“Eurico salvou o Fluminense…” (por João Leonardo Medeiros)

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Eurico salvou o Fluminense.
Eurico salvou o Fluminense.
Eurico salvou o Fluminense.
Eurico salvou o Fluminense.
Eurico salvou o Fluminense.
Eurico salvou o Fluminense.
Eurico salvou o Fluminense.
Eurico salvou o Fluminense.

Repita mil vezes: Eurico salvou o Fluminense. E agora complemente:

O Vasco tirou o Fluminense da terceira divisão e botou na primeira.
O Vasco tirou o Fluminense da terceira divisão e botou na primeira.
O Vasco tirou o Fluminense da terceira divisão e botou na primeira.
O Vasco tirou o Fluminense da terceira divisão e botou na primeira.
O Vasco tirou o Fluminense da terceira divisão e botou na primeira.
O Vasco tirou o Fluminense da terceira divisão e botou na primeira.
O Vasco tirou o Fluminense da terceira divisão e botou na primeira.

Repita duas mil vezes: o Vasco tirou o Fluminense da terceira divisão e botou na primeira.

Meus queridos, assim é feita a “verdade” no Brasil: por repetição da mentira. Agora, se verdade significa adequação do discurso à realidade, então as duas sentenças, por mais repetidas que sejam tornam-se “verdade”, mas não verdade, se é que me entendem. A verdade verdadeira eu conto agora, para quem não conhece ou já esqueceu.

O Fluminense venceu o campeonato da terceira divisão no ano de 1999. Era a última divisão do campeonato brasileiro da época. O que o Fluminense estava fazendo lá? A resposta é evidente: numa ação pioneira, organizando nossas divisões inferiores, trazendo a TV, a atenção do público, melhorando a renda e a estrutura. Foi tão bem sucedido que hoje temos uma quarta divisão, a série D, em que esteve até pouco tempo o agora novamente time de série A Santa Cruz. Mas isso não vem ao caso.

O que importa é: ao mesmo tempo em que o Flu ganhava a terceira divisão, o Botafogo e o Internacional estavam em maus lençóis, sob sério risco de rebaixamento para a segundona. O regulamento determinava que os quatro times com menores médias nos campeonatos de 1998 e 1999 seriam rebaixados e o pequeno bastião da moralidade do Rio de Janeiro, o outrora gigante Botafogo, acabou o campeonato na zona de rebaixamento com os resultados do campo. O Inter salvou-se por pouco. Mas…

… o STJD puniu o São Paulo pela escalação de um jogador irregular, Sandro Hiroshi, nos jogos contra o Botafogo e o Internacional. Até aí, tudo bem. O engraçadíssimo e inédito é que, em lugar de apenas punir o São Paulo, retirando seus pontos, o STJD inovou: deu os pontos das partidas, que o São Paulo tinha vencido, para os dois times, o Botafogo o Inter. O Botafogo tinha tomado de 6 x 1 do São Paulo, mas levou os três pontos!!!! O STJD alegou que o regulamento não proibia. Fato. Mas também não determinava isso e creio que ninguém em sã consciência pudesse imaginar que uma decisão ridícula como essa pudesse ser tomada.

Resultado: o Botafogo livrou-se da segundona NO TAPETÃO e o Gama foi rebaixado. Foi não: seria, se não tivesse recorrido à justiça comum e ganho fácil. A CBF foi proibida pela justiça de organizar o campeonato de 2000 e coube ao Clube dos Treze (uma liga dos 20 e não 13 clubes com maior torcida do Brasil) organizar o certame.

O Clube dos Treze preparou um monstrengo com 116 clubes, envolvendo todas as divisões do Brasil. Todos os times tinham chance de passar às finais do campeonato, ainda que houvesse apenas uma vaga para os dois módulos correspondentes à terceira divisão (Branco e Verde) e três para o correspondente à segundona (Amarelo).

