Eu voto contra o ódio (por Paulo-Roberto Andel)

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A um dia das eleições no Fluminense, reflito profundamente sobre algo que considero tão importante quanto uma nova administração que atenda aos anseios da nossa imensa torcida.

O fim do ódio entre os tricolores.

Salvo algumas mentalidades rasteiras que possam ver nisso uma espécie de lucro presumido pessoal, é algo tão sem sentido – mas, ao mesmo tempo, tão evidente – que exige o combate de todos aqueles que se pautam por bons princípios. Há quem estimule este ódio, notadamente por conta de pequenos benefícios particulares.

Desde que acumulei minha melhor porção tricolor – a de torcedor, sentado em arquibancadas de Moça Bonita, Volta Redonda e outrem – com os meus esforços literários -, especialmente a partir do ano de 2012, tenho visto a caminhada do ódio em marcha firme na torcida do Fluminense. Ela coincide com a popularização das redes antissociais, onde cada um tem a liberdade de dizer o que quer, mas nem sempre em associação com alguns princípios elementares: ética, respeito, caráter. E nem sempre visando o que é melhor para o Flu, mas para si.

Não se deve confundir críticas justas – inclusive as veementes – com a verborragia oca e odiosa, muitas vezes alimentada por contrariedades pessoais: o sicraninho que detesta o fulaninho e quer vingança, o beltraninho que vê uma chance de emprego no clube, o sicraninho que quer uma molezinha de ingressos, o fulaninho que perdeu uma boa bocada, o beltraninho que gosta de pagar de subsubsubcelebridade, o sicraninho que queria mandar sem cumprimentar ninguém, o beltraninho que lucra com a discórdia de alguma forma, o fulaninho que vê no Fluminense sua única chance de destaque pessoal. Retratos do casuísmo e da pequenez humana diante de um colosso do esporte mundial com 114 anos de vida.

Posso falar de cadeira no plano individual: todos os que me seguem neste PANORAMA sabem do estelionato jurídico do qual fui vítima ano passado, onde o cúmulo do absurdo chegou ao ponto de se requerer a destruição de um livro sobre o Fluminense, prática marcante da Alemanha de Adolf Hitler. Se eu tivesse me contaminado pelo ódio, talvez tivesse usado esta coluna, de minha propriedade, para malversar a atual gestão do clube de forma implacável, mas aí eu seria tão pequeno quanto meus detratores. Optei por outro caminho: escrevi outros quatro livros, dei minhas modestas opiniões, reclamei do que considerei ruim – muita coisa, principalmente do time – e elogiei o que me pareceu bom, mesmo quando meus equívocos foram evidentes – o caso da vibração pela contratação de Ronaldinho Gaúcho, por exemplo. Ao contrário de alguns peitos de pombo, que se julgam incrivelmente mais importantes do que o clube, eu não tenho compromisso com a condição de senhor da verdade suprema ou cavaleiro da ordem tricolor. Somente um tipo de pessoa não erra: a que mente.

Tenho ficado espantado, mas nem tanto, com o aumento da verbalização odiosa entre tricolores na internet. No sábado à noite, o Fluminense terá um novo presidente e, seja ele quem for, há muito a ser feito: inúmeras correções de rota, manutenção de bons atos, crescimento do clube como um todo. Um candidato vencerá o pleito, dois perderão e o Tricolor continuará firme, precisando da participação de seu maior ativo: sua imensa torcida.

Neste sábado é dia de exercer a cidadania tricolor por meio do voto. De cada sócio escolher o que considera melhor para o clube pelos próximos três anos. Mas, principalmente, de fazer da democracia uma celebração. Dia de encontrar amigos, de visitar a invencível sede das Laranjeiras, dar espiadas na linda casa. E, principalmente, de não utilizar o fígado no lugar do cérebro para qualquer conclusão, ainda que enrustida por discursos perfumados naquelas velhas verdades casuísticas sobre tudo.

Por fim, essa é a justificativa do meu voto: a luta contra o ódio, contra o rancor, em prol da pacificação entre os nossos torcedores, contra o destruir para reconstruir. O Fluminense jamais crescerá como todos queremos se for banhado de ódio.

Ele, o voto, poderia ser resumido no nome do candidato em que votarei – já declaradíssimo em meus perfis -, ou estendido numa lista dos inúmeros apoiadores, mas aqui faço diferente. Aponto o nome de alguém que acompanhei à distância por vários anos e, nos últimos meses, de perto, demonstrando tanto apreço aos tricolores, tanto respeito ao clube e tanto engajamento pela união dos torcedores que, para mim, representa o Fluminense que eu vivi e que quero viver novamente: Cacá Cardoso. Seus poucos detratores virtuais ficariam envergonhados de suas declarações se conversassem com ele por míseros dez minutos – bom, pelo menos os que ainda têm alguma vergonha, é claro.

Que a democracia do Fluminense seja a grande vencedora deste sábado, caminhando para ser cada vez mais aperfeiçoada.

E o ódio, o grande derrotado.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: rap

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