Gotham City (por Paulo-Roberto Andel)

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“Aos quinze anos eu nasci em Gotham City/ Era um céu alaranjado em Gotham City/ Caçavam bruxas no telhado em Gotham City/ no dia da independência nacional”

Então tudo pareceu turvo e sombrio, mas faz algum sentido? Vamos hoje em busca de uma vitória desafiadora de paradigmas, assim como tantas outras que abrigamos em nosso currículo. É claro que não será fácil. Nunca o é. Vivemos o encanto das dificuldades desde que a nossa camisa foi forjada. Lembremos a glória de Barthô em 1912. Ou Sérgio Britto, menino, nas arquibancadas do Fla-Flu da Lagoa em 1941. Ou o maravilhoso Presidente Horta: vencer ou vencer. Não temos saída, não temos outras alternativas, para chegar ao topo mais do que nunca precisamos vencer. Eis o que nos encanta e oxigena. Do outro lado, um pré-campeão. Mas quem disse que os pré-campeões transformam-se nos campeões reais sempre?

Pensemos em Deco com o carinho, o respeito e a admiração com que tem defendido nossas cores. Ainda é cedo para culpas e acusações. Não, não precisamos caçar bruxas em telhado algum.

Seremos luta, desejo e suor em Volta Redonda. Não há como pensar o contrário ou o nulo. Precisamos vencer o Botafogo duas vezes, nem que seja por um décimo a zero. É o clássico de mais de cem anos. Tão certo quanto será a dificuldade é também a nossa chance. Estamos aqui porque sonhamos e queremos isso muito. O Botafogo é favorito e superior. Façamos a nossa parte.

“No céu de Gotham City/ há um sinal/ sistema elétrico nervoso/ contra o mal/ meu amor não dorme/ meu amor não sonha/ não se fala mais de amor/ em Gotham City”

Nossos corações perfeitos e juntos num fogo de conselho. Noite de quarta e tarde de hoje. Eles pulsam e rugem. Jovens leões nas arquibancadas, senhores tensos em frente à televisão, lindas garotas roendo unhas. Nossos corações perfeitos vociferam pelo desejo das conquistas.

Não, o amor não sonha porque ele é uma realidade irrefutável. Está escrito em nossas veias, nosso sentimento, o tesão lancinante para que logo comece um grande jogo e uma grande disputa. Quando chegarmos à quarta-feira, já teremos sabido o que nos resta. Haja o que houver, só a vitória nos redime, só o triunfo nos atiça e nos mantém vivos no sonho intenso da Libertadores. Como não pensar nela? Mulher amada e distante, mas, ao mesmo tempo, tão perto.

Seremos corações perfeitos e retumbantes. Num instante, seremos imortais. Intocável é também saber que aqui estamos e estaremos. O Fluminense não é para amadores: seus torcedores são profissionais da paixão.

“Só serei livre/ se sair de Gotham City/ agora eu vivo o que vivo/ em Gotham City/ mas vou fugir com meu amor/ de Gotham City/ a saída é a porta principal”

Estamos em Gotham City. Tudo parece turvo, distante e perdido. Todos comemoram o que ainda não ganharam de nós. Como explicar isso? Não importa. Hoje à tarde teremos uma grande decisão, quarta-feira também. Vencer ou vencer é sempre o nosso lema. Como não acreditar? Nós não devemos nada a ninguém. Nós não temos que pagar coisa alguma. O que nos cabe é trabalhar mais uma vez para desafiar e derrotar o tradicional impossível, mesmo que saibamos dele se tratar apenas de farsa.

A saída é a porta principal. Depois dela, uma longa estrada. Estamos tão vivos que não há qualquer tempo a perder.

Sobre “Gotham City” (Macalé e Capinam, 1969)

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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