Como você vê o Fluminense pelos próximos anos? (por Paulo-Roberto Andel)

Há três anos, fui convidado pelo site Flunomeno para um depoimento sobre o nosso time.

Parece incrível que as mudanças daquele momento para cá tenham sido para pior.

A íntegra da entrevista pode ser lida no link abaixo.

ENTREVISTA AO SITE FLUNOMENO – MAIO 2018 – CLIQUE AQUI.

MAIO DE 2018

Pergunta: Como você vê o Fluminense pelos próximos anos?

Resposta: O Fluminense vai viver, o Fluminense continuará a navegar.

Nada completa 116 anos à toa.

No entanto, a grande pergunta é: como o Flu vai navegar?

Todo cuidado é pouco e, por mais que o clube tenha vindo do começo do século passado até aqui, o que nos garante que chegará incólume ao começo do século XXII? Provavelmente falo aqui para torcedores mais jovens e posso atestar: quando criança, em fins dos anos 1970, eu fui ao Maracanã algumas vezes vendo o America do outro lado com bandeirão gigante e sua torcida maior do que a nossa. Onde está o querido e respeitável America?

Entendo que é preciso uma mudança generalizada: no clube, nas arquibancadas, nas finanças caóticas, na essência. O único lugar onde não precisamos mexer muito neste momento (MAIO DE 2018), por incrível que pareça, é o campo (com três reforços de boa qualidade, o Flu brigaria de igual para igual com todos os elencos multimilionários do futebol brasileiro). É fazer de Xerém cada vez mais a nossa fábrica de jogadores, mas trabalhando pelos retornos esportivo e financeiro.

Aquela velha expressão, “fidalguia tricolor”, precisa ser resgatada. Agrupar as pessoas, cativá-las, resgatar o velho espírito de equipe e banir os ódios – o hater é, acima de tudo, um incompetente que utiliza o ódio porque não tem mais nada de útil a dizer ou demonstrar. Pode pegar a lista de todos os que andam por aí mendigando atenção na internet às custas do ódio travestido de opinião: quem tem realmente currículo de verdade para servir ao Fluminense? Ninguém! Qual é o passado dessas pessoas? De onde vieram? É preciso saber.

Trazer mais sócios para o clube e realmente inseri-los no processo político, não como simples massa de coeficiente – ou manobra eleitoral. Não basta apenas o direito de voto, é preciso muito mais do que isso. Como um cidadão tricolor, eu quero ser ouvido e não apenas convocado a apertar o botão de uma urna eletrônica.

Os melhores nos melhores postos. Quem entende de torcida? Traz! Quem entende de arte, cultura e história? Traz! Quem conhece o clube de verdade, por dentro? Traz! Quem é capaz de trazer grandes parceiros econômicos para o Fluminense? Traz! Quem é capaz de ter boas ideias para agregarmos e expandirmos nossa torcida com ações práticas? Traz!

É preciso extinguir de vez TODAS as picuinhas politicas e libertar o clube de todos os seus feudos, todos sem exceção! Enquanto a discussão menor prevalecer, o casuísmo, a baixa politicagem, a falta de transparência dentro e fora do clube, ele jamais terá o tamanho que todos nós, ou quase todos, queremos. Acima de tudo, responsabilidade dos eleitores em 2019, sem velhas reprises ou falsas novidades que sempre foram do stablishment. E não adianta se escorar em anglicismos feito CEO, Manager etc: o Fluminense precisa de GENTE, gente que saiba ouvir, saiba aceitar sugestões e críticas, saiba apoiar e tenha atitude. Está faltando gente na acepção da palavra. Conheço muitos tricolores fundamentais para o clube que não são ouvidos em nada.

Na arquibancada, precisamos voltar a ser permanentemente a torcida unida, que joga junto sempre, sem vaidades pueris, daquela que encantava qualquer criança para sempre com sua liturgia: as bandeiras entrando juntas, a nuvem imortal do pó de arroz, a sensação de pertencimento. Com senso crítico sempre, é bom que se diga: torcida não é claque, nem nunca será. Mas quando a coisa é conduzida com serenidade, honestidade, diálogo e principalmente transparência, duvido que a torcida não compre a briga e apoie.

O clube precisa ser a casa dos tricolores, de apreço, e não um logradouro que faz o favor de recebê-los. Precisa ser uma referência, daquelas que todo torcedor nosso diga para o outro “Vamos dar um pulo por lá hoje?”.

