Drama e carnaval (por Paulo-Roberto Andel)

Todos já falaram do drama da classificação. E nem poderia ser de outra forma. As cores da tensão, da incerteza e do medo fizeram do Mineirão uma aquarela. Antes, no jogo, o Brasil tomou o gol na besteira de Hulk quando tinha o placar e a atuação na mão no primeiro tempo. Depois, luta, drama e sustos.

A Seleção ainda não desencantou, embora tenha se saído melhor neste jogo do que na primeira fase. Sem ligação no meio e com Neymar tentando desafiar a física a todo instante, as coisas ficaram complicadas – mesmo assim, o Brasil foi melhor do que o Chile em boa parte do jogo, esteve mais perto do segundo gol e não merecia ser eliminado no último chute quando a bola explodiu no travessão. Os chilenos desperdiçaram seu bom time na partida com certa desambição, talvez pensando nos penais. Os opacos não viram a luta de Fred no pivô e comemoraram cada trapalhada de Jô. Fernandinho não brilhou como se esperava, apesar dos passes.

Então veio o drama dos tiros penais depois de duas horas de futebol áspero e brigado. Paulinho, barrado, foi um Ricardo Rocha e incendiou os coracões dos jogadores antes das cobranças. Júlio Cesar chorou muito. Tinha razão para isso: falhou gravemente em 2010. O peso do planeta sobre os ombros. Poderia ser um Barbosa contemporâneo mas os tempos são outros, bem menos injustos. Teve a chance de se defender da história em campo, ao contrário do próprio Barbosa, de Manga ou mesmo Waldir Peres. Outros jogadores choraram nos dois lados. Três bilhões de olhares atentos a tudo.

Júlio pegou um pênalti, dois. Já tinha brilhado em grande defesa no tempo normal. Willian e Hulk desperdiçaram. Parecia que o Mineirão ia ser um vale de lágrimas. Neymar fez o que se esperava. Na última bola, Júlio poderia defender, estava nela, tocou, mas a trave se incumbiu. O Brasil explodiu num grito de alívio. Os jogadores se abraçaram como nunca. A Seleção está nas quartas de final contra a perigosa Colômbia. Os chilenos foram grandes, deram o azar de ter o penta no caminho.

Júlio recuperou-se, mas foi humilde o suficiente para reconhecer as próprias falhas do passado, o que nem sempre acontece entre alguns ex-jogadores que insistem em figurar como papagaios de pirata da glória da Seleção. Só a humildade distingue os campeões entre os vencedores. Também humilde e ainda sob dúvidas, o Brasil chega entre os oito. A sexta será um pandemônio contra os colombianos.

Esteja onde estiver, Barbosa sorriu e também ficou aliviado. Ele também merecia um Felipão. Em 2014, o Maracanazzo é apenas a nostalgia do uruguaio triste.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: pra

2 Comments

  1. “Sob os ombros“ ou “sobre os ombros“?

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