FlaPre$$: a saga (por Paulo-Roberto Andel)

 FLAPRESS A SAGA

FlaPre$$, corruptela que define o consórcio (sem tamanho definido) enrustido de profissionais da comunicação esportiva que, de alguma forma, contribuem para que o noticiário rubro-negro seja sempre suavizado em tempos de vacas magras, tenha tom superlativo nas médias, intergaláctico nas engordadas e, claro, ao mesmo tempo ou conforme a conveniência, diminuindo os grandes rivais locais em tudo o que for possível. Tudo em troca de pequenas – ou grandes – benesses, já que não existe almoço grátis (Friedman).

Sempre aí, presente e viva, atuante desde que o mundo é mundo e as grandes corporações de comunicação precisaram “expandir seus negócios” – leia-se ganhar mais dinheiro, preferencialmente escolhendo vítimas FUTEBOLÍSTICAS que gerem polêmica na “perseguição” (ou “coincidência de sucessivas más notícias para os adversários e excelentes notícias para o mais-querido”).

Por sinal, a própria história de “mais-querido” é digna de corar qualquer político corrupto: a eleição realizada que lhe concedeu o apelido teve clara manipulação. “Mas em 1927, o Jornal do Brasil decidiu colocar a disputa à prova numa eleição popular. A Taça Salutaris seria entregue ao “time mais querido do Brasil”. Venceria quem levasse mais cupons da água mineral Salutaris, indicando o nome do seu time. Os comerciantes portugueses, vascaínos, tinham tudo para vencer. Mas os flamenguistas se mobilizaram, adotaram sotaques lusitanos e lotaram as padarias do Rio com escudos do Vasco na lapela. Quando chegaram à sede do jornal, jogaram os votos falsos nas privadas do prédio e entregaram apenas os do time rubro-negro. Um engenhoso golpe eleitoral.” (http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/coluna/19869_FLAMENGO+E+VASCO)

Existe oficiosamente desde a Era do Rádio e pode ter advindo definitivamente da expressão involuntária do genial Ary Barroso – um grande caráter -, mais tarde reforçada por Jorge Curi – outro grande caráter. Mas nunca é demais lembrar: o tricolor Santos-Dumont inventou o avião para disseminar a paz e acabou suicidando quando percebeu que sua também genial invenção tinha virado a apoteose da guerra.

Até fins dos anos 70, não havia uma mísera linha nos jornais sobre a “importância” dos campeonatos brasileiros: crianças daquele tempo como eu mal desconfiavam que o Fluminense, o Vasco e o Botafogo já tinham sido campeões brasileiros – não se falava no assunto – adivinhem quem só ganhou seu primeiro brasileiro em 1980? Por outro lado, o campeonato carioca era tecnicamente mais atraente, tinha mais charme e os times sustentavam-se da receita de bilheteria: ver um jogo ao vivo na TV era quase como que encontrar um ET na padaria, exceto… em jogos da Gávea – leia-se Lagoa, outra história de adormecer boiadas.

Fins dos anos 70, a FAF (Frente Ampla pelo Flamengo) capitaneada por Walter Clark – o executivo mais bem-pago do mundo à época – ela explodiu de vez. Não à toa, seu time-alvo ganhou vários títulos (menos do que se apregoa, claro, engordando tudo com um lote de Taças Guanabara, na verdade apenas um turno de competição). Sim, o time era bom, mas quando o caldo entornava, um ladrilheiro em campo ou meio-time expulso do Atlético Mineiro com meia hora de jogo abriam os caminhos – papeletas amarelas? – Copa União? Desculpem, não consigo deixar de associar a sigla FAF com ARENA na pior acepção das palavras possível.

E é bom que se diga: apesar da conhecida megalomania de grande parte da torcida rival da zona sul, ela tem pouco ou nada a ver com o império da subversão da informação no futebol carioca. Foi um planejamento de petit comité, elite, que levou ao que se vê até hoje nas distorções de informação e nas manchetes claramente tendenciosas. O flamenguista comum tende à certa megalomania incensada, bom humor, longe do rancor fascista de certos noticiários.

A FlaPre$$ está no cenário atual assim como esteve o jogo de bicho um dia: houve quem jurasse de mão trançada que não existia, era difícil capturar as provas e os envolvidos, ficava tudo no mundo da suposição. Depois, não teve como tapar o sol com a peneira, óbvio. Tudo bem, há quem diga também que a ida do homem à Lua nunca existiu. Paciência. Agora, o mais incrível é alguém do ramo interferir dizendo que “por ser a maior audiência, é preciso ter mais destaque ao Flamengo”.

