Empadas, Fluminense e glória (por Paulo-Roberto Andel)

Dia desses pedi umas empadinhas pelo IFood. O preço e os sabores eram convidativos, resolvi experimentar e achei muito boas. Fiz dois pedidos.

Na segunda passada minha amiga Claudia veio me visitar no trabalho. Falamos do mundo, da vida, dos encontros e desencontros, até que resolvemos pedir um lanche. A empadinha prevaleceu.

Veio o Leandro trazendo a encomenda. Ele trabalha no Estácio, em casa. Então conversamos e ele falava de sua luta para o empreendimento dar certo, além da alegria em poder trabalhar perto da família.

Em algum momento, falamos sobre ele ter entrado em prédios da zona sul que jamais imaginou entrar um dia. A cidade é assim: ela tem um monte de coisas bem à nossa frente, mas que muitas vezes não podemos usufruir. E aí ele contou do tempo em que era entregador do IFood e passou muitas vezes pelo Fluminense, de como achava ali bonito e de como gosta de futebol – embora seja Flamengo, ele queria conhecer a sede tricolor. Passava ali todo dia e pensava.

Numa ocasião, veio um pedido de entrega justamente para o Fluminense, vejam só. Leandro achou que faria a entrega na porta, mas quem fez um pedido foi um treinador da base, que estava em campo nas Laranjeiras imortais, em treino se não me engano. Acabou sendo convidado a entrar e levado até o campo, onde ficou encantado a finalmente ver de perto o que sempre sonhou do lado de fora. Por fim, o trataram tão bem que ele acabou indo à sala de troféus e se esbaldou, porque gosta muito de futebol, porque tem respeito pelo futebol e não precisa ser tricolor de coração para entender a aura mágica que cerca o Fluminense há 120 anos.

Quando me contou isso, tive vontade de chorar. Eu sou tricolor, mas também daqueles que levou muitos anos para entrar no clube. Na infância e adolescência, a sede do Fluminense para mim se limitava às arquibancadas do estádio. Durante muitos e muitos anos eu passava ali de ônibus, indo a jogos ou no trajeto da faculdade, namorava o grande muro grená e pensava “Como é bom passar aqui, mesmo sem poder entrar por lá – é que eu gosto muito do Fluminense”. Um dia eu entrei.

Leandro reiterou que gosta muito de futebol, do respeito que tem pelos times e que, se o chamassem, ele iria até a Portuguesa da Ilha. Nessa hora, achei que era coincidência demais: fui à estante, peguei um livro da Lusa, outro do Flu e dei de presente a ele. Surpreso, me perguntou “Foi você que escreveu?”. Vocês não imaginam como eu adoro isso. Bem, felizes nos despedimos e certamente pedirei mais empadinhas. A Cláudia, que é Flamengo mas filha de pai tricolor, acompanhou tudo com sua serenidade costumeira.

Sem saber, o que o Leandro fez foi nos dar uma aula. Aula de dedicação e esforço, aula do que era o Rio de Janeiro até bem pouco tempo – terra de muito boa conversa e nenhum ódio. Aula de amor ao futebol, onde o clube do coração é especial mas os outros merecem apreço e respeito. Ele costuma estudar de noite, fazer pesquisa no YouTube, aprender. É tudo que precisamos: respeitar, aprender, conviver.

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1 Comments

  1. Maravilhosa a história e as mãos que as deram vida. Uma aula profunda do que ainda é e deveria sempre ser a essência do futebol, com seus valores e a incrível mania de nos emocionar.

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