Foco e paz (por Felipe Fleury)

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Embora possa não parecer, eu gosto tanto de futebol quanto de política. São assuntos que, invariavelmente, ocupam parcela considerável das minhas elucubrações diárias. Mas tanto um quanto outro eu trato de forma reservada. Futebol, só com tricolores e, política, apenas com a minha consciência ou com um ou outro que me procure reservadamente.
 
Digo a política, “política”, aquela que, gostemos ou não, vivenciamos no dia a dia e que, desde sempre, nos causa, com ou sem razão, enorme abjeção. Tramoias, negociatas, esquemas obscuros, corrupção, falsidades e outras manifestações nefastas que, justa ou injustamente, estão indissociavelmente relacionados aos políticos e às suas atividades.
 
Eu acreditava, porém, que essa “política rasteira” jamais pudesse se misturar ao futebol, ao ambiente clubístico e às suas disputas eleitorais, uma vez que as eleições, em regra, e especificamente em relação ao Fluminense, sempre foram restritas aos seus sócios-proprietários/contribuintes, o que significava um quadro bastante restrito de eleitores.
 
As campanhas, assim, se desenvolviam de forma “mais ou menos” harmônicas, oportunidade em que as intrigas, as acusações levianas ou mesmo as fundamentadas, restringiam-se às discussões nas áreas sociais do clube sem maiores repercussões extramuros.
 
Ocorre, contudo, que as próximas eleições presidenciais do Fluminense ocorrerão daqui a aproximadamente um ano e dela poderão participar, por disposição contratual e estatutária, mais de vinte mil sócios, incluindo-se, aí, os da categoria sócio-torcedor.
 
Essa expansão abrupta do número de eleitores trouxe duas consequências imediatas: democratizou o processo eleitoral, proporcionando ao torcedor “comum” (leia-se aquele que não era sócio-proprietário ou contribuinte do clube) a oportunidade de decidir os rumos do Fluminense, mas, por outro lado, trouxe aquilo que há de pior na política cotidiana para a disputa eleitoral, potencializado pela utilização das redes sociais.
 
Com um colégio de eleitores que ultrapassa o de muitas cidades no Brasil, situação e oposição precisam mostrar serviço. Talvez por isso, a disputa eleitoral já esteja em plena efervescência há meses. E o pontapé inicial coube ao nosso atual presidente, que deixou clara a sua predileção pelo atual vice de futebol, Mario Bittencourt, para substituí-lo em 2016.
 
Transformou-o, de um dia para o outro, de advogado do clube em vice de futebol. Seria como, por exemplo, um prefeito que desejasse fazer o seu sucessor, o indicasse para a secretaria de obras do Município. Com tratores e asfalto muitos votos são conquistados.
 
Pois foi exatamente isso o que o presidente fez, deu a Mario asfalto, tratores e tudo o mais para que, como vice de futebol, mostrasse ao eleitor que poderia ser tão brilhante quanto o é como advogado.
 
Acontece que o asfaltamento esburacou rapidamente e os planos de mostrar Mario Bittencourt como candidato imbatível à sucessão presidencial mostraram-se precipitados e irresponsáveis.
 
Crises, desmandos e outras turbulências foram a tônica da gestão do atual vice de futebol, situações que interferiram diretamente no desempenho do time dentro de campo.
 
O Fluminense tornou-se, então, campo fértil para que parte da oposição pudesse trazer à tona deslizes administrativos e criticar, construtivamente ou não, com razão ou não, os desmandos da atual administração.
 
Transmudaram-se, assim, todas aquelas práticas nefastas para o ambiente eleitoral do clube. A máquina administrativa trabalhando a todo o vapor pelo seu candidato e, parte da oposição, torcendo para o “quanto pior melhor”.
 
Ninguém pode antecipar quem levará a melhor nessa disputa, mas o que se pode dizer, de antemão, é que as disputas internas pelo poder no clube trazem ao futebol os reflexos das mazelas dessa guerra política, interferindo direta e negativamente nos resultados nas quatro linhas. A queda repentina de rendimento e o despencar de uma vice-liderança à disputa para não fazer parte da zona de rebaixamento é o exemplo mais recente e mais claro disso.
 
Se alguém auferirá frutos nas urnas dessa derrocada tricolor nos últimos anos, também não se pode prever. Há que se considerar, no entanto, que o Fluminense tem boas chances de angariar mais um título nacional daqui a poucas partidas e, independentemente do que a conquista ou não dessa competição possa acarretar em termos políticos, é preciso que situação e oposição estejam imbuídas de que o importante neste momento (e deveria sê-lo em todos os outros também) é o Fluminense.
 
Menos vaidade à situação, mais consciência à parcela da oposição é tudo de que o Fluminense precisa para seguir adiante o seu caminho rumo à conquista de mais uma competição nacional e à tão sonhada vaga na Libertadores de 2016.
 
Todos somos testemunhas de quanto as intercorrências políticas prejudicaram o desempenho tricolor nos últimos anos e ninguém, que se arvore verdadeiramente tricolor, deseja que esses conflitos internos prossigam atrapalhando os rumos do Fluminense.
 
O momento, portanto, é de foco na Copa do Brasil e de paz interna, nem que essa paz seja, na verdade, apenas uma trégua, porque o interesse maior sempre deverá ser o do Fluminense.

Panorama Tricolor

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