Como assim?

O compromisso da imprensa é com a veracidade das informações ou com a audiência que elas possam ter? Uma coisa não pode e não deve estar interligada à outra – acontecer espontaneamente é outra coisa. Destaque de um significa malversação dos demais?

Não, não, o que tem acontecido no decorrer das décadas em termos de grande parte da imprensa esportiva do Rio de Janeiro não tem a ver com audiência exclusivamente. Afinal, as outras grandes equipes cariocas também têm farto público-alvo consumidor de jornais, revistas e periódicos de futebol. Há um misto comercial ilegal, mas também, claro, uma carga de rancor por parte de alguns detentores do poder midiático – há vários rubro-negros que ocupam cargos de relevância no processo e, com isso, às favas com os escrúpulos da comunicação esportiva!

E também não é exclusivamente a fabricação industrial de artigos, matérias e opiniões dadas por respeitáveis cronistas de futebol – outros nem um pouco – embora ela aconteça com razoável regularidade, sempre no “momento certo” e “sem deixar suspeitas” (claro que deixa!). Há profissionais sérios escrevendo também, de forma que os mafiosos jamais os abordariam para traçar um “perfil de supremacia” da Gávea, leia-se LAGOA, sobre os demais. Muitos dos grandes homens da imprensa do futebol jamais viram o funcionamento do “movimento” FlaPre$$ simplesmente por um motivo: quem é muito sujo tem dificuldade de abordar e cooptar pessoas de bem para o serviço do mal. Funciona na base do morde-e-assopra. No submundo. É o suficiente para desfalcar a realidade e manipulá-la como se deseja.

A picaretagem é parcialmente enrustida. Tem nuances e particularidades. Tem a ver com confundir jornalismo com datilografia.

Noutras situações ela não se dá pelo conteúdo exato de matérias, mas sim na exibição-mor, ou seja, a manchete. A chamada do texto, a cabeça, onde até mesmo leitores de esguelha possam acompanhar. É nisso que basicamente reside o estilo FlaPre$$, mas não exclusivamente, claro. Ah, sim: quem cuida da manchete é o editor. Mas dentro dos textos também pode-se enxergar claramente certo “pessimismo” no cotidiano dos rivais, enquanto o “time maior” pode enxergar voos continentais num simples empate em 0 x 0 com o Arimatéia. Tudo depende do momento. Quem se lembra de 1995?

SÁVIO CAMPEÃO

Uma das iniciativas espetaculares do Fluminense nos últimos anos foi lançar o livro comemorativo dos cento e dez anos do clube, articulada num crownfunding que até hoje é o maior sucesso editorial do país em seu ramo. Dias após, conhecido editor de jornal de grande circulação esportiva, sempre de olho no lance, vociferou asperamente através da rede social Facebook a seguinte sentença: “Eu teria vergonha do meu time ter que pedir dinheiro aos seus torcedores para publicar um livro”. Desnecessário opinar sobre tamanha estupidez – e total desconhecimento da lida literária, no melhor estilo mais-ignorante -, mas convém ressaltar que o mesmo autor desta pérola da boçalidade é quem decide diariamente o teor das manchetes que chegam a milhares de leitores esportivos no Rio de Janeiro.

Grande veículo de imprensa esportiva, tamanho global, expós recentemente verdadeira ode à subversão matemático-estatística ao ilustrar sua página principal de esportes. Nela o debilitado Fluminense sonha em “fugir do rebaixamento” enquanto o reabilitado Flamengo “sonha com o grupo de cima”. Nenhum problema, exceto o fato que os leitores precisariam ser completamente analfabetos para entender algum nexo entre as manchetes e a tabela de classificação do campeonato brasileiro.

