Não.
Não existe o Maracanã como nos velhos tempos, os craques nunca serão os mesmos, os jogos não são mais às cinco horas da tarde de domingo, não temos mais o Torcedor Careca, e quarenta mil no outrora maior estádio do mundo não é motivo para dizermos que o estádio está vazio – aliás, hoje é luxo. Quem viveu aquela época, como eu vivi o finalzinho dela – a década de 80 – ajoelhe-se, erga as mãos para os céus e agradeça por ter vivido aquilo.
O primeiro jogo que vi no estádio não foi do Fluminense, embora eu seja tricolor desde os quarenta minutos antes da minha concepção. Meu finado pai pegou meu irmão e nos levou para um Flamengo e América, onde o Mequinha ganhou por 3 a 2 e tinha muito torcedor rubro no estádio. As imagens do gramado e o jardim roxo que ficavam atrás dos gols eram espetaculares. Só me lembro disso.
Não me lembro do primeiro jogo que vi do Flu do estádio. A primeira lembrança que tenho de Maracanã em jogo do Flu foi o Fluminense x Vasco de 1984, o segundo jogo, zero a zero com mais de cento e vinte mil pessoas no estádio, onde assisti pendurado na grade da arquibancada (onde colocavam as faixas das organizadas) com o pé para baixo. Antológico. A partir de então, virei apaixonado por estádio.
Mas a partir de 1987 com a Copa União e com 16 anos é que passei a ser rato do estádio. Com meu pais separados e numa pindaíba danada, todo domingo que ia ao estádio (e era quase todo domingo) pedia dinheiro para minha vozinha. E ela nunca me negou. Ainda ganhava o lanche da tarde e o dinheiro para o cachorro-quente Geneal com Mate (que logo passei a gastar com cerveja sem ela saber).
A arquibancada de cimento, o anel ao redor da arquibancada todo mijado, o torcedor Careca jogando pó de arroz em todo mundo e animando com o time ganhando ou perdendo, fogos de artifícios na “arquiba”, rolos de papel higiênico sendo jogados, balão, pipas, uma multidão e cerveja. Era um show. Todas as torcidas davam seu show ao seu jeito. Tinha a Charanga do Bangu e a Charanga do Flamengo. A torcida do Vasco tinha um grupo que tocava rock na arquiba. Hoje, o GEPE tem medo do pó de arroz e hastes flexíveis de bandeirinhas. Cerol de linha de pipa é proibido, soltar balão nem fora do estádio e fogo de artificio é usado para atirar em outra torcida. A modernidade do futebol, às vezes, é uma merda.
Mas é o que temos. O que passou não volta. Mas, confesso, na quarta o Maraca me lembrou estes tempos idos. Para começar, a cerveja voltou. Tinha que ser um político para fazer uma lambança dessas de proibir cerveja. E foi muito festejada a volta da bebida. Público de 34.000 pessoas e mais de 30.000 latinhas vendidas. Isso tudo na maior paz e alegria.
Quando entrei no estádio, a Eurico Rabelo estava fechada pela torcida do Fluminense, que alucinada cantava pelo time. Soube depois que a PMERJ, para variar, fez merda. Saiu tacando gás de pimenta em todo mundo para abrir a Eurico Rabelo. Um horror.
No estádio, a velha luta para comprar cerveja. Muito bom. Muito pó de arroz na entrada do time e mais de duas mil bandeirinhas tricolores como nos velhos tempos. Antigamente, toda família levava uma bandeira do Fluminense, então eram milhares de bandeiras. Sinceramente, revivi o clima de outrora. Não sou um saudosista inveterado. Sou senhor do meu tempo. Sou feliz aceitando o que a modernidade impõe, até porque agora há coisas boas também e antigamente havia coisas ruins.
Ontem, em suma, foi um luxo.
Sobre o jogo, muito já se falou. Jogamos muito no primeiro tempo. Poderíamos ter goleado o Palmeiras e o rato do Leandro Vuaden nos operou marcando um pênalti ridículo para os paulistas. Mas dane-se: vamos nos classificar para as finais dessa Copa do Brasil.
No jogo da final contra o Santos, abrirei uma cerveja no Maracanã e farei um brinde ao Torcedor Careca.
E seremos campeões.
Amém!
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @mvinicaldeira
Imagem: mvc/pra
Dá-lhe! Dá-lhe! Dá-lhe Nense! Seremos campeões!
velhos tempos….belos dias!!!
ST