Copa, protestos e futebol (por Jorge Dantas)

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UM GIGANTE QUE DESPERTA DE SEU SONO

A Copa das Confederações começou sem surpresas e os favoritos venceram.

Assisti ao jogo do Brasil contra o Japão no Estádio Nacional de Brasília (prefiro chamar de Estádio Mané Garrincha), que por sinal está belíssimo e bem construído. Impressionou-me, além da beleza do Estádio, a facilidade com que mais de sessenta e cinco mil pessoas entraram e saíram da arena sem nenhuma dificuldade ou tumulto.

No gramado os japoneses não ofereceram resistência ao scratch nacional. O gol no início do jogo facilitou a vida da seleção brasileira. Porém, o Brasil não jogou tão bem como o placar pode sugerir. Não fosse esse gol relâmpago acredito que teríamos grandes dificuldades de vencer, pois o time não criou jogadas, limitando-se a tocar a bola na defesa e no meio de campo, sem jogadas de profundidade.

Dos jogos que vi apenas a Espanha foi admirável, apesar de o placar não refletir o seu imenso domínio de jogo sobre o Uruguai. Os espanhóis jogaram fácil, impuseram seu estilo de jogo e fizeram os gols quando quiseram. A sorte dos uruguaios foi que a fúria cansou e se desinteressou do jogo, senão teria aplicado uma sonora goleada nos platinos.

A Itália também mostrou força e futebol coletivo. É também uma séria candidata a levar a taça.

No futebol parece que o Brasil acordou depois da vitória sobre a França. Se ainda não resgatou o futebol empolgante de outras décadas pelo menos não está dando o vexame que muitos pensavam e até torciam.

Fora dos estádios a população parece que também desperta de uma longa apatia. O torneio da FIFA tem dado oportunidade aos estudantes, principalmente, para manifestar sua insatisfação pelos caminhos que o país vem trilhando nos últimos anos. A vaia uníssona que ecoou no Mané Garrincha foi uma crítica aguda ao governo federal e um sinal de intolerância ao oportunismo de políticos, que insistem em se aproveitar de grandes eventos como se fossem palanques eleitorais.

Nas ruas, a população aproveita a exposição do Brasil no mundo para realizar passeatas e protestar contra a política do Governo, que coloca o país sob risco de recessão, contra a corrupção de políticos improbos e impatriotas e contra a inexplicável omissão da Justiça. A juventude, como sempre, cumpre o seu papel e sai às ruas para demonstrar que o Brasil precisa mudar e que o povo não é tolo e nem se submete à manipulação das políticas retrógradas e populistas. E também não aceita que os movimentos sejam usados por baderneiros e por políticos de ocasião, que se infiltram nas passeatas para levantar bandeiras e promover quebra-quebras. Nada mais legítimo e necessário.

Meu coração está pleno de orgulho, não pela organização da Copa das Confederações ou pela vitória da seleção, mas pelo resgate da cidadania e da confirmação do estado de direito e da democracia brasileira. Com os devidos descontos dos exageros das polícias e dos baderneiros. Que bom que o Brasil desperta e reage.

BANGU ATLÉTICO CLUBE, CAMPEÃO MUNDIAL EM 1960

Tomei conhecimento esta semana que o Bangu já foi campeão mundial em torneio organizado pela FIFA. É isso mesmo! Trata-se da International Soccer League de 1960, realizado no período de 6 de julho a 8 de agosto de 1960, em Nova Iorque, Estados Unidos.

Informações extraídas do site Wikipédia dão conta que o The New York Times e o O Estado de São Paulo, ambas edições de 24 de maio de 1961, noticiaram que a competição tinha a autorização da FIFA, a qual cita a International Soccer League em seu site oficial.

Participaram do torneio 12 times de 12 países diferentes, com a escolha baseada na suas respectivas classificações nas temporadas 1958/59 e 1959/60. O Bangu, vice-campeão carioca de 1959 foi o time brasileiro convidado, após o Fluminense, campeão daquele ano, ter recusado o convite.

No time do Bangu jogavam Zózimo e Ademir da Guia. O técnico era o Tim, que foi o técnico campeão pelo Fluminense em 1964.

O Bangu foi campeão depois de vencer o Sampidória da Itália por 4×0, o Rapid Viena da Áustria por 3×2, o Sporting de Portugal por 5 x 1, o Estrela Vermelha da Iuguslávia por 2×0, empatar com o IFK da Suécia por 0x0 e vencer na final o Kilmarnock da Escócia por 2×0 diante de 25 mil pessoas, um público extraordinário em se tratando de futebol na década de 1960 nos EUA.

Jorge Dantas

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

3 Comments

  1. Caro Jorge que belo artigo. O final foi primoroso, para um momento histórico como o que vivemos nos dias atuais: futebol, consciência social, informação e memória. Elementos que compõem o pano de fundo dos movimentos que estamos integrando e vivendo. Abs, Roberval

  2. Me permita comentar por aqui como já fiz em outros sítios, caro J.Dantas,
    mas o futebol é o de menos hoje, a “Primavera da Copa” é uma realidade… A palhaçada generalizada que baila descaradamente no Brasil, por fim, conseguiu acionar o gatilho do gigante adormecido. Será que foi o ROMBO da Copa? Será que são as mentiras que diariamente nos querem vender os veículos de “informação” nas suas versões Lucy in the sky with diamonds, em geral, com objetivos escusos de defender o interesses de poucos sobre as necessidades de quase todos? Será que foram os centavos a mais generalizados no transporte? Não sei, prefiro acreditar que a paciência do brasileiro de todas as classes sociais, com as patifarias organizadas pelo setor público/privado, em todos suas combinações matemáticas possíveis, finalmente, mostra sinais de término. INFELIZMENTE, sempre existirão os bandidos, covardes e oportunistas de plantão, sempre prontos para agir e que terminam por enfraquecer o movimento. Torço muito para que não consigam, vá e vença povo brasileiro.

    ST4

    1. Acho que todos esperamos isso: que o brasil mude e que haja mais justiça social. É bom ver o povo na rua, é bom ter a consciência de que temos poder. Tomara que isso seja o início e a sedimentação de um nova consciência social e de cidadania, que se reflita nas próximas urnas, não se elegendo Sarneys, Malufs e outros legítimos representantes da exploração e da corrupção.

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