Deco (por Paulo-Roberto Andel)

DECO HOJE

Um dos jogadores mais talentosos que já vestiram – e vestem! – a camisa do nosso Fluminense desde 1978, ano que cito por ser a minha “estreia” nas arquibancadas.

Gênio da bola, príncipe do passe, dos lances de efeito, matadas e dribles desconcertantes.

Deco faz jus a outros craques que nos defenderam perto do encerramento da carreira, caso do monumental Gerson. Quem vê seus lançamentos de quarenta metros pensa em Delei. Ao mesmo tempo, ele é uma síntese de nossos tempos modernos em conjunção com o passado admirável.

E todos sabemos que são os momentos derradeiros – mas não os últimos, numa saudável contradição – de uma carreira enorme, espetacular e que deu muito brilho ao Fluminense. A espetacular partida contra o São Paulo em Barueri, nos 4 x 1 que nos encaminharam para o título monumental em 2010. O golaço contra o América do México na virada por 3 x 2, Libertadores 2011. Aquele gol contra o Vasco na final da Taça Guanabara de 2012, que abriu caminho para o nosso ano de glórias. E quanto Deco não teve de importante na campanha do tetracampeão em 2012 também? Tudo.

Agora surgiu o problema da furosemida, talaminodricafeína, qualquer dessas coisas e porcarias que são tão proibidas pelo “bem do esporte”, enquanto hipocritamente sabe-se que outras substâncias não “aparecem” regularmente em exames – alguém tem dúvidas de que, até pela mazela social que é em todos os setores, o consumo de cocaína aparece muito pouco em casos relacionados ao futebol? Pois bem. Mas não é o caso de justificar um problema com outro. É outra coisa.

Deco fez e faz muito pelo Fluminense, mesmo que hoje não esteja no melhor de sua forma e, infelizmente, perto do fim da carreira – e não NO fim, ressalte-se. Ainda não teve um 2013 à altura de 2012, mesmo com alguns momentos geniais. Eu queria falar aqui apenas de justiça ao craque. De gratidão. Sim, a ele sou muito grato por tudo o que já realizou pelas nossas cores. E como teria sido bom se tivesse vindo dois ou três anos antes. Cracaço.

Amanhã teremos uma ideia mais clara do que vai acontecer.

No entanto, uma coisa é certa: se os caminhos da lei obrigarem Deco a encerrar a carreira, quem perde muito é o talento do futebol.

Entendo perfeitamente meus companheiros torcedores que, por mais de uma razão, andam amuados e até dizendo que Deco já deveria ter se aposentado. Outros falam de Felipe. Tempos atrás, alguém queria até a aposentadoria de Fred. A passionalidade é uma característica presente em muitos torcedores e isso é compreensível.

Apenas discordo.

Miles Davis foi um dos maiores gênios da música. Quando diziam que poderia entrar em decadência no fim dos anos 60, criou o jazz-rock, estabeleceu conceitos de vanguarda que duram até hoje, abriu caminhos para o hip-hop e faleceu saudado como um verdadeiro superstar do rock. No entanto, em tudo o que fez, Miles jamais abdicou do jazz.

E o que Deco fez e faz nos gramados é jazz. Às vezes difícil de explicar, mas fácil de sentir: uma jogada inesperada, surpreendente, desafiadora de conceitos e exigente de toda perícia. Aos que tiverem dúvidas, o YouTube é franca testemunha. Jazz é para sentir, é o pulsar nas veias.

Tomara que ainda não seja o fim.

A estrada ainda não acabou.

É claro que tenho minhas esperanças: diziam que em 2011 Deco estava acabado e ele fez um 2012 espetacular de cabo a rabo. Por que não um raio cair duas vezes no mesmo lugar? Afinal, isso tem a ver com a eterna sina do Fluminense. Do perna-de-pau, nunca se pode esperar muito; do craque, sim.

Um jogador do quilate de Deco não merece ter sua carreira ceifada dessa maneira, é o que penso. Mesmo que ela ainda dure pouco, talvez até o fim deste ano. Mesmo que tenha acontecido um erro. Seria injusto demais. É melhor que ainda tenha seis meses a mil por hora, o que não é impossível.

Para alguns, a águia do Atlântico Sul parece destinada ao pouso final.

Eu sou do contra: ela ainda está em pleno voo e o horizonte há de trazer bons presságios.

E se a estrada ainda não acabou, o que dizer dos ares?


Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

4 Comments

  1. mais uma vez brilhante em suas colocações!
    concordo com tudo! pra mim, o DECO é o mago, esta numa fase ruim,porém, não o diminui em sua habilidade com a bola…ele manda e demanda e a bola obedece. a passionalidade,ate,entendo.porém, não justifica a crueldade com que muitos vem tratando o craque do time. Acredito na absolvição dele e na sua volta estupidamente bem jogada.
    DECO ESTAMOS JUNTOS!
    ST.

  2. Andel, concordo com tudo que você escreveu sobre o Deco!
    Você conseguiu traduzir em lindas palavras o que é um craque. Ele é.
    Infelizmente, não me lembro quem disse: “para construir, anos e anos, para destruir basta um minuto. É a pura verdade.
    A torcida do Flu devia apoiar o jogador. Penso assim

    Abs

  3. Deveríamos esperar o desenrolar dos fatos antes de julgar. Existe a contra prova. Odeio a NETFLU

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