Tudo isso precisa partir da direção do Fluminense. Ela, e somente ela, tem o poder para levar o clube ao patamar que sonhamos. E para que isso aconteça, é preciso que os dirigentes sejam mesmo compromissados com o futuro, colocando o Flu acima de suas vaidades pessoais e nichos políticos. Sem isso, sofreremos e colocaremos em sério risco as arquibancadas de nossos filhos e netos. Aliás, isso já está acontecendo agora.

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Às vésperas do aniversário de 120 anos, o Fluminense é um arremedo do clube que já foi um dia.

Há nove anos não ganha títulos relevantes. Hoje, a meta estabelecida por sua diretoria é conseguir uma vaga na Copa Libertadores. Disputar o título brasileiro, nem pensar. Copa do Brasil, nem pensar. No desprezado Carioca, enquanto o rival dispara nas conquistas, o Flu se satisfaz como um vice sem chances.

Depois de um ano e meio com arquibancadas fechadas, parece que a direção do clube e parte do elenco Tricolor estão fora da órbita terrestre.

Não pode haver vaias.

A torcida passa a ter a função de claque. Para quem não sabe, é o papel do auditório do Programa Silvio Santos (um tricolor). Lá, as moças riem, cantam e aplaudem, recebendo um cachet simbólico pelos serviços prestados. Não há críticas nem vaias, exceto quando encomendadas por SS. Tudo é belo e perfeito.

Só que um jogo do Fluminense não é como o Programa Silvio Santos. É totalmente diferente.

Há anos, o clube planejou uma claque na arquibancada, ao mesmo tempo em que satanizou as torcidas organizadas, potenciais ameaças de protestos e oposição. Para alguns, esse é o modelo ideal, mas não é coincidência que o apoio a este modelo seja contemporâneo da era sem títulos.

Torcida não é claque.

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Pior ainda é ver jogadores medíocres dando piti com vaias.

Gente que não sabe nada da história do clube.

Nestes 46 anos de arquibancadas, vi o Fluminense ser muito vaiado e aplaudido, às vezes no mesmo jogo.

Jogadores como Altair, Denilson, Flávio, Félix, Edinho, Carlos Alberto Torres, Carlos Alberto Pintinho, Paulo Cezar Caju, Rivellino, Deley, Rubens Galaxe, Mário, Zezé, Cláudio Adão, Ricardo, Assis, Washington, Branco, Renato, Romário, Edmundo e Deco, entre muitos outros, são símbolos marcantes do Fluminense. Quase todos foram campeões pelo clube, quase todos jogaram pela Seleção Brasileira, alguns foram campeões mundiais. Rubens Galaxe foi pentacampeão pelo Flu. Todos jogaram em times que, em algum momento, foram vaiados. Nenhum deles jamais fez gestos contra a torcida.

Quem é a claque para determinar quem tem que apoiar a mediocridade?

Que jogadores mequetrefes são esses para dar piti contra a torcida?

Que mentalidade estúpida entre jogadores é essa, de que jogam a serviço do patrão do vestiário e não da torcida?

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O Fluminense venceu neste sábado, mas saiu derrotado. Menor.

Venceu mas mostrou que a mentalidade predominante no clube está completamente errada, e precisa ser erradicada o mais rápido possível.

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Este modelo que sequestrou o Fluminense precisa ser interrompido. Sua reeleição é mais nociva para o clube do que o pior momento da nossa história, a temporada de 1999.

Naquele tempo o Fluminense estava nas cordas, mas a força da torcida o reergueu. O clube estava na terceira divisão, mas boa parte da torcida, a diretoria e a comissão técnica eram de primeira divisão.

Ontem, no Maracanã, testemunhou-se o contrário: o clube está na primeira divisão, felizmente, mas a diretoria, a comissão técnica e a claque que faz papel de torcida são de terceira divisão.

1 Comments

  1. Enxergo o futuro do Flu com pessimismo e desesperança. Gestões ridículas, promessas eleitoreiras, histórias mal explicadas, paraíso de empresários, jóias vendidas a preço de banana. Apresentações incompatíveis com o tamanho do Flu e Marcão dizendo que jogamos bem e perdemos por detalhes. Estao transformando o Flu em FLUMIVARZEA.FUTEBOL.CLUBE. ST…

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