Drogas, bobagens & apito (por Paulo-Roberto Andel)

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Antes de qualquer coisa: abomino julgamentos morais, linchamentos midiáticos e choques de ordem ética. Aqui, convido o leitor a uma reflexão apenas. Só.

Falarei de um problema que pode acontecer comigo, com você, qualquer um.

Michael, um dos mais promissores jogadores revelados no Fluminense, tem lutado com dificuldades contra um problema de saúde que poderia (ou pode) ceifar sua carreira e até mesmo sua vida.

Cocaína. A mesma que lhe impediu de jogar até setembro, dada a punição por doping.

Garoto novo, origem humilde, vindo do interior, o jogador foi cooptado por uma das piores mazelas sociais disponíveis no cenário cotidiano, encontradas em todas as classes e nichos sociais, aos quais o futebol não seria indiferente.

Desde já, a torcida para que tudo se resolva e Michael possa retomar sua vida profissional, de modo a honrar em campo tudo o que dele se espera como talentoso jogador de futebol. Oxalá tudo dê certo.

Outro problema, no entanto, reside em indícios de que o jovem atacante não é o único atleta do Fluminense atual a passar pelo mesmo problema de saúde.

A devida providência no sentido de averiguação e ação deveria ser realizada antes que mais uma manchete negativa ocupe os jornais, que gostam tanto do Flu quanto um gato aprecia um banho. E aqui menciono o problema por tê-lo apurado em fontes fidedignas próximas do rapaz.

Hoje, a única iniciativa concreta de combate aos indícios vem de um jovem e ponderado ex-jogador do clube que, à distância, tenta ajudar com conselhos permanentes, conversas e orientações insistentes, mas sendo solenemente ignorado; não por ser desimportante para o amigo, mas porque a doença pode (parece) estar desenvolvida. O nome do jogador é preservado aqui por conta de questões éticas e jurídicas (os indícios são claros, dados os relatos a este colunista).

Espero que o clube tome providências no sentido de identificar e sanar o problema. A começar por um exame. Melhor ainda seria que o próprio atleta, de futuro promissor, seguisse Michael e buscasse o apoio devido. Não deve ser motivo de vergonha o combate a uma doença, basta tratar.

Sem paternalismos nem falsos moralismos, cabe ao Fluminense inspecionar e zelar pela plena condição física e mental de seus atletas, até para justificar os expressivos salários pagos aos mesmos e fazer a prevenção, beneficiando os contratados, os patrocinadores e o próprio clube. É inaceitável que jogadores não estejam no melhor de suas formas por conta de drogas legais ou ilícitas, sob qualquer aspecto.

Infelizmente, os tropeços sobre o tema da saúde dentro do Flu vêm de longe. Não são exclusividade dos governos Peter, Horcades, Fischel e outrem de forma alguma. Também não podem ser meramente atribuídos aos excelentes profissionais de medicina que têm prestado serviços ao clube no decorrer dos anos. O tema supera qualquer questiúncula política e merece atenção ostensiva, uma vez que se trata de todo um problema estrutural.

Um craque da Máquina que não resistia regularmente ao “cheirinho da Loló” (e outros cheiros), metido num imbroglio em pleno voo no Galeão.

Outro craque dos anos 80.

Um promissor goleiro do fim dos anos 90, com atuações de destaque e que, num súbito, desapareceu para sempre. Motivo: contraiu sífilis (!), adoeceu sem tratamento adequado e teve que encerrar a carreira.

Um talentoso jovem do fim dos anos 90, campeão do centenário, confortably numb no alegre carnaval do Vital, no Espírito Santo.

Um zagueiro talentosíssimo do meio da primeira década de 2000, também perdido em ilícitos.

O desastre político e humano na demissão sumária do zagueiro Renato Silva por uso de maconha em 2007.

Mais recentemente, a incrível tuberculose contraída por Diguinho – que pode voltar ao clube, porque o “planejamento” o dispensou em dezembro e talvez cogite-o para o Brasileiro.

O Fluminense não é o único responsável pelos fatos mencionados acima, evidentemente. Mas participou deles, seja por inércia ou negligência. E perdeu dinheiro. Talentos. Possíveis títulos. O pior é pensar na vida arrasada de alguns destes personagens. O clube tem culpa quando um jogador fica doente pelo uso de drogas ou por outros fatores? Não. Mas existem maneiras de se reduzir e tentar prevenir os problemas desde as categorias de base. Questão administrativa.

Não é o caso de passar a mão na cabeça de jogadores, muito longe disso. E nem de encarar a questão com hipocrisia ou deboche. Mas o ambiente profissional do futebol exige controle, disciplina e cuidado com o próprio patrimônio – ou, ao menos, deveria exigir. Antes que se troque uma joia de Xerém por uma pedra de crack.

Meu objetivo aqui era, de alguma forma, tentar ajudar no que posso, dentro dos meus limites estreitíssimos, a alguém que sequer conheço pessoalmente mas que merece meu respeito, jogando ou não no Fluminense futuramente, com toda uma vida pela frente.