O mais incrível é alguém do ramo defender este delírio dizendo que “por ser a maior audiência, é preciso ter mais destaque”.

fp 4

A FlaPre$$ não é voltada exclusivamente para o malefício do Fluminense, diga-se de passagem, mas vê com muita simpatia qualquer nuvem cinza em cima de Alvaro Chaves – nenhum outro time no mundo conquistou mais títulos e impôs mais fracassos a eles em momentos cruciais como nós. Então, se alguém espirrar na arquibancada tricolor, isso pode se transformar num pré-rebaixamento a qualquer momento, com todo o ridículo contido nesta situação. É o caso de agora: neste campeonato brasileiro, temos o Vasco como o primeiro dos times a ocupar temporariamente a zona de descenso, com 24 pontos. Perdeu na quarta-feira passada para o Vitória, que tem apenas seis pontos mais, só que ONZE posições à frente – demonstração clara de um rali indefinido para boa parte dos times participantes – tire Cruzeiro, Botafogo e Grêmio da parte de cima, Náutico na de baixo e o resto é uma incerteza enorme. O Vasco JÁ caiu? Claro que NÃO! Ora, se o Fluminense tem várias posições acima na tabela, como poderia “sofrer” no Z4?

Decanos do jornalismo esportivo carioca como Jorge Nunes e Ronaldo Castro já sentenciaram inúmeras vezes a respeito do consórcio FlaPre$$ no programa de televisão onde atuam nos domingos à noite. Jorge, conhecido por seu bom humor, lembra que toda vez que o mais-defendido perde espalhafatosamente uma partida jornais do dia seguinte trazem as expectativas de “um grande reforço a caminho”. Coincidência? Não há provas de FlaPre$$? E por acaso algum órgão de esfera regulatória do jornalismo já investigou isso alguma vez?

fla 20 09 2013 1

(generoso espaço midiático concedido ao “maior time da galáxia” pelo “maior jornal do país” em 20/09/2013, ontem, sexta-feira, por ocasião da goleada sofrida para seu genérico paranaense, causando inclusive a perda do treinador…)

Faltando ainda dezesseis rodadas para o fim do certame, num enorme acirramento dos times, quase todos muito próximos, calcular probabilidades por ora tende a dar com o burros – e a burrice – n’água. Então, qual é a grande manchete? O Fluminense ter 1% de chances de ser pentacampeão brasileiro – o próprio Flamengo teve esse mesmo percentual em 2009, com mais rodadas disputadas, mas nenhum garboso editor atreveu-se a questionar uma chance mais querida.

FLA P 2

Cereja do bolo. Ano de 1979 (não é de hoje), Maracanã lotado com cem mil pessoas, Mais-Favorito x Fluminense, 2 x 0 para nós no primeiro tempo. Segunda etapa, pênalti para a “nação” (outra classificação etimologicamente inaceitável): Zico bate, Paulo Goulart antecipa Joel Bats em sete anos, o fim do jogo reservado para um golaço de Cristóvão – o saudoso Manguito no chão e a bola no ângulo direito de Cantarele.

Confiram uma grande manchete – homofóbica, feito os costumes da época – criada para “abafar” o triunfo tricolor naquele grande jogo (havia uma grande fúria de dirigentes de torcidas organizadas do Flamengo contra aquela que seria uma de suas bandeiras mais desfraldadas: a popular FlaGay, que acabou impedida de torcer no estádio). O tempero curioso dessa história vem do frasista da manchete: o presidente rubro-negro Márcio Braga, que sempre circulou com indumentárias e acessórios bem-transados, diga-se de passagem. Modernérrimo, pois.

fp 5

márcio braga 1

Sobre o tema, aliás, o Jornal do Brasil deu cobertura em suas edições de 12 e 14/10/1979, com o luxo da palavra do imortal João Saldanha.

DRAGAYS

 saldanha fla gay

A defesa do pênalti de Paulo Goulart foi varrida dos vídeos. Nos jornais, todos apontavam a “irregularidade” do goleiro ao sair “antes” (caô). Zico deu chilique nas declarações à imprensa. Lá em cima, no jornal cor-de-rosa, um quadradinho: “Flu vence e empolga a galera”.

Em 1981, o Fluminense de Valtencir e Zezé Gomes, com meio time reserva, bateu a Gávea da Lagoa por 2 x 1 e corou os futuros campeões do mundo. Zico e Márcio ficaram calados. Nos tempos de Assis e Renato, seria pior ainda.

E o golpe final: espaços da internet como o PANORAMA TRICOLOR crescem a cada dia. O que a FlaPre$$ pode fazer para impedir o avanço do mundo virtual?

Nada.

Nisso, não há ladrilheiro ou papeleta amarela que dê jeito.

