Cinquenta e dois (por Mauro Jácome)

154 - 21052014 - Cinquenta e doisSão 52. O que são 52? Um time, um time, um time…

Desde 71. Félix. Em 75,76. Rivelino, Edinho. Em 83, 4, 5. Romerito, Assis. Em 95. Renato Gaúcho. Em 2010, 12. Conca, Fred. Enfim, times e mais times. Alegrias e tristezas, muitas. Do céu ao inferno. Das vitórias cardíacas às derrotas definitivas. Faz parte, faz parte.

A primeira lembrança talvez seja aquela depois do gol de Lula em 71. Marco Antônio, Ubirajara, bola, Lula, Gol.

Setenta e dois. Cambalhotas. Placar 5×2. Uma massa delirante, uma massa em silêncio.

Setenta e três. Manfrini, meu pai socando a cadeira, cinzeiro no chão, chuva, muita chuva. São imagens…

Sete cinco, sete seis. Máquina atrás de Máquina. De Rivelino, Edinho, Torres, Marinho, PC, Dirceu, Gil, Doval, voltando ao Rivelino. O time perfeito, mas incompreendido pelo destino.

Oitenta. Engraçado… Não sei o porquê, mas só vem à mente o Paulo Goulart. Mesmo com Edinho, com Cláudio Adão, Zezé, Robertinho, lembro-me do Paulo Goulart.

Oitenta e três. Assis avança. Ninguém fala. Assis avança. Ninguém respira. Assis avança. Tudo é paisagem. Assis bate… “O Fluminense vai ser campeão”. Duvidava de meu pai. “O Fluminense vai ser campeão”. Irritava-me aquela certeza absurda. Incoerente. Todo um campeonato pela frente contra forças sobrenaturais. Olhava-o e aquela certeza, agora fato, simplesmente me encarava. Nunca duvide, nunca duvide.

Oitenta e quatro. A primeira vez no Maracanã. Eu gritava e não me ouvia. Era mais uma voz na multidão.

Oitenta e cinco e acostuma-se com as vitórias. É quase uma indolência. Ou uma superioridade. Sei lá, as lembranças são muitas, mas são menos intensas. É prepotência, pura prepotência.

Noventa e cinco. Um soco no peito, quando dois a dois. Um urro que foge de qualquer explicação. Não tem definição. É de cabeça, de braço, é de ombro, de perna, é de pé, mas não seria de barriga, se não fosse por mágica.

Noventa e seis, sete, oito, nove. Do choro, do porre, da amargura. Outro porre e a volta. Uma lembrança de Gil Carneiro num sofá, uma imagem triste, mas que explicava.

Dois mil e cinco. Mais de 80 mil e eu lá no meio. Hugo, eu, um gol, um título. Se não fosse de cabeça, seria de barriga.

Dois mil e sete. Um título e o começo de uma era de emoções ao extremo.

Dois mil e oito. Emoções ao extremo. Lembrar é como assistir a um filme de amor, abruptamente, interrompido.

Dez e doze. De Conca, de Fred, de Cavalieri, enfim, são lembranças recentes. Engraçado… As lembranças recentes são menos poéticas. Estão ali, como se pudessem ser revistas a qualquer momento. Basta um clique e um enter. São nuas e cruas. Talvez, porque as outras estão impregnadas de imaginação, de fantasia. São fatos que nem sempre são fatos, que são fantasias e juramos, para nós mesmos, fazer parte da nossa história. Acreditamos no que aconteceu e, também, naquilo que gostaríamos que tivesse acontecido.

De repente, o pensamento dá uma guinada e, nestas horas, lembro-me de meu pai. Podia estar aqui, mas não está. Ou está…

Outras coisas passam e, quando você pensa que muita gente te esqueceu, tem mais gente que se lembra de você…

O que são cinquenta e dois? O que dizer quando se tem um time? Uma família? Filhos e filhas? Uma Rosa, um mar, vários mares, uma Rosa em vários mares?

O que mais se tem? O que mais se quer?

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @MauroJacome

Revisão preliminar: Rosa Jácome

Imagem: www.radioveracruz.com.br

13 Comments

  1. Parabéns Mauro, faço das suas as minhas, pelas horas de voo que são parecidas, tenho 55, 3×2 de 69 foi o meu 1o maraca lotado, lembro do elevador da especial abrindo e olhei logo para o lado direito e ví a minha paixão ao vivo em tres cores, inesquecível. Depois o 71 chorando de tristeza por volta dos 42′ e de alegria depois. 73/75/76/80/83/84/85. Imagina a festa para um tricolor que viveu intensamente momentos maravilhosos como caminhar do maraca até as laranjeiras comemorando títulos…

    1. Obrigado. Meu caso é diferente. Minha vida quase toda foi por TV, exceto 84, 95, 2005, 2010.

  2. Me vi no seu texto. só com uma lembrança há mais. O 3×2 de 69. Na plenitude de meus seis anos, ainda lembro de meus pais e meu irmão, todos com a armadura tricolor. lembrando do gol do Flávio. Esta a mais tenra lembrança que tenho do Flu. Adorei e mais uma vez, Feliz Aniversário.

    1. Obrigado. Esse aí eu declino. O que lembro desse jogo foi uma gravação de rolo. Ouvi um monte de vezes, mas mais de anos depois.

  3. parabéns, felicidades e muitos anos de vida. Que Deus abençoe vc durante toda a vida.

  4. Belo texto, amigo!
    Que façamos, com o Sampa hoje, o que fizemos há 6 anos.
    ST

  5. Parabéns pelo natalício, Mauro.
    Tuas lembranças assemelham-se às minhas.
    Que este ano traga outras, é meu desejo, para tua coleção inesquecível.
    ST****

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