Cumpridos 66.66% dos objetivos traçados para o ano, só posso chegar à conclusão de que o time do Fluminense é bom pra ca…ramba. O título veio com três rodadas de antecedência, mas com seis, já o tinham como o virtual campeão. Essa conclusão é correta?
Os números são acachapantes (palavra feinha, mas precisa): maior pontuação (óbvio), menor número de derrotas (no final, pode, no máximo, ficar empatado com o Atlético, mas convenhamos…), gols pró (mais uma vez, o Galo está colado com um a menos), gols contra (com o Grêmio pertinho), aproveitamento de 70,4%, artilheiro (dificilmente o Fred perde essa condição), 5 na seleção do campeonato e o melhor jogador (Cavalieri, Carlinhos, Jean, Fred, Abel; FRED), blá, blá, blá…
Já até cansei um pouco de tanta veneração. Não estou acostumado. Geralmente, querem arrumar vários “poréns”. Em 2010, tentaram depreciar, forjando uma “verdade” de que o Fluminense somente ganhou porque Palmeiras e São Paulo entregaram. Neste ano, aquela historinha besta de CBFlu quase colou, mas os tais números deixaram os bobos sem corte, exceto quem ainda está com o nariz vermelho.
Deixando esse nhém-nhém-nhém e o blá-blá-blá de lado, quero chegar num questionamento: a torcida do Fluminense é sensata, muito crítica, exigente demais ou, no bom sentido, chata?
Por que pergunto isso? Porque, com todos esses números, passamos 2012 irritando-nos, aborrecendo-nos e xingando-os. Vejam bem:
Bruno foi contestado em todos os campeonatos que disputou. Considerado o pior em campo em, pelo menos, 99% dos jogos, só era esquecido quando o Diguinho entrava. É quase unânime a necessidade da contratação de outro jogador para a posição. De preferência, titular.
Leandro Euzébio e Digão, quase sempre, foram responsabilizados pelas falhas da defesa. Salvo alguma pixotada do Gum, o zagueiro que jogou pela esquerda pagou o pato.
Carlinhos, considerado o melhor lateral do Campeonato Carioca e do Brasileiro e com algumas convocações pelo ex-assistente técnico da Seleção, deu sorte de existir um fosso entre o campo e as arquibancadas do Engenhão. O apelido “Soneca” diz tudo.
Carleto teve no gol contra o Boca o seu único momento de glória perante a torcida. No resto, dava até saudade do Carlinhos. A notícia de que será devolvido ao São Paulo foi recebida com alívio.
A proeza do Edinho foi perder a posição de pior do time para Bruno e Diguinho. Então… Não há um único tricolor que não sonhe com outro jogador para a posição.
Com relação ao Diguinho, precisa falar algo mais?
Deco conseguiu mudar seu conceito de chupa-sangue para craque que requer tratamento diferenciado. Mesmo assim, a torcida tem reservas e, por isso, não está no mesmo patamar de Cavalieri e Fred. Dá um pouco de azar (ou seria algo para se estudar e achar uma solução?) de se machucar sempre nos momentos decisivos. Foi assim na Libertadores, foi assim no Brasileiro.
Wagner conheceu o inferno, o céu e o departamento médico. Tudo em onze meses. Pelo menos, alterou seu status de jogador-caro-irritante-inútil para reserva-titular da posição de Deco. Inegavelmente, foi um tremendo avanço.
Thiago Neves, talvez, seja um dos mais criticados; passou de criticado-local para criticado-nacional devido às seguidas convocações para a finada Seleção-do-Mano. A “importância tática” não desce.
Sóbis é extremamente criticado pela característica “Lombardi”: todo mundo sabe que existe, mas ninguém vê. De vez em quando, arranca aplausos da torcida pelos chutes sobrenaturais.
Wallace, Marcos Júnior e Samuel são agraciados com a paciência natural dispensada a qualquer garoto da base, mas, depois de várias tentativas, a torcida já começou a ficar ressabiada. O último teve um início de muitos muxoxos, mas alguns gols importantes o transformaram em combustível para colocar fogo em jogos complicados.
Se tem alguém nesse time que mais sofre com as críticas, esse atende por Abel. Em 2012, deve bater ser o seu recorde pessoal de contestações. Até a ratificação do título, raríssimo que alguém não fizesse ressalvas pelo modo de jogar do time e pelas substituições que o comandante fazia. Mais uma vez os números obrigaram que dessem algum valor ao “Seu Barriga”.
