Fluminense 1 x 1 Ponte (por Paulo-Roberto Andel)

fiel

As cores

Depois de um longo e tenebroso inverno – onde nem sabíamos se, um dia, o Maracanã voltaria -, o Fluminense voltou a uma tarde no seu habitat natural – sol de outubro, corações esperançosos e mentes pensativas a respeito do que realmente nos espera.

Havia um céu diferente. O sol firme não brilhava tanto. Era um indício da próxima parada.

Belas como sempre, as nossas cores cintilaram as arquibancadas. Desta vez, felizmente, todos unidos em torno da nossa causa comum – o Fluminense, sua gente, sua história escrita nas arquibancadas – e não de esgueira em pequenos corredores do clube, como querem alguns pascácios. A torcida cantou, apoiou e teve uma paciência colossal.

Belas como sempre as nossas garotas. As Ises, as Julianas, as Marinas, as Laris. Nosso pequeno grande universo.

O drama

Não pretendo aqui falar de conjunto, brilho tático, beleza técnica. O Fluminense desta tarde que passou está despido de tais vestes. Houve, isto sim, vontade e aplicação, às vezes vista em erros como as bolas viradas que saíram direto pelas laterias, fruto de excesso de força e vontade brigando por vezes com a perícia escassa.

Fizemos um primeiro tempo digno e brigado. Não fosse o rol de permanentes problemas como desfalques, falta de conjunto e da ligação no meio-campo – onde Eduardo não teve sucesso -, afora a falta de finalizações – a bola na frente da área e um dizendo para o outro “Deixo que você chuta!” -, poderíamos ter melhor sorte. Um ou dois chutes nossos passaram perto das traves do goleiro Roberto. A Ponte teve seus pequenos momentos também.

Depois do intervalo, o drama vestiu preto. Cavalieri foi o monstro de sempre, evitando dois gols feitos, mas teve azar no chute de Ratão que bateu em suas costas e entrou. Rafinha não teve o brilho de antes. Bruno foi Bruno. O garoto Biro-Biro fez o que pôde, tem futuro mas precisa aprimorar chutes a gol. Luxemburgo fez as tentativas ao mexer, uma delas certamente em vão: Fábio Braga não será o novo Pintinho, estando mais para Alaércio. As jogadas apareceram mas não se traduziram Noutras vezes, a bola queimava no pé – uma garotada em campo, os veteranos nervosos.

Começamos a segunda etapa com média pressão – e falo média não pelo volume mas sim pelo percentual de finalizações em relação ao tempo de bola dominada no ataque. Foi assim até a metade da segunda etapa. Humilde, a Ponte resolveu ousar – foi quando aconteceram as finalizações defendidas por nosso goleiro e, com o cheiro do sangue, o gol de Ratão.

O Maracanã esboçou um silêncio de mil lutos, mas só por minutos. A força que nunca seca mostrou-se viva. Já que não conseguíamos chutar com real perigo a gol, o destino escalou Sacomani para marcá-lo: contra. Explodimos em êxtase seco: perder teria sido um desastre, um ponto diante das circunstâncias é pequeno bálsamo mas foi inevitável sentir a frustração. O Fluminense hoje só depende de si mesmo para evitar o pior, mas não pode perder pontos em casa. Hoje, mais dois fora. Não se pode errar mais. Hora do limite.

Sobre a arbitragem, segue o padrão brasileiro de qualidade: lixo abundante para moscas varejeiras.

A volta

Encontrei Bolt num ponto de ônibus, como se fosse aquele em que éramos estudantes da UERJ com um Brasil, um mundo e uma vida à frente. Conversamos sobre a dor do momento, as angústias tricolores, as estatísticas, a previsão de pontos e até mesmo sobre a burrice humana de alguns velhos conhecidos – isso fica para outro episódio. Dois torcedores tristes com a situação do time que lhes nutre o coração.

Pensei em ir ao Largo do Machado comer uma esfiha de consolação, mas a necessidade de escrever a crõnica falou mais alto e mudei os rumos. Despedimo-nos à Riachuelo, ele seguiu, eu fiquei noutro coração – o da cidade.

