Ninguém vai me dizer o que sentir/ meu coração está desperto/ é sereno nosso amor e santo este lugar/ dos tempos de tristeza tive o tanto que era bom/ eu tive o teu veneno/ e o sopro leve do luar/ porque foi calma a tempestade/ e tua lembrança, a estrela a me guiar/ da alfazema fiz um bordado/ vem, meu amor, é hora de acordar”
(Renato Russo, “Soul Parsifal”, 1996)
Há quem diga que as reações extremadas por conta da eliminação do Fluminense na Libertadores sejam decorrentes da paixão.
Não sei dizer. Minha paixão é outra desde sempre.
Quando fui criança e passei a ficar louco por esse time, eu chorava nas derrotas mas queria imediatamente a próxima rodada, o próximo jogo, a próxima parada.
Depois, a paixão assentou e se transformou num amor que não se mede, num amor que não tem limites e mora sereno, discreto no peito como deve ser.
Só há de me entender quem já viu um poeta se apaixonar para sempre e sempre por uma bailarina em sua apresentação à ribalta. Ou quem viveu um Manoel de Barros, um Rubem Braga, um Vinicius de Moraes.
Eu falo de amor e não de rancor.
O amor não se resume a vitórias, não se conta apenas por títulos.
O amor é outra coisa, outra palavra.
É estar junto a todo instante e não apenas nas conveniências. É buscar a essência e não a aparência. É mergulhar na surpresa, é se entregar. É não ser óbvio. É escutar o berro da estátua.
Amor é reacender a cada dia a chama do próprio amor, não soprá-la ao primeiro revés.
Quem tenta ver o futebol com a rigidez empresarial do mundo corporativo está perdido – respeito mas lamento. Seria melhor não perder tempo com jogos do Flu, utilizando-o em leituras da Forbes e congêneres.
O Fluminense não se tornou uma porcaria porque não ganhou a Libertadores. Sua luta agora é simplesmente o pentacampeonato brasileiro. Tem defeitos, vários, como tantos outros times, é a hora de corrigi-los. Não vinha bem, não vem. Isso é outra coisa. Preferiam o quê: Rissut? Jorge Rauli? Alaércio? Façam-me o favor.
Por um instante, horas depois do jogo, cheguei a ficar assustado: alguns mais exaltados chegaram a dizer que seria uma falácia de minha parte quando afirmei – pela centésima vez – que não trocaria dez Libertadores pelo centenário de 1995. E nem dez rebaixamentos. A quem desacreditou a minha verdade, resta apenas a petulância imberbe de querer estabelecer a verdade nos corações alheios – não conhecem direito o velho Paulo. Trocar 1995? Jamais! Só loucos ou completamente ignorantes do ponto de vista da história do clube não são capazes de reconhecer aquele dia e aquele ano.
Eu falo do meu amor.
Nenhuma perda de Libertadores o abala. Nada.
A terceira divisão não abalou, que dirá essa obsessão tupiniquim imbecilóide – como se o mundo do futebol só tivesse um campeonato importante? – “Ah, sem a Libertadores não somos nada”, com todo o ridículo contido nesta sentença.
Não há um tricolor vivo ou morto que não quisesse esse título. Mas não foi possível. Futebol não é ciência exata, longe disso.
A vida do Fluminense não se encerra na Libertadores. E nem começou nela. Quando a Libertadores foi criada “oficialmente” (1960) ou, na essência, em 1948, o tricolor já tinha décadas de vida, glórias e vitórias.
Ainda temos muito a viver.
Todos nós queremos um dia a Libertadores. Ela virá. É questão de tempo.
O que nos diria o velho mestre Nelson Rodrigues aos que se doem loucamente por essa perda como se o mundo tivesse sucumbido ou que nossa história nada valesse sem essa taça? Algo como “Os idiotas da objetividade levantaram-se de suas tumbas de rancor, como se pudessem medir a Via Láctea do Fluminense em um ano ou semestre”. Ou muito pior: seria ótimo ver o mestre no auge da forma hoje, atirando incorreções políticas para todos os lados diante das sabichonas da internet.
A dor dói. E doeu perder.
Quem gosta? Ninguém.
Mas não é o caso de faniquitos. Os mesmos que caíram em frenesi pela derrota não se pouparam de saudar Adriano Magrão como um deus em 2007, por exemplo.
A vida segue e os caminhos do Fluminense são veias cheias de sangue novo, pulsante. Dirigentes passam, jogadores passam, poderosos dizem adeus e a mais-que-centenária camisa cumpre sua missão de eternidade.
Outro dia, ingenuamente escrevi sobre um fim de estrada. O que eu queria dizer na verdade era um fim de trilha. A estrada, propriamente dita, é imortal.
Ainda carrego comigo os golaços de Rubens e Cristóvão, a cabeçada do Pintinho, a defesa de pênalti de Paulo Goulart, tudo num Fla-Flu de 1979. Trinta e quatro anos depois, sou a mesma criança em busca das melhores imagens de sua vida num campo de futebol qualquer. Jamais desistirei.
O caminho agora é a luta pelo pentacampeonato brasileiro.
Por isso mesmo, sem tempo para lamentações de minha parte.
O amor sabe perdoar, esperar e não se limita às vitórias. Ele é muito mais do que isso.
O amor é imensidão e não cabe numa sala de troféus imensa – estes, esta, aliás, temos aos montes.
Empenho ao tricolor o mesmo sentimento que dedico à mulher que eu amo. É amor que não se mede e que, nos fracassos, dobra de tamanho ou triplica.
Domingo tem jogo. Esse meu louco amor. Ele não parou na quarta-feira. E nem para por aqui.
“Só quero saber do que pode dar certo/ Não tenho tempo a perder”
(Torquato Neto)
Paulo-Roberto Andel
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Andel: Caro Davi, aqui ninguém se enganou. Tenho 35 anos de arquibancadas e o trabalho de alguns anos recentes em prol da história do clube. Amar o Fluminense é bem diferente de não ver seus erros. Literatura não é jornalismo. Eu não sou o dono da verdade. Obrigado pelo comentário. ST
O problema foi exatamente esse: não vencemos nossa paixao e deixamos nos enganar. Eu nunca acreditei nessa inverdade de melhor elenco do brasil. Seria se esses jogadores jogassem bola, mas têm gente q o bom futebol não sai do passado. É claro q a raiva vai passar e agente vai continuar sendo apaixonado, mas eu sou de família,b esse time vai ter q suar para me reconquistar. FOOOOOOOOOOORA ABEL, vc é ruim demais.
Talvez esteja na hora de o Flu repensar seu elenco e buscar alguns reforços. Temo, no entanto, que ocorra um desmantelamento do time, sem contratações e apenas com renovação juvenil. De acordo com o Peter o caixa está ruim. O momento é muito delicado e uma coisa é certa: o Flu precisa mudar e urgentemente.2013 definitivamente não está bom e os jogadores e o técnico aprecem não ter mais coelhos na cartola para tirar e surpreender. Parece que esgotou a capacidade do time de inovar. Se não houver uma mudança radical na forma e pensar no clube 2013 não vai ser bom.