Francisco Horta, eterno presidente do Fluminense (por Paulo-Roberto Andel)

No dia em que completa 86 anos, Francisco Horta merece todas as reverências como o mais emblemático presidente da história do Fluminense, o que não é pouca coisa.

Visionário, carismático, empolgante, o eterno presidente tricolor é falado, cantado, decantado e também criticado quase meio século depois de assumir a presidência do Tricolor. Num país em que, a cada quinze anos, os brasileiros se esquecem do que aconteceu nos últimos anos, máxima do mestre Ivan Lessa, permanecer no imaginário das pessoas é uma façanha e tanto. Não que a gloriosa vida de Francisco Horta, muito bem descrita no PANORAMA por Wagner Victer, se limitasse ao clube de coração, mas é inegável dizer que se trata da sua face mais conhecida e admirada.

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Não faz sentido repetir tudo o que já foi dito e escrito sobre O Maquinista, mas nunca é demais lembrar pequenos pontos que fazem entender toda a grandiosidade.

Hoje em dia, ou melhor, antes da interdição das arquibancadas, os torcedores se esgoelavam para que mais gente fosse ao Maracanã ver o Flu. Com Horta, tivemos a maior média de público da nossa história, mais de 40 mil pagantes por jogo e num tempo em que a maioria das partidas era disputada contra as equipes de menor investimento. É pouco dizer que isso era apenas fruto do não televisionamento: as pessoas iam era para ver os craques de perto, o sonho, a Máquina.

Na metade dos anos 1970, os pais carregavam seus filhos com todo orgulho para a arquibancada tricolor, enquanto os filhos se apaixonavam pela magia lúdica da imensa nuvem de pó de arroz, somada a um time inesquecível em campo. As crianças passaram a perseguir o Fluminense para sempre, levando a mesma paixão para os filhos e netos.

Apelidado de Maquinista, Horta pode ser comparado ao maravilhoso Lawrence Ferlinghetti, vivo hoje aos 101 anos de idade, colossal poeta que, com sua City Lights Books, deu vida a clássicos da literatura beat. Ou a Rudy Van Helder, que produziu excepcionais álbuns de jazz nos anos 1950, 60 e 70. Ou a Aloysio de Oliveira, que fez o mesmo, só que em discos sensacionais da música brasileira. Quem sabe um Sergio Britto, ator fantástico, tricolor de coração, que também empreendeu maravilhosas peças de teatro no Brasil? Talvez a melhor definição seja cinema: Horta foi um diretor de cinema e fez um filme inesquecível, mesmo que com imperfeições que fazem parte da vida. Arte.

A Máquina Tricolor faz parte da literatura e da história do futebol brasileiro, num mesmo Olimpo do qual fazem parte o Expresso da Vitória, a Academia, o Inter daqueles mesmos anos 1970, o Cruzeiro dos 1960, o São Paulo dos 1990, o inesquecível Santos e outros. São equipes que não são medidas por suas conquistas ou pela comparação entre elas, mas pelo impacto emocional e afetivo que despertam para sempre. Reparem que, apesar de ter nomes astronômicos como os de Carlos Alberto Torres, Paulo Cezar Caju e Roberto Rivellino, quando se fala daquela época o que se pensa é o conjunto – a Máquina é um coletivo.

O Fluminense tem uma dívida grave com Horta, que precisa ser sanada o mais rapidamente possível: seu título de benemérito pelos serviços prestados ao clube, ao país e ao mundo. Ainda que tardio, tal reconhecimento se faz necessário. As desculpas de dívidas não cabem mais: basta olhar o que aconteceu de 1977 para cá e, salvo alguns grandes momentos que tivemos, os outros não foram capazes de igualar aquele tempo inesquecível, que fez do Fluminense o time mais respeitado do mundo, que O Maquinista montou sem precisar dar dois treinos. Imagine se tivesse a Unimed na mão…

Vida longa a Francisco Horta. Da parte deste cronista, basta uma sentença: cada escritor tem o presidente que merece.

Fotos: reprodução/Erica Matos

Panorama Tricolor

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#credibilidade

1 Comments

  1. Parabéns ao Presidente mais ilustre do Brasil, o futebol tem muito a agradecer ao Horta. Se o Flu com a máquina encantou é porquê o “maquinista” era um excelente condutor e de uma nobreza impar. E se a máquina apesar de ganhar os cariocas 75/76, não ganhou os campeonatos brasileiros, fica a máxima. “Azar do campeonato brasileiro”.
    Felicidades ao Francisco Horta, e obrigado por alegrar milhares de tricolores, e aqueles que gostam do bom futebol. Minha mãe, hoje com 82 anos, vibrou muito com…

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