Escombros do Maracanã (por Paulo-Roberto Andel)

paulo e catalano placar do maracanã

QUANDO ÉRAMOS REIS

Esta foto foi tirada numa tarde qualquer de 2008, 2007 ou equivalente, pouco importando a precisão.

Nela estão Zeh Augusto Catalano, fundador deste PANORAMA, vascaíno (já expliquei isso noutras vezes) e eu.

Um tricolor e um vascaínos abraçados dentro do Maracanã.

Faço um sinal de negativo com o polegar.

O motivo está no fundo da foto, atrás de nós.

Uma grande estrutura de ferro, atirada num canto da rampa do antigo Maracanã, onde todos subiam para as arquibancadas mágicas e desconfortáveis.

Os círculos visíveis não deixam dúvidas do que se tratava: compartimentos para bocais de lâmpadas.

Se você tem mais de quinze anos de idade, ao menos se comoveu uma vez na vida ao ler as palavras admiráveis escritas nessa grande estrutura abandonada.

Nela, nomes como os de Edinho em 1980, Assis em 1983 e 1984, Romerito também em 1984, Renato Gaúcho em 1995, Marcão em 2002 e 2005, Antonio Carlos em 1995 e Adriano Magrão (SIM!) em 2007 foram consagrados.

O placar analógico do Maracanã, que funcionou de 1978 até o dia em que virou ferro jogado, prestes a ser retalhado, retorcido.

É natural que as coisas mudem. O mundo respira incessantemente em busca da modernidade. O progresso, as novas tecnologias, a ambição permanente pelo avançar. Tudo isso faz parte do processo.

Entretanto, uma pergunta é inevitável: para progredir, precisamos destruir o passado?

Não.

É impressionante que ninguém tenha se dado conta de que o placar seria uma excelente e significante peça de museu do futebol brasileiro, de valor inestimável.

Já imaginaram se ele funcionasse num centro cultural e fosse ligado na exibição de um jogo em telão, por exemplo? O impacto que causaria nos mais jovens?

Trinta e tantos anos, joga-se no lixo e que venha o novo.

A desgraça que fizeram com um dos ícones da minha infância pode ser vir como analogia para diversos pensamentos.

Essa coisa de destruir o passado, fingir que ele não existiu, editá-lo odiosamente e viver o imediatismo do presente maquiado com o rei na barriga.

A única derrotada passa a ser a história.

Aliás, a memória também. As duas andam de mãos dadas.

Um tricolor e um vascaínos abraçados dentro do Maracanã, cena que passou a ser impossível pelos piores motivos idem.

Logo mais teremos um jogo importante contra o Cruzeiro. Mais um nessa competição árdua e caudalosa.

Temos uma excelente – e inesperada – posição na tabela.

Oxalá o carnaval aconteça.


TORCIDA ÚNICA

O fim do futebol.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: catal

cartas do tetra panorama 1

2 Comments

  1. salve !

    grande texto, grandes lembranças. imensos desafios no “pais do futuro”, no qual não se encontram facilmente rimas para a palavra “memoria”. (historia?)

    em tempos em que os de bravatas d’além tumulo se unem aos neo-higienistas de plantão no triste conúbio que ameaça nossa paixão – mais duradoura do que o concreto armado – , que o Panorama permaneça como local de resistência.

    e que “nos guardemos para quando o carnaval chegar”.

    abraços fraternos

  2. 05/08/2007 – Fluminense x Palmeiras.
    Bons tempos.
    Querem enterrar o passado inconveniente.
    A CBF, o Maracanã, o Fluminense, o Vasco, o Flamengo…
    Não é coincidência.
    Esse é um dos objetivos do Panorama.
    Não deixar que o passado se apague.
    Por menos conveniente que ele seja.
    grande abraço

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