Prezado Enderson,
Nunca te vi pessoalmente. Não sei se essa carta chegará a ti. Não sei se, chegando, algum efeito terá. Mas resolvi escrevê-la de todo modo para tornar público o que falaria contigo se tivesse uma oportunidade.
Em primeiro lugar, gostaria de agradecê-lo por ter feito meu time não apenas jogar algum futebol, mas retomar sua alma, que andava voando por aí faz bastante tempo. Não estamos jogando o fino, mas ao menos alguns erros crassos, inadmissíveis, foram corrigidos. E visivelmente foram corrigidos porque trabalhastes direito.
Por exemplo, escanteios defensivos. Quantos gols tomávamos antes de sua chegada? Não seria exagero dizer que todo escanteio contra a gente era um deus nos acuda. Isso acabou (tomamos um gol só, contra o Palmeiras) e eu sei como, porque acompanho as notícias sobre os treinamentos. Nosso time tem pouco tempo para treinar, porque nas Laranjeiras não há espaço de repouso para treinamentos frequentes em dois períodos. Os treinos são em pequena quantidade e, sabendo disso, em lugar de inventar treinamentos com três traves, treino alemão, francês, inglês, australiano etc., coisa frequente com seus brilhantes antecessores, reunistes os caras para treinar fundamentos, chutes, escanteios e outras situações de jogo. Deu certo, não?
A recuperação da alma guerreira tem também sua marca, porque é visível que expressa em seu trabalho uma autoestima elevada. Autoestima essa que, naturalmente, contagia o time. Desde as primeiras entrevistas, tens dito que brigamos, pelo menos, pela Libertadores, enquanto os outros diziam que não sabiam o que esperar do elenco. Parte do jogo é autoconfiança e sua atitude foi importante para a recuperação do sentimento de nossos jogadores.
Agora, não escrevo essas linhas apenas para atestar publicamente o que muitos já perceberam. Escrevo para, com todo respeito, mas também com a experiência de quem frequenta a arquibancada do Flu há 30 anos, fazer uma singela sugestão: ouça a torcida do Fluminense. A torcida está te dizendo, já há alguns jogos, que o tal do esquema 4-5-1 não serve para a gente, para o nosso elenco, para o nosso time, para a nossa história.
Não tenho certeza, mas suspeito que esse esquema tenha nascido no Barcelona de Frank Rijkaard, um time em que o cara tinha para escalar Deco, Ronaldinho, van Bommel (que tinha como substituto Iniesta); Giuly (que era substituído ora por Larsson, ora por Messi) e Eto’o. Cacete, quem tem um meio campo desses, tem obrigatoriamente de jogar com 4 meias e um atacante. Todo mundo ali jogava demais, tinha experiência no jogo e estava no auge da forma. O mesmo pode ser dito do antecedente longínquo, o Brasil da Copa de 1970, em que Zagallo deslocou Rivelino para a ponta para aproveitar todos os melhores jogadores do país.
Não é o nosso caso. Por exemplo, Gerson acabou de sair das fraldas e já está improvisado. O cara é meia, meio campo, não se adaptou ao jogo na ponta esquerda. Vinícius, quando cai por ali pela ponta, joga apagado. Wagner tem metade do seu futebol anulado quando serve mais para marcar lateral que outra coisa. Isso para não falar da experiência bizarra de seu antecessor, que empurrou Jean para a ponta esquerda. Não deu certo, não vem dando certo, todo mundo está vendo e dizendo.
A propósito, no Brasil, todo mundo sabe jogar 4-4-2. A gente joga assim na pelada, quando tem 10 na linha. Quem arma um time de brincadeirinha, pensa no 4-4-2. Os jogadores conhecem o esquema, sabem o que fazer. Nele, lateral joga de lateral, volante de volante, meia de meia e atacante de atacante. Se nós temos dois volantes (Edson e Jean), dois meias (Vinícius e Gerson, ou Vinícius e Wagner), dois atacantes (Fred e Marcos Junior ou Magno ou Lucas ou qualquer outro), por que inventar? A torcida está dizendo e não é para te sacanear. Ela apenas tem razão.
Preocupei-me em escrever essa carta por uma razão simples. Acho, sinceramente, que, contratando um bom lateral esquerdo e um bom atacante e mantendo o elenco que temos agora, a gente entra na briga pelo título. Se ganhar o título em si não te sensibiliza, uso outro argumento. Veja os treinadores campeões brasileiros pelo Flu: Paulo Amaral, Parreira, Muricy, Abel. Trata-se de um verdadeiro panteão dos treinadores brasileiros, goste-se deles ou não. Que técnico não gostaria de botar o nomezinho nessa lista? Você não, Enderson? Poucos tiveram realmente oportunidade e, agora, ela caiu no seu colo. Por que não aproveitar? A torcida tricolor agradecerá eternamente, como talvez tenha percebido na homenagem aos nossos grandes campeões estaduais de 1995.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: google/lb
Exatamente, Leonardo ! Não temos os jogadores certos para fazer o 4-5-1. Quem tem Messi, Neymar e Suarez, é óbvio, e até imperativo, que se jogue assim ! No Flu, além de não termos jogadores deste nível, é claro, não temos jogadores destes estilos. Vinícius, Gérson e Wagner são meias tradicionais. Precisamos de um atacante de velocidade, principalmente pq Fred é paradão. E com 2 meias fazendo o que sabem.
Belas palavras, que essa carta chegue em suas mãos já….ótimos e reais conselhos…..
Que ele continue e mantenha este ótimo trabalho à frente de nossas cores.
St.