização com seu time. Garotos como eu que, de 83 a 85, tinham por volta de 13 ou 14 anos, eram plenamente felizes com o time campeão do Fluminense. O time era tricampeão carioca (o maior campeonato do Brasil à época, insisto) e campeão brasileiro. A meninada tinha muito orgulho do time que torcia.

Bem, daquela final, lembro-me que fui de cadeira cativa com dois amigos do prédio. Naquele ano nós começávamos a ir ao estádio sozinhos. Tínhamos por volta de 14 ou 15 anos. Do jogo me vem a recordação do golaço do Paulinho, da confusão ao final e que só soube que o jogo acabara quando armaram um palco para a festa, no gramado. Lembro-me também de uma cena inusitada na saída do Maraca. Um negão de 2 metros por 2 metros, torcedor do Bangu, chorava copiosamente. Parecia uma criança. Acho que ali tive a exata noção do quanto a paixão de um time abalava as estruturas de um torcedor.

Depois, vieram muitos jogos memoráveis, títulos, ídolos, a tenebrosa década de 90, só salva pelo gol de barriga do Renato, a reconstrução do clube, e os dias de hoje. Quis ater-me só a fase que eu era moleque, pois com certeza esta é fase mais gostosa de nossas vidas e é nesta fase que a paixão pelo clube se solidifica.

Neste dia em que o Fluminense completa 110 anos de existência, me vem a certeza de que fiz a escolha certa. Nasci para ser Fluminense. Não seria feliz sendo torcedor de qualquer outro clube. Tinha que ser torcedor do clube de Laranjeiras. O Fluminense, um clube de elite que virou popular e que gerou o clube mais popular do Brasil. O Fluminense, criador do futebol no Rio. De tantos craques. De tantas conquistas. E que contribuiu muito para o esporte olímpico brasileiro. O Fluminense que domina o meu coração desde sempre.

Hoje à noite, estarei no baile de gala do aniversário, no salão nobre do clube, para celebrar este dia. E tenho certeza que em um determinado momento, tomando meu uísquezinho naquele salão espetacular, catatônito, olharei para o nada e exclamarei: “É muito bom ser tricolor!”

Parabéns, gigante!

E muito obrigado por você existir!

Marcus Vinicius Caldeira

@mvinicaldeira

Visite também http://tricolordecoracao.blogspot.com

3 Comments

  1. Marcus,

    Parabéns de sempre.

    Obrigado por tudo.

    “Eu estou feliz/ porque eu também sou/ da tua companhia/ Salve Jorge!” (Jorge Benjor).

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