Deus e o diabo na terra da garoa (por Paulo-Roberto Andel)

 

 

Alguma coisa pode ter acontecido no meu coração enquanto Deus escrevia suas cartas e o diabo pensava às sete e meia da noite de ontem. Deus estava num canto da sala e espiava, o diabo pensava em armadilhas enquanto vestia rubro-verde. O diabo atacava e atacava, Deus defendia as vestes do Fluminense como nunca. O diabo impunha um bom futebol, Deus livrava as Laranjeiras como era possível. E houve chutes e passes e dribles. E houve uma enorme correria da Portuguesa, de tal forma que os Leões da Fabulosa rugiram por toda a Pauliceia. Sim, o Fluminense era o senhor da razão, o líder do campeonato e precisava consolidar tal posição. Não, o Fluminense não cumpria uma jornada digna da liderança e pode-se até dizer que foi dominado, mas não um domínio avassalador, humilhante e sim um domínio leve: o diabo atacava, atacava, muitas vezes finalizava, mas não concluía como devido, para nosso alívio. Os minutos foram grãos de ampulheta, esvaíram-se num estalar de dedos, logo terminou o primeiro round e o diabo parecia sorridente, tão sorridente quanto os fantasmas da Gávea a preverem nossa derrocada. Mas o Fluminense estava vestido com as cores de Deus – e até ateus como eu souberam celebrar este momento. Não voltamos do vestiário do Canindé com o ímpeto de campeões que temos carregado nesta jornada de meses, o diabo era a Portuguesa com suas cores vivas, sua pequena torcida vibrante e uma disposição de causar inveja. Voltamos a viver o jogo e os dramas. Disputas, catimbas, velocidade, criávamos pouco para quem queria vencer o confronto. Em casa, o diabo não se entregava: desferia golpes, ameaçava com a tríade, queria ser mortífero. Mas quis o destino e os caminhos de Deus que o Fluminense fosse o senhor da morte na noite de ontem. O gol de Jean, tão merecido pela excelente campanha que faz este atleta, foi um tiro na nuca, foi uma bala de canhão e nem o eterno vencedor Dida foi capaz de impedir. O gol tricolor foi um prenúncio da morte do drama, mas nada, senhores, nada é fácil para o gigante das Laranjeiras. Todos roemos nossas unhas quando eles poderiam ter empatado um minuto depois. O diabo sorriu e insinuou que aquele tiro de Jean não passaria impune. Mas o diabo não é Deus e, por isso, logo em seguida Wellington Nem foi também um anjo da morte: pressentiu, arrancou, tomou a dianteira, driblou Dida e mandou o mau presságio para o inferno. Não, não foi fácil, o diabo nos ameaçou. Sim, o Fluminense tem seguido o caminho da paz, o mar da tranqüilidade e coronel nenhum há de ameaçá-lo em qualquer sertão que seja, nenhum João das Mortes é páreo para nós. Em Belo Horizonte, os homens de branco e preto já gargalhavam nas tabernas quando o Fluminense foi tão mortífero que, mais uma vez, desafiou o muito difícil e o pôs ao chão. Em poucos minutos, um jogo tão difícil tornou-se galinha morta. A Portuguesa foi valente, briosa, muito ameaçadora, mas vestiu-se com as cores do diabo e não logrou êxito. O Fluminense, cascudo como Caldeira diz, não cai nos nervosismos – nossa bandeira é Cavalieri, o homem de gelo debaixo das traves tricolores. O diabo foi forte e perigoso, mas Deus o dobrou em dois golpes rápidos e definitivos. No bar das Laranjeiras, ninguém reclamou dos garçons. No Vieira, o filé estava impecável. Em certo instante, Manu apareceu bonita como nunca. Leo gritou, eu sorri e chorei num segundo. O Fluminense tem a dianteira, o Fluminense tem a fidalguia, o diabo não resiste a um chute de Jean ou a um drible de Nem. Deus sorriu para Álvaro Chaves. Somos líderes, muito líderes.

 

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor/ FluNews

@PanoramaTri

Imagem:

Contato: Vitor Franklin

Com livre citação das obras “Deus e o diabo” (Titãs, “O’blesqblom, 1989) e “Deus e o diabo na terra do sol” (Glauber Rocha, 1964)

 

4 Comments

  1. Mais um penalti não marcado, desta vez em Fred, a arbitragem já vem dando sinais há muito tempo que vai tentar atrapalhar o tetracampeonato tricolor, muitíssima atenção neste sentido diretoria.

    Sábado mais uma final contra o atlético-go.

  2. Quem disse que não temos mais crônicas e cronistas esportivos como antigamente, nos tempos do nosso TRICOLOR imortal Nelson Rodrigues e, depois e abaixo, o simpático Armando Nogueira?

    Está nascendo um novo TETR4! E, junto, um novo cronista, TRICOLOR da melhor lavra, a escrever com as cores e o brilhantismo que nós, TRICOLORES, queremos e merecemos!

    Chupa, organizações grobo e framídia em geral!

    Saudações TRICOLORES!

  3. EXCELENTE TEXTO….

    FLUZÃO ESTÁ ABENÇOADO POR JOAO DE DEUS NOSSO PADROEIRO, QUE QUER PORQUE QUER ESTE TETRA IGUAL NÓS

    SAUDAÇÕES TRICOLORES

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