“Clichês” (por Mauro Jácome)

 

“Clichês”

“Resultado justo”. Esse é um clichê em meio a outros milhões que existem no futebol. Adoram isso. Eu detesto. No entanto, tenho que admitir que, mesmo não existindo no futebol, a justiça prevaleceu. Sem justiça, queria que o Fluminense ganhasse, mas o jogo foi muito equilibrado. Foi um equilíbrio de posicionamento, de ambições, de falta de criatividade.

A ausência de Deco tornou o “jogo burocrático”. Outro clichê muito utilizado no futebol, mas a verdade é que o Maestro é um mestre em belas jogadas, em jogadas diferentes. São lançamentos, passes de primeira; classe, categoria. No Engenhão, o que se viu foi o “feijão-com-arroz” presente na maioria dos jogos. Deco é, realmente, “um jogador diferenciado”.

O time de Abel tentou compensar a falta de talento na organização de jogo com muita movimentação. Principalmente no primeiro tempo, Wagner, Thiago Neves, Jean, Bruno, Carlinhos e Samuel trocavam constantemente de posições, tentando “confundir o adversário”. Não tiveram muito sucesso, porque, pelo lado do Botafogo, “a defesa estava bem postada”.

Quando perdia a bola, nove jogadores tricolores voltavam, rapidamente, “para trás da linha da bola” e “a marcação encaixava-se”. Tem sido assim. O Fluminense é o time que mais tem se aproximado da marca registrada do atual futebol europeu. É o time que melhor tem utilizado a formação com duas linhas de quatro. Às vezes, uma das linhas tem cinco jogadores. Outros times brasileiros dizem que a usam, mas o fazem de forma efêmera. No andamento do jogo, tendem à marcação mista (zona, meia-pressão, individual).

No primeiro tempo, Wagner “esbanjou disposição”. Juntou-se a Carlinhos e criaram boas jogadas pela esquerda. No entanto, o cruzamento de Carlinhos nunca encontrava alguém pelo caminho. Pena, porque aquele lado parecia ser “o mapa da mina”. Conforme previsto, o Wagner vem crescendo ao longo da temporada e tem se tornado um “jogador muito útil”. No segundo tempo cansou e “o time ficou mais vulnerável”.

Se pela esquerda o time encontrou espaços, pela direita o Fluminense “não conseguiu se criar”. Thiago Neves ficou preso à marcação e o Bruno errou o que tentou. Na parte defensiva, inclusive, foi o caminho que o Botafogo encontrou para levar perigo. Saiu dali a jogada do gol de empate.

Por falar em gol de empate, Anderson teve participação direta ao “marcar a bola” e deixar o Andrezinho escapar às suas costas. Aliás, o zagueiro tricolor voltou a errar sistematicamente. Começou com uma furada bisonha, depois furou novamente na área do Botafogo e errou noutras jogadas.

No ataque, Samuel teve “atuação apagada”. Como em “outras jornadas”, correu para o nada e não apareceu na área. Não é o jogador ideal para ser parceiro do Fred. O 9 tricolor ocupa um espaço muito grande e qualquer outro jogador que tente ocupar um espaço próximo ao seu, desaparece. Penso que Wellington Nem, Sóbis e Marcos Júnior são os mais indicados para “fazer a dupla de ataque”.

Por fim, “vou dar uma palinha” sobre nosso técnico. Abel tem muitos méritos nesse time e nas campanhas do ano (Estadual, Libertadores e Brasileiro). No entanto, demora a sacar algumas coisas. Às vezes, “não faz uma leitura” correta do jogo. Principalmente, em situações adversas. O cansaço de Wagner e o desentrosamento do Samuel com o jogo foram percebidos por todos no segundo tempo. Até pelo cara da TV. Mas o Abel esperou o gol de empate para tomar uma decisão. Tivesse colocado o Valência no lugar do Wagner, puxado o Thiago Neves para o meio e trocado o Samuel pelo Nem logo após o gol do Fred, “blindaria o time” e poderia adotar o contra-ataque ante um Botafogo mais ofensivo em busca do empate.

Resultado justo. Os times não fizeram por merecer a vitória. As defesas prevaleceram sobre os ataques. O medo de perder tira a vontade de ganhar

A rodada

Comecei me aborrecendo com o Figueirense. Como deixa acontecer uma virada daquelas? 3 x 1 e o “jogo nas mãos” (lá também teve clichê). O Atlético soube explorar, com velocidade, o relaxamento catarinense com o resultado parcial. Ronaldinho é um jogador sem explosão, mas “coloca a bola onde quer”.

À noite, a Ponte Preta atropelou um desconcentrado Coritiba. Com Renê Junior comandando o meio-campo e Roger iluminado, a Macaca construiu a goleada sobre um time ainda choroso devido à perda da Copa do Brasil.

No domingo, interessante a semelhança entre o Bahia, o Atlético Goianiense e a Portuguesa. Os três times atacaram muito, criaram boas chances de gol, dominaram bons momentos de seus jogos, mas perderam. O time goiano bateu o recorde de gols perdidos.

No Independência, o Grêmio passeou. A bola do Cruzeiro murchou definitivamente, parece. Depois de umas boas vitórias no começo do campeonato, o time voltou a mostrar extrema fragilidade. A marcação é muito frouxa e contra um time bom tecnicamente, reforçado por Zé Roberto e Elano, é pedir para tomar gols.

A próxima rodada

Quinta-feira tem o Bahia. É bom lembrar que os baianos contribuíram muito para detonar as chances de título no ano passado, mesmo brigando todo o campeonato para não cair.

É um time muito frágil e tem concentrado suas esperanças na correria do Kléberson e na ignorância do Souza, que usa o jogo desleal em excesso. É bom ter cuidado.

Deco volta e isso é ótimo. Wellington Nem também deve estar completamente recuperado. Só me preocupo com a ausência do Cavallieri, já que Berna não é um goleiro de muita confiança.

É jogo para três pontos. Principalmente porque os vizinhos têm compromissos complicados: o Atlético pega o Inter em casa, o Vasco vai ao Morumbi enfrentar o São Paulo e o Botafogo joga na Vila contra o Santos.


Mauro Jácome

 

1 Comments

  1. Clichê mesmo é a forma do time do Abel atuar, sempre a mesma coisa: jogo burocrático, sem criatividade, faz um gol e cai na defesa e não se impõe. Como disse outro dia, na medida em que a sorte nos abandonar a coisa vai ficar preta. Contra o Flamengo ela estava escancaradamente do nosso lado. Já contra o Botafogo ela deu uma ajudazinha e deixou o resto com o time, que, incompetente, não retribuiu a boa sorte. Será que ela vai estar e campo contra o Bahia? Acho que a sorte ajuda quem se esforça. E isso não é o que o Fluminense tem feito.
    Com o time que tem o Abel deveria matar os jogos de cara, marcando dois ou três gols. Ficar administrando resultado dá nisso: caímos para o terceiro lugar a três pontos do líder. Depois sente falta no final do campeonato, quando Inês é morta.

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