Tive grande vontade de ir ao jogo hoje em Volta Redonda. Não pela perspectiva de uma boa atuação, longe disso. Mas por desconfiar de que, na hora em que os camundongos abandonam o navio é que os marujos devem fazer de tudo para salvar a embarcação. Acabou que não pude por compromissos diversos. Antes que algum celenterado se manifeste latindo em vão, tenho mais de mil presenças nas arquibancadas tricolores, muito antes da “fundação” do clube em 2010. Tome série C, B, Fanta, Amauri, Neinha, Tulica, Osni, Portuguesa da Ilha, CSA, Maranhão (o time, não esse rapaz) e outrem.

Não fui o único ausente. A torcida inteira fez forfait. Deram quase duas mil pessoas lá, impossíveis de serem vistas na televisão. O que explica o alto índice de absenteísmo? Muitos fatores.

Ignorada, delicadamente enxotada e apenas valorizada em época conveniente, a torcida do Fluminense entrou em processo de torpor. E deu de ombros. Essa é a parte mais perigosa da história: nenhum time de ponta no mundo sobrevive sem uma grande massa de fiéis espalhados por cores, classes, crenças e zonas. Sem nossa torcida, somos qualquer pequeno da tevê. E colocar a culpa na torcida pelo que acontece é como culpar o automóvel pelo atropelamento feito por um motorista bêbado. Ou culpar a água pela sede da população. Ou o estádio. Vai muito além disso tudo.

Numa partida chata, burocrática, mala, o Fluminense “teve as melhores chances” e “poderia ter vencido”. Ok, mas que tal a parte prática? Cavalieri evitou dois gols feitos de um adversário modestíssimo. A nossa bola no travessão, o finalizador sequer viu. Detesto cornetar qualquer jogador, mas esse rapaz, o Henrique, às vezes parece um espelho do atual Fluminense: pose, aparência, resultado frágil e ineficácia. Bom, ele não é culpado, mas sim quem o contratou. Tomara que ele vire um jogador e me cale.

As contas não assustam hoje. “Marcamos ponto”. “Podíamos ter vencido”. O vazio de Volta Redonda reflete o fastio da torcida em relação a factoides, factoides e factoides. E realmente não assustam. Hoje. Mas ninguém em sã consciência está disposto a reviver os segundos turnos dos Brasileiros de 2013 e 2015. Tantas vezes ouço a história da manga com leite da série C, mas hoje me doeu ver no campo as tatuagens de Barata, Tupãzinho e Paulinho Mac Laren. Contudo, sou um otimista incorrigível e espero seis ou nove pontos nas próximas três rodadas, para ficarmos aliviados e algum debiloide publicar “vocês torcem contra”. Nenhum me dirá isso pessoalmente, a não ser que tenha desamor pelos próprios dentes – afinal, eu não mantenho este blog diariamente às custas do trabalho da nossa equipe e dos nossos bolsos para escutar latidos de maus cachorros. Não me peçam lógica na esperança dos tais seis ou nove pontos, porque não tem mesmo: é minha vontade de torcedor e basta.

Agora vem mais outro jogo vazio contra o Ypiranga. Eu só espero que melhore. Eu só espero que Levir consiga desfazer essa pasmaceira. O navio do Fluminense prossegue em sua viagem transatlântica. Não há de afundar. Não há camundongo capaz de impedir o futuro do Fluminense, por mais triste que tenha sido este sábado e este atual sentimento recente de Gotham City em Laranjeiras. Nosso poeta Cartola já ensinou há muito: “O sol nascerá”.

Renovemos as esperanças, tiremos leite de pedra e la nave va. Se alguns puderem transformar a vaidade em supositórios de uso próprio, melhor.

Panorama Tricolor

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Imagem: rap