Cláudio e a profecia (por Marcus Vinicius Caldeira)

É amanhecer no Morro do Borel, na Tijuca. Cláudio desperta cedo para poder tomar o café sossegado com sua esposa, curtir seu filhinho de dois anos e poder ir com calma para o seu trabalho. Ao levantar, percebe sua esposa já na cozinha do pequeno quarto-e-sala localizado no pé do morro – pertinho da antiga quadra da Unidos da Tijuca – preparando o café da manhã.

Carlos se arruma e veste a camisa grená do seu amado Fluminense. Sua esposa se espanta e pergunta:

– Vai trabalhar com a camisa do time, hoje? Seu patrão não irá reclamar?

– Vou sim, pois nosso tricolor joga contra o Coritiba! Lembra? Falei para você que ia ao jogo hoje – responde Carlos.

E emenda:

– O Sr. Gomes não reclama não! É tricolor e, como sou da área administrativa, ele não vê problema.

Depois do café simples, porém delicioso, ele beija sua esposa
mais Claudinho e sai para o batente. Sabe que terá um dia cheio. É office-boy e tem muita tarefa de banco por fazer. Mas, ainda sim, só consegue pensar no jogo de logo mais, primeiro porque uma vitória aproxima ainda mais o clube do coração do título. E também porque anda muito chateado com a campanha que ele julga hipócrita da imprensa contra o Fluminense, alegando favorecimento da arbitragem.

“Logo o Fluminense que há muito vem sendo prejudicado”, pensa inconformado.

Ao chegar à loja de automóveis localizada na Avenida Maracanã, pertinho do ex-maior do mundo, se depara com Sr. Gomes e este já bate de pronto:

– Bom dia! Cante, vibre, empurre o time a mais uma vitória. Quero vê-lo rouco amanhã!

Cláudio responde com o sinal de afirmativo com os dedos. Ele é daqueles torcedores que ficam em pé perto das torcidas organizadas e não para de cantar até o final. Não entende o torcedor que fica vaiando no meio do jogo ou reclamando de algum jogador. Gol sofrido pelo Flu é combustível para cantar ainda mais.

E o dia corre.

Ele vai para o banco, sai do banco, vai para a agência dos Correios, volta para a loja, almoça e vai para o banco… ufa! Tudo isso sem esquecer do jogo!

O relógio bate às cinco horas da tarde e finalmente ele está livre para encontrar com a rapaziada e partir para o estádio. Pensa que deveria ir para a faculdade. Sabe que não foi fácil entrar na universidade pública, por ser negro, pobre e favelado. Agradece às cotas por estar podendo estudar para ser engenheiro. Apesar de não ter sido reprovado em nenhuma matéria e ter um excelente coeficiente de rendimento, bate a crise de consciência que logo passa: “Pô, é jogo decisivo para o Flu”.

#########

Trinta e oito minutos do segundo tempo. O zero a zero insiste no placar. Cláudio não para de cantar, assim como a torcida tricolor. Thiago Neves que vinha mal, acerta um cruzamento na cabeça de Fred e não há perdão. Gol do Fluminense!

Cláudio vibra, abraça seus amigos e começa a cantar com toda a torcida: “Para pra ver que começou o show do meu tricolor”.

##########

Quase meia-noite e Cláudio entra em sua casa. Feliz, vaidoso, ciente de que cumpriu com o seu dever clubístico. Toma banho e vai lamber sua cria. Claudinho dorme feliz. Parece que sabe do resultado do seu time que ele ainda nem sabe que torce, mas sente.

Cláudio se deita e se cobre – o ar condicionado está gelando o seu quarto. Beija a testa de sua mulher carinhosamente, que acorda e pergunta:

– Ganhamos?

– Sim, meu amor – responde Cláudio!

Ele vira-se para o lado e antes de dormir suspira: “O tetra está mais próximo”.

############

Amém.

 

Marcus Vinicius Caldeira

Panorama Tricolor/ FluNews

@PanoramaTri

Contato: Vitor Franklin

16 Comments

  1. Vai dormir o sono dos justos, pois esta vitória de 2×1 nos aproxima do título. Foi sofrido, mas valeu! Seremos campeões. Sds Tricolores…

  2. Mais um golaço do timaço do Panorama Tricolor!!!!
    Parabéns, MVC!!!
    Parabéns, PanoTRI, quase TETR4!!!
    Abração a todos!

  3. Que texto lindo!
    Aliás, é difícil não ler algo lindo por aqui. Adoro!
    Parabéns!

  4. Perdoe-me a liberdade de retirar os personagens, substituídos pela minha família, o nome dele é JORGE RICARDO é corretor de imóveis, acorda, toma café com sua esposa Andréa, deixa a filha Gabriela no colégio,sai com a camisa do FLUZÃO(A mesma sempre), embaixo da social,já com os ingressos comprados em Laranjeiras, à noite vai ao jogo com o mais velho Bernardo, o primo, o cunhado, e o sobrinho, chegando em casa beija a esposa e a filha, a esposa como sempre exige minha resenha, para poder repeti-la no trabalho, elas nos esperam felizes após mais um passo dado rumo a mais um título, rs.

  5. Vamos dormir hoje o sono dos justos, dos tranquilos e dos esperançosos. Depois de hoje só restarão mais 15 pontos em jogo. A cada dia mais perto da taça ficaremos.

  6. Paulo-Roberto Andel comenta:

    Se neste site, que tem sido uma demonstração de amizade e coletividade que eu jamais vi por onde passei anteriormente, não houvesse um único texto publicado, a publicação deste texto já justicaria sua existência.

    Nesse momento, tudo o que eu passei para que o Panorama se tornasse realidade valeu a pena.

    As pilantragens, os boicotes, o mau-caratismo, a arrogância, tudo o que tentou nos sabotar e hoje não passa de bobagem fica muito, mas muito pequeno diante da grandeza desse texto.

    Parabéns de sempre, Marcus.

    Grande abraço.

Comments are closed.