Conca, ídolos e mercenários (por Marcus Vinicius Caldeira)

1.

Ontem, passei a tarde inteira fora das redes sociais e não pude acompanhar o Fluminense na Copinha e na Florida Cup. O motivo era mais que justo: estava tocando com meu grupo de samba que, por acaso recebeu a visita da espetacular Velha Guarda da União da Ilha do Governador, a segundo escola de samba de todo carioca.

Chegando em casa ávido por saber os resultados dos jogos, além de ver os reveses nos jogos, percebi uma movimentação intensa nas redes sociais por mais uma iminente saída do Conca. Pensei: “Lá vem a imprensa especular”!

Aí leio uma entrevista do Mário Bittencourt que diz o seguinte:

‘O Conca nos chamou para uma reunião e comunicou que havia chegado uma proposta para ele. Segundo ele, muito boa do ponto de vista financeiro. Irrecusável. Nos disse que a vontade dele é aceitar. Nós dissemos a ele que essa possibilidade só existe quando o Fluminense receber a compensação da multa de rescisão. Situação simples, direta e reta. Fizemos uma contraproposta para ele, mas disse que não tínhamos chegado nem perto. Não abriu valores, o que é direito dele. Se é da vontade dele, obviamente que vamos respeitar desde que seja respeitado o desejo do Fluminense. Ele é um grande jogador e ídolo da torcida, o mínimo que queremos é uma compensação financeira conveniente. Se ele não quer, não podemos ter ele no clube insatisfeito”.

Ao ler essa entrevista percebi que a coisa é séria. Mais uma vez o argentino deixará o clube para ganhar milhões na China. Na primeira, o apoio a saída dele foi total. Tinha dado seu quinhão ao Flu na conquista do Brasileiro do 2010, óbvio que tinha o direito de fazer sua independência financeira eterna, afinal parece terem sido mais de 2 milhões de reais por mês em três anos. Façam as contas (fora os milhões que já tinha ganho no Fluminense).

Lembro-me que em seis meses queria voltar, pois não aguentava a vida na China. Só que os chineses são duros. Se não há democracia lá, você acha que vão aceitar perder dinheiro por qualquer coisa? Conca ficou.

Na volta, pensei: “Conca já está com o boi na sombra, agora encerra sua carreira no Fluminense e vira ídolo eterno”! É muito cedo para falar, pois no futebol tudo é muito dinâmico, a certeza de hoje é a dúvida de amanhã. Mas, pelo visto, ledo engano. Ao menor sinal de que as coisas não irão bem financeiramente para ele, vai pedir o boné. É verdade que temos que ouvir o  outro lado. Esperar o Conca se pronunciar. Mas acho pouco provável que o Mário Bittencourt esteja mentindo.

Se Conca fizer isso, estará jogando a idolatria que boa parte da torcida tem por ele no lixo. Não tenho dúvida disso. Inclusive falo por mim. Não espero altruísmo dele. Jogar de graça. Hoje, o Fluminense paga quatrocentos e cinquenta mil a ele. A Unimed mais trezentos mil. Parece que a Unimed não vai pagar a parte dela. O plano de saúde parece que fará a opção por disputar na justiça a quebra de contrato que está fazendo com os jogadores. Não sou advogado, não posso opinar, mas parece uma causa ganha pros jogadores. Só que Conca está com medo.

O Fluminense fez uma contraproposta para ele. Recusou. Parece que quer os milhões da China de novo.

Toda decisão na vida tem ônus e bônus. O brasileiro foi traficar drogas na Indonésia. Sabia das leis bárbaras de lá. Arriscou, se deu mal e morreu. Faz parte das decisões.

Na boa, se for isso mesmo, Conca, vá com Deus e seja feliz!

Só não fique com o discursinho de amor à torcida e ao Fluminense e não fique chateado por ter saído da condição de ídolo à de mercenário.

Faz parte dos riscos das decisões a serem tomadas na vida.

Se ficar, estátua na porta das Laranjeiras seria o mínimo.

A conferir…

2.

Nunca mais teremos um Castilho que jogou por vinte anos no clube e que mandou amputar um dedo para se livrar de uma contusão e continuar defendendo o Fluminense. Multi campeão pelo Tricolor e bicampeão mundial pela seleção, Carlos Castilho é de um tempo que nunca voltará. Tempo em que os jogadores entravam em campo por amor ao esporte e ao clube. E jogavam mais futebol que 95% das barangas com salários milionários de hoje.

E Pinheiro? Companheiro de Castilho na Santíssima Trindade tricolor – que era completada pelo lateral-direito Píndaro. Mais de seiscentos jogos com a camisa do Fluminense, campeão mundial pelo clube.

Queria ter sido desse tempo.

3.

A imprensa cria seus mitos. Um deles foi de que Romerito era mercenário porque vivia nas Laranjeiras cobrando dinheiro do Fluminense. Quem nunca ouviu a frase “Quero meu dinheiro”?

Pois bem, um dos meus maiores orgulhos é volta e meia quando o ídolo está aqui poder tomar umas cervejas com ele. E Romerito afirma categoricamente que isso foi uma mentira criada pelo jornalista molambo Washington Rodrigues e que este já até teria se retratado com ele.

Cuidado com o que ouvem e dizem.

4.

Edinho, um dos maiores zagueiros que eu vi jogar, cria do Fluminense que novinho já era titular da Máquina Tricolor, saiu do Fluminense pra jogar na Europa na época que isso não era praxe, só iam os super craques. Voltou foi pro Flamengo,

A torcida caiu de pau.

Só esquecem que ficou treinando quase dois meses no clube esperando a proposta definitiva para jogar no seu clube de coração e ela não veio.

Epílogo

Conca, a linha que divide a idolatria da condição de mercenário é tênue. Idolatria incondicional, só pelo Fluminense Football Club.

Tudo passa, só o Fluminense não passará jamais.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @mvinicaldeira

3 Comments

  1. Concordo.
    Digo mais, para jogar no FLU, tinha que responder a uma simples pergunta:

    – Pra jogar aqui vc tem que cortar 1 dedo…topa???

    se o cara responder que sim, contrata, se não manda pra PQP.

    ST

  2. Falou tudo, velho. Vamos esperar pra ver a verdade, mas a impressao eh que o Conca vai embora por dinheiro mesmo. Depois de ter acumulado R$ 60 milhoes na china POR CAUSA do FLUMINENSE, fora os milhoes que ja tinha ganho antes e ganhou depois… abandonar o clube nesse momento (com um salario ainda surreal, diga se de passagem) sera jogar sujo, coisa de mercenario.

    Se for embora, sera justo a perda da condicao de idolo para mercenario

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