Fluminense, 1.299 vezes por aqui (por Paulo-Roberto Andel)

À VENDA NO SEBO X. WHATSAPP 21 99634-8756. INSTAGRAM @seboxis.

Acabou setembro. Faz frio. As ruas andam vazias porque as pessoas não têm emprego nem dinheiro. Há muita fome e miséria, há muito ódio e rancor. Não há como negar: o futebol, longe de ser perfeito, é uma espécie de cânfora para aliviar as pancadas da vida.

Tem sido assim para mim desde pequeno. O futebol me ajudou nestes 50 anos. Quantas e quantas vezes ele foi a minha única alegria ou momento de alívio? Muitas, incontáveis, minha e de todo mundo. Com o tempo ele virou hobby, trabalho, ofício, responsabilidade, outras tantas coisas. Embora eu já escrevesse há muitos anos, foi o futebol que me permitiu ser um autor publicado. E nisso tudo, claro, está o Fluminense.

Acabei de comer um pacote de biscoitos de leite maltado, liguei a TV e recebi uma foto de meu querido amigo Raul. Ele estava em frente ao lendário estádio San Siro, dividido por Internazionale e Milan na Itália. Um templo do futebol mundial, nem é preciso estar nele para sentir a emoção. Ah, futebol, para aliviar a barra desses dias de tanta tristeza – é só olhar para o lado no Rio de Janeiro e ter vontade de chorar, exceto se você é mais um dos indiferentes que tratam o próximo como um pacote.

O Fluminense em campo está bem. Só não vai ganhar o Brasileiro por uma vírgula, embora ainda tenha chances – não sou pessimista, mas realista. Ganhamos o Carioquinha, falhamos nas Copas, estão rolando os dados no Nacional. O problema é nos bastidores: um rombo sem tamanho nas contas, disfarçado de “gestão”, com veteranos contratados a peso de ouro e garotos rifados por mariolas. Como a campanha atual é boa, tem gente dizendo que não pode nem vaiar…

Nesta sexta-feira triste e cinza, mas com o Fluminense legal, eu completo 1.299 participações como cronista do PANORAMA. Aqui tenho vivido e pensado em tudo. Do jogo de botão ao totó, da pelada ao clássico, tudo é Fluminense. Ainda me lembro em 2009, quando eu sonhava em um dia publicar um livro sobre o clube – deu certo. Foi aqui que eu aliviei parte das minhas dores, fiz com que algumas pessoas rissem ou chorassem, tentei conversar com as pessoas mesmo falando sozinho – porque é assim que vive o cronista, falando sozinho na frente de todo mundo. Também fiz muitos colegas por aqui e também ganhei muitos desafetos, que curiosamente sempre tiveram algo em comum: a necessidade incontrolável de aparecer. Tudo bem: eles passaram, eu continuo falando sozinho. Não sei até quando, a gente nunca sabe mas segue em frente e vê no que vai dar.

Dá pra dizer também que, sem falsa modéstia, incentivei dezenas e dezenas de pessoas a escrever também sobre o Fluminense, caudalosamente. Se alguma delas hoje se sente no direito de falar muito mal de mim, é certo que omite essa e outras partes da história. É a velha questão humana da hipocrisia: transformar o adversário em inimigo para justificar sofismas. Bom, daqui também saíram muitos livros, programas de TVs, lives, chopes, namoros, paixões, muita coisa. E tudo sem um centavo ou arranhão da caridade do clube. Pelo contrário, aliás, com sabotagens.

Amanhã tem Fluminense de novo. É o rio interminável, a força que nunca seca. Lutamos por um título improvável, lutamos por eleições limpas e voto on line. Lutamos contra tenebrosas transações no clube e por um Flu protagonista acima de tudo.

Enquanto isso, eu abro uma coluna, uma coluna, uma coluna e outras palavras. Continuo falando sozinho, mas às vezes olho para trás e penso que quase 1.300 colunas dão cerca de 2.600 páginas e que, se reunidas, dão um livro que pouca gente já escreveu na vida. Talvez dê orgulho, talvez alegria, talvez seja talento ou vocação ou destino, mas a única coisa importante mesmo é lembrar que esse espaço existe para valorizar, dissecar e pensar o Fluminense: meu, teu, nosso e de tanta gente nesse Brasil afora: humilde, pobre, rica, boa, magra, gorda, velha, nova, com tudo pela frente, com pouco, todos com três cores no coração.

O melhor lugar do mundo é na arquibancada de um jogo do Fluminense, duas horas antes da partida, com pouquíssima gente, silêncios, pingos tricolores e uma expectativa da vida inteira. Só falta minha família por aqui, mas não se pode ganhar todas. Tudo bem, eu sigo como um tricolor solitário.

1 Comments

Comments are closed.