Flamengo 2 x 0 Fluminense (por Paulo-Roberto Andel)

A eliminação do Fluminense não chega a ser surpreendente. Numa competição de mata-mata tudo pode acontecer. O que parece mais chocante é a maneira como se desenvolveu o enredo. E, se na primeira partida da decisão, a Flapress tratou um rodízio de porradas como um sistema de combatividade, não há nada que alivie a horrorosa atuação tricolor desta quinta.

Tivesse o Flu elenco à altura, poderia fazer frente em todas as competições – e chegou a mostrar futebol para isso. O maior problema era conjugar as boas atuações com as chamadas escalações corporativas, colocando em campo jogadores exclusivamente por conta de acertos contratuais. A conta acabaria chegando. Isso, sem contar o elenco curto, porém inchado pelos acordos empresariais. No caso específico de Marcelo, uma baixa considerável do ponto de vista técnico, sua vinda foi extremamente debatida neste espaço por causa das condições físicas.

Infelizmente foi o que aconteceu no Maracanã. Não cabe qualquer desculpa para o fracasso de ontem. Foi uma péssima atuação. Pouco há o que se salvar, ao menos para os olhares mais sóbrios e atentos. Por outro lado, é inútil procurar grandes culpados exclusivos, comportamento de parte da torcida incentivado por parajornalistas levianos em relação a alguns jogadores que, por estarem no elenco, atrapalham o objetivo dos empresários ligados ao Tricolor – um caso claro é o de Martinelli, assim como no ano passado o “culpado” era Marcos Felipe, Biel mais atrás e por aí vai. A cada momento de crise “alguém” busca um bode expiatório para aliviar os graves problemas estruturais do Flu e, principalmente, forçar saídas que gerem receita para pagar os salários de jogadores no mínimo discutíveis.

Já pararam para pensar no show de horrores ocorrido ontem, nas diversas bolas cruzadas pela nossa defesa dentro da área? O resultado poderia ter sido muito pior. Muito pior. E a propalada posse de bola que resultou em escassas finalizações imprecisas? Não existe campeonato de posse de bola.

Ou refletir sobre os Fla x Flus anteriores? No da Taça Guanabara, escapamos de uma goleada no primeiro tempo. Na final, prevalecemos depois do golaço de Marcelo e o posterior massacre técnico, mas mesmo com 4 a 0 corremos sérios riscos nos 15 minutos finais. E na partida de ida da Copa do Brasil, mesmo com o rodízio de porradas rubro-negras, o fato é que não fomos bem. Refém da falta de alternativas em campo – e de jogadores -, o Fluminense pagou a conta da boquirrotagem que hoje cerca o clube, a ponto de se pregar a “eternidade” de MaBi à frente da instituição – uma verdadeira sandice.

Dentro de campo, o momento é ruim mas não se trata de terra arrasada. Resta saber o que será feito para reagir no Brasileiro e prosseguir na Libertadores em condições de protagonismo. Não há tempo a perder. É fundamental vencer o Bragantino no próximo domingo. Uma dura luta para o time que, há um mês, encantava o país – mesmo com seus defeitos visíveis – e hoje virou um arremedo. Ainda há tempo, mas é preciso lucidez, humildade e ação.

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Há alguns anos, escrevi que a maior derrota do Fluminense não tinha sido esportiva. Nem a trágica decisão de 2008, nem a Terceira Divisão, nada disso. Nosso maior fracasso foi a perda de senso crítico de parte da nossa torcida, orquestrada por setores nefastos do clube e da sua, digamos, imprensa segmentada, muito mais interessados em benefícios pessoais do que os do Flu.

Essa perda tem financiado o desperdício de vários jogadores promissores, perseguidos somente para atender a interesses corporativos e mais nada. E os consequentes fracassos esportivos, com exceção do Bi Carioca em mais de dez anos do “novo Flu”.

Traduzindo: em muitos casos, os garotos de Xerém são perseguidos e sacaneados para justificar suas negociações rapidamente, sustentando os Hudsons, Crissilvas, Wellingtons, Felipes Melo e outrem.

Nem todo mundo é obrigado a entender o universo underground do Fluminense, mas é preciso ter cuidado: o excesso de ingenuidade às vezes dá às mãos para a estupidez em larga escala.

3 Comments

  1. Perfeita, lúcida e engajada análise, de fundamental importância para provocar um choque de realidade na torcida, que faz vistas grossas para o conluio de dirigentes com empresários arquitetando as contratações de jogadores sem mercado com salários de mercado

  2. LOTEADO A EMPRESÁRIOS ESPERTALHÕES POR DIRIGENTES QUE NÃO O AMAM E POR SÓCIOS ABOLETADOS NAS SINECURAS DE SALÁRIOS OPULENTOS QUANDO SE OLHA O MÍNIMO A QUE O GUEDES DESEJAVA EXTINGUIR O FLUMINENSE VAI DE MAL A BEM PIOR…

  3. Perfeita a análise. Só no ponto de defesa de Xerem que é preciso uma análise mais fria, pois revelamos muitos bons jogadores, mas há barangas também. O Martinelli, citado no texto, não chega a ser um baranga, mas é fraco de dar dó.

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