Se por um lado os números galgaram Abel ao posto de melhor técnico do campeonato, a inexistência de futebol bonito impediu que fosse cantado em verso e prosa. Mas o que é futebol bonito? Esse é um dos conceitos mais volúveis com o passar do tempo. O futebol bonito nos anos 50,60 e, início dos anos 70 era um. Era sinônimo de futebol-arte. Depois da Copa de 74, a Holanda e a Alemanha fincaram um novo paradigma: o futebol-força. Então, o futebol-bonito passou a ser caso isolado. Nos nossos anos atuais, a plástica do futebol saiu de característica de um time como um todo para de um ou outro jogador: Neymar, Deco, Lucas, Ganso, Ganso, Lucas, Deco, Neymar, Neymar, Deco… Chegamos ao desespero, quanto à qualidade do jogo-jogado, que passamos a confundir futebol não defensivo (não-retranca), ou seja, mais ofensivo com futebol bonito. Não necessariamente, né?
Números, números, números. Juntando-os dá para personificá-los e transformá-los num ser de carne e osso, tamanha a importância para a quebra do costume de achincalharem o Fluminense. Talvez, em grau de relevância para o nosso sucesso, tenhamos em primeiro plano: Peter, Celso Barros, Rodrigo Caetano, Marcelo Teixeira, Sandrão, Abel, Cavalieri, Fred e os Números. Levando-se em conta que, em tudo, a ciência evolui, talvez, os números sejam o sucessor natural do futebol-bonito e, este, esteja, cada vez mais, reservado aos DVD’s e Youtube.
Da saraivada de críticas, da avalanche de reclamações, salvaram-se: Cavalieri (conseguiu limpar seu nome do SERASA-FFC, depois de quase um ano), Gum (mais ou menos. Voltou mal depois da contusão, mas fechou o ano com “Honras ao Mérito”, mesmo depois daquele lance contra o São Paulo), Valência (não sei se foi porque ficou o ano todo machucado), Jean (com louvor. É uma unanimidade desde que entrou no time), Wellington Nem (joia maior de Xerém neste elenco) e, por fim, o Fred de depois daquele episódio dos caipisaquês.
Enfim, com todos esses “problemas”, de perna-de-pau a futebol feio, fico me perguntando: como conseguimos um ano assim?
(*) Pitágoras foi um filósofo e matemático grego. Seus discípulos fundaram uma escola de pensamento denominada Pitagórica. Segundo o pitagorismo, a essência, que é o princípio fundamental que forma todas as coisas, é o número. Os pitagóricos não distinguem forma, lei e substância, considerando o número o elo entre estes elementos. (Wikipedia)
Mauro Jácome
Panorama Tricolor/ FluNews
@PanoramaTri
Contato: Vitor Big Four Franklin
Revisão prévia: Rosa Jácome
Colaboração: Bruna Jácome
Ah, esqueci:
TETRA-CAMPEÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!
Desde que comecei a ler as colunas do Mauro, não páro de me perguntar porque ele ainda está trabalhando com Informática e não no lugar daqueles inúteis das redes transmissoras dos jogos que se dizem (e se auto-intitularam) comentaristas de futebol. Mauro deveria estar no mínimo escrevendo as colunas dos principais jornais esportivos do Brasil, no MÍNIMO.
Obrigado, Luciano.
parabéns, e eu desde o começo falei q o flu era o melhor elenco do brasil e grande candidato ao titulo, cumpriu-se… meu maridinho ta ai pra nao me deixar mentir………………..
É verdade você falou mesmo. Só discordo de uma coisa do Abel: de que não precisa de zagueiro. Precisa de um para jogar ao lado do Gum.
ST**** Mauro
Após um texto seu exatíssimo quanto à minha opinião e um não menos ótimo comentário do Waldir, permita-me apenas acrescentar que a excelência dos números do tetracampeão face uma realidade não convincente pertence aos mistérios cultuados pelos pitagóricos.
Obrigado, Xará!
Mauro, bom dia, muito lúcido teu texto, comungo da preocupação com reforços em posições-chave do time, como um substituto à altura para Deco, que acho que dificilmente aguenta outra temporada, mesmo em ritmo cambaleante, Bruno realmente teve uma temporada inteira para acertar um cruzamento e Digão, mais até que Leandro Euzébio, é bastante limitado. Penso apenas que quanto à 1974, o destaque da Copa foi a implantação do futebol predominantemente tático, o rodízio holandês que contava com Cruyff, Neskens, Rep e Rensembrink foi o que quase ganhou a Copa, perdendo na final para o futebol misto de força e técnica apurada, com Zepp Mayer, Gerd Muller, Breitner, Overath e Beckembauer, daí para frente futebol-tático e futebol-força passaram hora um hora outro a predominar, com pequenos lampejos de futebol-arte, capitaneados sempre por Brasil e Argentina. Bom, isso já é outra história… Saudações tetra-tricolores, Waldir Barbosa Junior.
Obrigado, Waldir. Gostaria de ver o Montillo nesse time e um zagueiro titular. Vindo dois assim, até dá para aguentar o Bruno, Edinho e Carlinhos.