Quem tiver dúvidas sobre o que eu escrevi acima, favor conferir as manchetes esportivas de amanhã e segunda-feira.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagens: globoesporte.com, JB, Abril, JS, TYF, google

Leia também – http://www.panoramatricolor.com/pagar-pagar-pagar-por-paulo-roberto-andel/

http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=1184&idProduto=1216

Garcez, Couceiro, Botelho, Santa Ana, Janot & Andel – as letras tricolores à vista

25 Comments

  1. Muito bem escrita, e o mais interessante, se aplica também ao CorPre$$… Ta uma chatice a babação em torno do time Paulista, a ponto de no fim do primeiro turno do campeonato, um pomposo comentarista da Globo, ter o despautério de colocar esse time, no mesmo patamar do Cruzeiro, já que o elenco é maravilhoso, o treinador é maravilhoso, as lojas de roupas desse time são maravilhosas, e a torcida, nem se fala.

    *** Service disabled. Check access key in CleanTalk plugin options. Request number…

  2. Sensacional !! Como disseram anteriormente, uma verdadeira aula de jornalismo.
    ST

  3. Perfeito. Excelente texto. Muito bom pra subsidiar nossa luta ingrata contra a Mulamba-Press. Ela e dura, mas vamos ganhar mais essa. Guerreiros sempre. Parabens!

  4. Perfeito. Excelente texto. Muito bom pra subsidiar nossa luta ingrata contra a Mulamba-Press. Ela e dura, mas vamos ganhar mais essa. Guerreiros sempre. Parabens!

  5. Como é bom ter a elite intelectual do nosso lado ahhahah Parabéns cara vc é demais.
    ST!!!

  6. estava procurando a terceira casa, na terceira rua ao lado da terceira banca de revista e achei um time de terceira de divisão !!! Esse Google não é tão bom assim !!!

    1. Claro. Natural.

      Fronteiriços como você têm dificuldade de achar até o próprio focinho, imagine uma pesquisa no Google…

  7. O q quero dizer, é q qd chegamos ao ponto d ver um local na internet, onde o autor, seja lá o time q ele torce, se dedica a mostrar dados, números, reportagens de jornais antigos contra o Fla, e faz o msm mostrando o lado bom dos adversários da Gávea, é pq temos um fato q não pode ser negado: A flapress saturou os torcedores de todos os times. Qt ao G4 e Z4 entre Fla e Flu, citado acima, vejam o q o aqipossa fez:

    Provas contra a FlaPress -…

  8. Com licença, pessoal. Algumas vezes já deixei comentários aqui e nesses comentários algumas vezes mostro links do blog q combate a flapress. Alguns aqui vão lembrar dele, é o aqipossa.

    http://aqipossa.blogspot.com

    Leio tb constantemente este blog e me deparei com uma situação q antes era impensável. O que tínhamos como suposição, se tornou realidade: A flapress existe sim! Eu não estava sozinho nos meus pensamentos. recomendo o blog a todos…

  9. Caro Andel,

    Simplesmente FANTÁSTICO!

    É tudo que gostaríamos de colocar para fora.

    Inclusive, sugiro que façamos uma gigantesca campanha, envolvendo torcedores de TODOS os times, com exceção do Tinhoso, a fim de que seja implementado um imenso boicote a todos os meios de comunicação destes calhordas da Fla-Press. Que ninguém mais compre jornais como O Globo, Lance!, entre outros.

    Quero ver eles sobreviverem com o $$$ da torcida da mulambada??? Vão quebrar em três meses!

    ST, Luiz…

  10. Luxemburgo começou a ganhar pontos comigo, detonou a grobo através do microfone da grobo, aliás o idiota e parcial do perrout merecia há muito tempo, quem viu a entrevista pode ver o reporterzinho da imprensa marrom tremendo ao segurar o microfone.

  11. Aguardemos, então, as manchetes de amanhã e segunda-feira!
    Se o fra da lagoa perder devem noticiar apenas como um ‘tropeço’ normal fora de casa! rs…

  12. Perfeito!

    Isso é uma praga! E precisa ser combatida diariamente!

  13. Sensacional!Fantástico e Sublime!A verdade SEMPRE!Doa a quem doer!Saudações TETRA COLORES!!!!

  14. Verdadeira aula de história- em prosa – em apenas uma crônica!
    Parabéns, Andel!
    SSTT4!!!!

  15. Sensacional. Uma verdadeira aula. Depois perguntam por que jornalista não precisa ter diploma…

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