Pela lógica, Fluminense e Bahia deveriam jogar o módulo amarelo, certo? O Fluminense nunca se negou a fazê-lo e, ao que eu saiba, o Bahia também não. Mas, por duas razões, foram parar no módulo Azul, correspondente à primeira divisão. Primeiro, eram os dois membros fundadores do Clube dos Treze. Se a entidade ia organizar o campeonato, nada mais correto do que valorizar seus afiliados. Mas a principal razão é a segunda. Abramos um parágrafo para isso.

Considerou-se que, num campeonato em que qualquer time das divisões inferiores poderia ser campeão brasileiro, os dois gigantes teriam uma vantagem se disputassem a primeira fase num módulo mais fraco. Sob a alegação de nos beneficiar, a manobra liderada pelo então vice-presidente do Vasco, Eurico Miranda, nos prejudicou tremendamente: perdemos a chance de ter uma primeira fase mais moleza, jogando na divisão em que deveríamos jogar.

A manobra não deu certo, porque o Fluminense arrebentou na primeira fase, sendo terceiro lugar. Isso vindo da terceirona, atenção. Nos classificamos para a oitava, mas fomos eliminados por uma daquelas surpresas que o fortíssimo interior paulista por vezes nos entrega: o São Caetano. São Caetano esse que viria fazer a final contra o Vasco (o grandíssimo campeão, parabéns), tendo vindo do módulo correspondente à segundona. Por ter feito a final, foi para a Libertadores em 2001 (também chegou à final da Libertadores) e permaneceu na primeirona.

A “verdade” pode ser repetida mil vezes. Mas a verdade é essa que eu contei. Uma virada de mesa livrou o Botafogo do rebaixamento e jogaram a culpa no Fluminense. Qualquer semelhança com 2013 é, naturalmente, mera coincidência. Fizeram no passado, fizeram há dois anos. Nós que abramos os olhos, para que eles não façam novamente. Já Eurico, não fez nada além de nos prejudicar esportivamente e em termos de imagem.

Não haverá troco. Se o Flu perder para o Figueirense e o resultado rebaixar o Vasco, tenham uma certeza: foi o produto de nossa péssima campanha, que já havia produzido 18 derrotas antes. Nós não somos quem eles querem dizer que nós somos. Nós somos a história.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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7 Comments

  1. Apenas para complementar a resposta do João, gostaria de lembrar que entre os últimos colocados da JH, esteve o Corinthians. Também é engraçado como este “rebaixamento” ninguém cobra.

    ST!

  2. OK… Mas se quando a CBF foi impedida de organizar o campeonato o Flu estava na terceira, quando ela voltou a poder então o Flu tinha que continuar de onde parou, ou seja, a segunda…e aliás, dizer que foram para a série C para organizar…kkk… Vai pra série D então oras…

    1. Prezado Alexandre,

      é realmente engraçado ver como o discurso midiático penetrou em cabeças inteligentes. O problema todo de 1999/2000 se repete para 2000/2001: a CBF não podia incluir o Botafogo (e o Inter) na primeira sem incluir o Gama. Ficaram na primeira em 2000 tanto o Fluminense, que subiu da terceira em 1999, quanto o Botafogo, que caiu para a segunda em 1999. E o Gama, e o Bahia, e os outros rebaixados em 1999.

      Ou seja, não tinha nada a ver com o Flu.

      Obrigado pela…

  3. O módulo azul NÃO era a série A. O campeão do módulo azul foi o Cruzeiro, mas é o Vasco que consta como campeão brasileiro de 2000. Cobram do Flu a participação em um campeonato que nunca foi disputado, a série B de 2000. A Copa JH reuniu todos os clubes das séries A, B e C, divididos por módulos e não divisões. Os módulos NÃO correspondem às divisões A, B e C, no módulo azul havia times que seriam das séries A e B, mais todos os envolvidos no tapetão.

    1. Obrigado Glaucio. Você tem razão, mas eu também! O texto não diz que o módulo azul era a série a, mas que correspondia a ela, ainda que imperfeitamente.

      Abraço,
      João

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