Jovem jogador, se você estiver lendo estas linhas ou souber delas, um pedido sincero: busque ajuda com seus amigos, sua família, quem te quer bem. Você tem futuro no futebol. Já mostrou isso na base e nos profissionais. Não perca sua vida com uma bobagem. Quem aqui pede humildemente é um homem que já enterrou amigos que sucumbiram frente à cocaína, que tem idade para ser seu pai e que ainda espera ver você bem, reconhecido pela torcida e brilhando no Flu.

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Falar muito, jogar pouco.

Já virou rotina no Flu desde o fim de 2012: acabou um jogo de péssimo resultado, volta e meia algum jogador (ou treinador) metido a comentarista abre sua Escolinha do Professor Raimundo nos microfones.

Quase uma estranha tara midiática que, além de não contribuir em nada, ainda atrapalha, geralmente revelando problemas internos e de salários, a serem resolvidos em escritório e não na televisão, passando por cima do mau resultado. Algo quase tão ridículo quanto o sujeito que leva zero na prova, tem a chance da segunda chamada, não estuda, leva outro zero e põe a culpa no professor (sem trocadilhos)…

Que o time atual do Fluminense iria oscilar muito, era evidente. Bastava ter acompanhado futebol minimamente para imaginar. E a torcida tem mostrado a paciência superlativa em relação aos acontecimentos.

No entanto, não consigo entender porque alguém da direção não intervém diretamente no sentido de impedir as sandices em forma de entrevista, ainda mais de quem tem claras limitações mentais. Pensando bem, entendo…

No time do Fluminense ninguém passa fome (afinal, com jogador pesando 100 kg…), precisa acordar cedo diariamente, pegar transporte público lotado e engarrafado, encarar jornada de oito horas diárias de serviço tomando esporro do patrão. Pelo contrário: não é nenhum sacrifício começar a trabalhar nas belíssimas Laranjeiras às quatro e meia da tarde, batendo uma bolinha. Milhões de garotos sonham com isso.

Contudo, tomou sacode do Horizonte do Ceará, abre a boca. Levou de cinco do América de Natal, boca. Quatro da Chapecoense, boca. Empata com o Tigres, boca.

Hora de trabalhar mais e escarrar menos palavras.

Depois de dois anos ridículos, 2013 e 2014, tudo que a torcida do Flu precisa é de gente aplicada em campo em vez de fanfarronice midiática. Nos últimos seis meses, foram três partidas convincentes: 1 x 0 sobre o Santos na Vila, 5 x 2 (inúteis) contra o Corinthians no Maracanã e o recente 3 x 1 em cima do Botafogo. Nada mais, nem no campo e à beira dele.

Quem tem salários atrasados tem todo o direito de reivindicar, mas não de expor o clube à toa. E nenhum tostão justifica (mais) uma partida pavorosa como a de sábado, independentemente da péssima arbitragem e dos gols perdidos. Foi de doer. O clube tem o compromisso de pagar em dia e oferecer boas condições de trabalho. O jogador tem o compromisso de estar à disposição física e tecnicamente falando, exceto quando contundido. No futebol profissional, peso de três dígitos e dez meses sem gols de quem joga na frente são impossíveis de se digerir.

Aos insatisfeitos, o direito pleno de buscarem novos horizontes profissionais. Ponto. Sem exceções.

Gordo, eu? Tenho 120 kg. Mas não sugo o Fluminense.

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Arbitragem.

Quem viu o jogo de sábado viu o estupro do rapaz do apito no Fluminense. Não confundir isso com a péssima atuação do time + Cristóvão (com raras exceções: o marcado Fred, Gerson e Wagner, pelo gol feito), mas é impressionante não haver matérias veementes a respeito.

O pessoal das redações deve ter se esquecido. Foi um lapso.

Igualzinho ao do caso André Santos em 2013.

É tudo mera coincidência.

Resta saber o que o clube fará diante de mais um assalto. Ou não.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: pulp fiction/miramax

#SejasóciodoFlu

2 Comments

  1. Sabe o que o clube fará em relação a isso tudo que vc bem relatou Andel… NADA!!! A atual situação do FLU não é culpa do Cristóvão, apesar de sua BURRICE sem precedentes, ou desses jogadores insossos contratados, mas dessa diretoria que deveria dirigir um clube de xadrez, ou damas, mas não um clube de futebol como o FLUMINENSE!!!

  2. ST****

    Concordando com o texto em sua íntegra, deixe-me apenas salientar quão humana e nobremente tratada foi a tóxico-dependência. Texto ímpar entre os da imprensa desportiva. Meus melhores parabéns.

    E Deus queira que o jovem atleta humildemente aceite tuas palavras, Paulo-Roberto; e, quiçá outros em semelhantes circunstâncias, atletas ou não, assim também o façam.

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