Agora é recolher cacos, fazer contas, torcer para os outros, torcer dobrado pelo nosso, torcer desesperadamente para que tudo dê certo dentro e fora do campo – o mau momento não deve servir para que as Laranjeiras sejam novamente dominadas pelas outras moscas varejeiras do casuísmo. Contas hoje, contas amanhã. Sina tricolor: inferno e céu.

A matemática e a estatística que nos são oxigênio.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

6 Comments

  1. Andel, foi um prazer o papo, como de hábito. Aliás, as duas melhores coisas do jogo de ontem foram a ida e a volta. Parabéns pela coluna.

    Grande abraço

  2. Caro Andel, conheço seus trabalhos, pois tenho seus livros. Aliás, minha biblioteca do Fluminense é bem vasta, inclusive com livros de 1951, que encontrei em um sebo. Bem, não disse que temos que parar de torcer, muito ao contrário! Só acho que a nossa realidade é dura, principalmente pelo nosso time, que considero péssimo, mas não nego que luta, e muito. Acho que vc está certíssimo em passar para seus leitores esta postura otimista, coisa que eu não conseguiria, ainda mais depois de hj…

    1. Andrei

      1) Para fazer espírito derrotista, a FlaPre$$ e parte da própria torcida (com a tese de “quanto pior, melhor”), cumprem esse papel bem melhor do que eu;

      2) Agradeço a oportunidade de ter um lugarzinho na tua respeitável biblioteca; contudo, tendo meus livros, você só poderia conhecer parte dele – a menor, aliás, bem menor. O grosso da produção encontra-se no OTRASPALABRAS.

      Grato.

  3. Admiro seu otimismo, mas não podemos ser cegos: nosso time é fraquíssimo, e ocupa a posição na tabela que lhe cabe, fruto da total ausência de qualidade. A diretoria, tão elogiada, acabou com o nosso elenco, e se omite em um momento crucial. Torçamos contra os outros, pois se dependermos de nosso time, acho que o pior pode acontecer. Fui ao Maraca, como vc, e no final do jogo percebi a torcida não apenas irritada, mas já cabisbaixa, o que me preocupa mais ainda. Espero q venha o melhor em 2014…

    1. Andrei,

      Caso você tenha interesse em conhecer meu trabalho literário, provavelmente poderá saborear o otimismo que tanto menciona nas diversas vezes em que me prestigia: nele, estão contidos os alicerces que fundaram este site e me permitiram estar aqui. E este mesmo trabalho nasceu quando publiquei crônicas em agosto de 2009 afirmando que o Fluminense não cairia de jeito nenhum. Com talento, garra, muita sorte e uma aura incrível, todos nós conseguimos nos safar e chegamos até aqui. Perdi a conta de quantos companheiros nossos como você disseram o mesmo, com o seguinte complemento: “Admiro seu otimismo, mas você está louco”. O tempo disse o que tinha de dizer.

      Não precisa ser cego para deixar de se ver os problemas. Eles são muitos. Eu mesmo os relato, vide acima, para olhares apurados. O que mais tem no PANORAMA em todas as suas mídias é o apontamento delas, mas isso não nos traz o “êxtase da derrota” (grande achado de Cacá Diegues).

      Mas se não é o caso de torcer, então para que se perder tempo indo aos jogos, acreditar e percorrer todos os caminhos de um torcedor? Não faria sentido. nada contra quem preza o lado Black Sabbath da questão, apenas não me pauto por ele.

      Acontece que a maturidade tende a suavizar os faniquitos – ainda mais no meu caso, que nunca fui chegado a eles. Como um homem à beira dos cinquenta anos, não cheguei até aqui para ser um derrotista.

      Assim como você esteve lá hoje, eu também estive, do mesmo jeito que nos tempos de Alaércio, Joel Cavalo, Toninho El Biblico e Fanta, talvez como você também.

      Como escritor, eu fujo da obviedade. Isso se faz presente no meu trabalho literário convencional e de futebol.

      Para sermos pré-rebaixados, a FlaPre$$ já faz bem esse tipo de papel. Ele não me interessa.

      Não deixei de acreditar nem nos dias mais pavorosos da nossa história. O dia que desistir, já estarei morto.

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