Diniz, é claro que o Fluminense tem dinheiro (por Paulo-Roberto Andel)

O mundo mudou, tudo mudou, o Bragantino mudou mas é impossível esquecer a semifinal do Brasileiro de 1991.

Jogamos mal naquele dia, mas nossa campanha tinha sido linda demais. Só chegaríamos à classificação vencendo cinco jogos consecutivos, e conseguimos.

Aquele jogo foi um dia inteiro pra mim. Começamos cedo, fomos dar uma volta do Centro até Icaraí pela orla. O Luiz foi comigo, ele ainda era garoto. Eu também era, mas menos: com 22, 23 anos, você ainda acredita na humanidade e em amigos que, em algum dia, vão te deixar na mão. E haja história: depois da caminhada, cometi um erro crasso ao entrar no 232, na praça XV. Quatro malandros sentados em bancos diferentes esperando a hora do bote. Pensei em fazer a afronta e sentar ao lado de um deles, o que atordoaria a ação do resto, mas era um risco com o Luiz. Fomos pro último banco, eu bem no meio, em posição de dar um chutão quando o primeiro viesse. Os caras cantando, fazendo piadinha, olhei bem pra eles e aí pararam – todo covarde tem medo quando algo não sai do jeito que ele planejou. O ônibus desceu toda a Presidente Vargas, área natural de assaltos, eles não vieram. Pensaram duas vezes. Saltamos na Praça da Bandeira e fomos comer uma suculenta lasanha na Parmê da Afonso Pena.

O Maracanã ficou bem cheio, mais do que qualquer jogo hoje em dia, 75 mil pessoas. O Bragantino não tinha nenhum craque, mas coletivamente era espetacular e, para piorar, dirigido por Parreira. O Fluminense cresceu na competição e tinha pelo menos quatro jogadores de alto nível: Valber, Torres, Renato e Bobô, além dos gols de Super Ézio – já a caminho da idolatria – e da segurança de Ricardo Pinto – favor não tentar reescrever a história por cólera oca. A gente acreditava, mas o domingo foi triste, não jogamos nada e, no fim, por conta do esdrúxulo regulamento – se o time com mais pontos vencesse o primeiro jogo, o segundo virava um amistoso -, o Flu provou do seu tradicional veneno, tomando um gol de Franklin (um dos melhores jogadores da história do nosso futebol de salão) aos 43 do segundo tempo. O Braga tinha ótimos jogadores como Mauro Silva e Mazinho, além de vários ex-tricolores levados para lá por Vanderlei Luxemburgo: Silvio, Franklin, Robert, Alberto, Ronaldo Alfredo etc.

Perdemos. Choramos. Há seis anos sem títulos, era a segunda semifinal do Brasileiro em que não avançávamos. Outras viriam, como em 2001 e 2002, até o fim da longa espera em 2010 – que já ficou 13 anos para trás.

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A justa eliminação de quinta não impõe terra arrasada ao Fluminense, mas pede lucidez nas análises.

Fernando Diniz falou na coletiva que o momento de contratar fica atrapalhado porque o Fluminense não tem dinheiro.

Pera lá, tinha dinheiro sim, e para fazer um time bem mais forte do que o atual. Não fez porque MaBi não quis – e ele conhece muito bem de futebol para se deixar enganar por “escolhas erradas”.

Quanto custou Cris Silva ano passado e Guga agora em 2023? E Marrony? E Alan?

Até agora estamos pagando Willian Bigode, não adianta orar.

Desde que chegou, Felipe Melo custou mais de 10 milhões ao Fluminense.

E se formos antes da Era Diniz, tome Bobadilla, Abel Hernandez, Casares, Hudson e a rapaziada.

Segundo a grande imprensa, Diniz pediu a contratação de Thiago Santos, que vinha levando a torcida do Grêmio à loucura.

Para fazer esses negócios é que o Fluminense precisa vender antes da hora um Luiz Henrique, um Matheus Martins e tantos outros garotos, numa lista preparada pelo nosso Edgard FC que, claro, virou pauta de sites e blogs que sequer procuraram investigar a autoria e dar crédito, mas tacaram em suas páginas – depois querem falar de ética e responsabilidade jornalística, uma piada.

O Fluminense tem dinheiro sim. Há anos faz boas campanhas nacionais, recebe cotas milionárias, negocia muitos jogadores – é o maior vendedor do Brasil – alguns por uma fortuna -, mas gasta mal demais, geralmente trocando potenciais nomes de Xerém por veteranos com altos salários. Em alguma hora a conta chega.

E não adianta vir com a conversa fiada de que todos os clubes operam com empresários para justificar situações extraterrestres do Fluminense. Alguém pode considerar ética a entrada permanente do limitado Pirani em campo, jogador cujos direitos federativos estão vinculados ao mesmo empresário do treinador?

Calma. Ainda não falei de Alexandre Jesus.

Falando nisso, respeitada a idolatria e o passado glorioso, o que faz Fred hoje no Fluminense, alguém sabe dizer? Coordena as divisões de base, é isso? Mas o que significa na prática? Com seu histórico no clube, Fred não poderia ajudar a encontrar na base um lateral ou um volante, de modo a não desperdiçar recursos com Pirani ou Thiago Santos, por exemplo? Por que não o fez?

Não existe terra arrasada alguma e o que se espera neste domingo é a recuperação do time que, mesmo com vários problemas visíveis, encantou o Brasil – mesmo sem enganar parte da torcida que, mais atenta, já percebeu que certas jogadas ensaiadas do Fluminense não dão certo em campo, mas fazem muito sucesso fora das quatro linhas. E, ao contrário do que se pensa, muita gente já percebeu isso. Basta ler os balanços ressalvados.

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2 Comments

  1. Mais uma perfeita análise. Aliás, o texto de não ter dinheiro é algo tão batido nos clubes brasileiros…. afinal, que péssima administração é essa? Anos e anos, negociatas mil e quanto dinheiro que entra, mas sai pelo ralo nas péssimas ou…. interesseiras negociações… ? Bora buscar e manter nossa história de titulos! ST ❤️

  2. Andel, como tudo que já tá ruim pode piorar, já se fala numa manobra pra se alterar a regra e perpetar o MB indefinidamente no poder. Pra isso há mobilização, pro voto online nem pensar. Sendo assim, aos 55 ou 60, TS3 volta pro clube. ST….

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