Não à guerra no futebol (por Claudia Barros)

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Em tempos de guerra real, violenta, inexplicável e inalcançável para seres comuns que pouco querem da vida além de viver em paz e com saúde, o futebol promove sua faceta mais interessante: gera sonho e alegria.

Como já reconhecido por jornais brasileiros e estrangeiros, o Fluminense é o melhor time do planeta, até aqui, em 2022.

Mas o planeta está em guerra. Seja por conta de um vírus pandêmico agressivo e letal; seja pela violência de ações neonazistas mundo afora, inclusive no Brasil; seja pela ofensiva russa sobre a Ucrânia; seja por atos diversos e atormentados de violência cotidiana que assolam a sociedade humana; seja por ações específicas relacionadas ao futebol.

Futebol é cultura. Cultura é toda forma de agir de um povo. Paz e guerra também são formas de agir, portanto são ações construídas e forjadas, como qualquer outro aspecto cultural. Assim, construir o futebol em ambiente hostil, onde se enxerga no outro um inimigo potencial é uma opção que muitas pessoas adotaram na vida.

Não falo aqui da chacota, da brincadeira, da galhofa muito presente no mundo do futebol. Brinco, e muito, com os vários amigos e amigas que torcem para times que não o meu. Acho divertidíssimo. Isso nos une, nos aproxima, mantém relações saudáveis, duradouras e divertidas.

Quando falo de hostilidade, refiro-me a agressão, ódio, desejo de abater o oponente, estupidez e violência.
A relação entre torcidas, no Brasil e em parte do mundo, parte ínfima das torcidas quero crer, tem se acirrado nos últimos anos com agressões mútuas e sandices repetidas. Foi assim em várias situações nas últimas semanas.

Foi assim quando o ônibus que levava a equipe do Bahia para o jogo contra o Sampaio Corrêa, pela Copa do Nordeste, foi alvejado por uma bomba que atingiu e feriu de forma grave o goleiro Danilo Fernandes. Era 23 de fevereiro.

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Foi assim no dia 26 de fevereiro quando o ônibus que levava o Grêmio para o Grenal no Beira Rio foi atacado por pedras. O jogador gremista Villasanti foi atingido no rosto e precisou ser internado após o ocorrido.

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Foi assim, também, no jogo entre Paraná Clube e União Beltrão, pelo campeonato paranaense, quando a torcida do Paraná invadiu o campo para agredir jogadores. Parecia uma batalha campal.

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Foi assim, recentemente, no México. No jogo entre Atlas e Querétaro, pelo Campeonato Mexicano, torcedores de ambos os clubes protagonizaram uma batalha como há muito não se via no ambiente esportivo. Cenas grotescas e lamentáveis correram o globo.

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Intolerância absoluta. Uma cultura de guerra em expansão. O planeta está em guerra, só não enxerga quem não quer enxergar.

Somos uma espécie violenta, mas também somos uma espécie que sabe construir a paz. Somos a única espécie viva, até onde se sabe, que produz e transmite cultura. Se isso é verdade, é possível construir e disseminar a cultura da paz entre os povos e, por conseguinte, no futebol.

Assim, em meio a tanta barra pesada, essa semana o Fluminense protagonizou momentos únicos.

Num Nilton Santos com mais de 30 mil torcedores, construiu o placar de 3 a 1 na competição cuja conquista é uma obsessão da torcida: a Libertadores. Foi o primeiro jogo contra o Olímpia. Falta o jogo de volta, no Paraguai, no próximo 16 de março.

Na noite do dia 9 de março, o Fluminense mexeu com as emoções nos seus três gols. Mérito de Cano e Luiz Henrique.

O Tricolor também mexeu com emoções por demérito do goleiro Fábio, que dentro da própria área cruzou uma bola na frente do adversário. Inacreditável e indigerível. Mas, perdoado pela torcida que entendeu se tratar de uma fatalidade profissional, o mesmo Fábio defendeu três bolas difíceis e decisivas para o placar final.

Essa que vos escreve, numa noite com a sensibilidade em alta, foi às lágrimas em todos os gols tricolores. Sabe-se lá por qual motivo. Mas foi assim.
Nenhum momento, contudo, foi tão único quanto o baile oferecido por Luiz Henrique. Um, dois, três dribles e um chute certeiro na única diagonal possível para que a bola entrasse. Sensacional, lindo, emocionante, digno de placa. Abel correu e vibrou na lateral do campo.

Foram momentos de alegria e paz. O Fluminense protagonizou uma noite de paz. O nosso sorriso foi aberto como o do Luiz Henrique. Lindo sorriso!
Em tempos de guerra, o Fluminense promove alegria e reacende um sonho.
Por tudo isso, não posso chamar o encontro no Defensores Del Chaco de guerra. Não posso reforçar esse espírito. Vou chamar o encontro de “noite da classificação tricolor”.
E vou reverenciar, por anos, o baile de Luiz Henrique, a flecha tricolor, como assim o chama o nosso querido Panorâmico Mauro Jácome.

Vou sonhar, ter alegria e paz a cada novo dia com o tricolor rumo ao topo da Libertadores.

Em nenhuma esfera social cabe violência. Paz é cultura e cultura se constrói, assim como se constrói tolerância, educação, parcimônia, mudança de perspectiva geracional. Não há tolerância para animosidade entre os diferentes, não há espaço para relativização da cultura da guerra.

E por falar em alegria, neste sábado, 12 de março, pela já conquistada Taça Guanabara, o Flu enfrentou o Boavista. Diverti-me ao ver a escalação possível. Animei-me demais ao ver jogadores jovens com oportunidade de iniciar ou confirmar no time principal o que nós já sabemos: o Flu é uma máquina de produzir bailadores da bola. Estavam relacionados jogadores como Cipriano, Marcos Pedro, Jhonny, Cauã, Marcelo.

Nomes novos para a maioria da torcida tricolor. Era dia de olhar com parcimônia e alegria para a garotada que ia ao baile. O Flu, como representante do futebol, era e é capaz de produzir paz em tempos de guerra.

Mas, quis Abel mandar à campo um arremedo de time, com jogadores abaixo da média. Acho que sou a única pessoa que ainda botava alguma fé em Caio Paulista, pelo simples fato de ter simpatia por ele. Caiu por terra qualquer esperança. Não parece haver posição possível para ele no time do Fluminense.

Abel perdeu feio para a capacidade de vitória.

1 Comments

  1. O Fluminense além do futebol em campo, sempre teve papel importante na transformação da sociedade. Parece que a atual gestão (que já dura mais ou menos 10 anos, apenas trocando nomes), esqueceu deste fato.
    A luta contra o racismo, homofobia, misoginia, e qualquer outra ideologia perigosa deveria ser bandeira deste clube. O Fluminense tem essa obrigação com a sua própria história.

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