Carbone (por Paulo-Roberto Andel)

A coluna que eu ia escrever nada tinha a ver com o triste tema, embora não fosse nada alegre. Resenhar o Fluminense de hoje me dá desgosto, e não é à toa que as crônicas dos jogos e as análises nas lives não são minhas: simplesmente não aguento mais ver tanta mediocridade, aliviada por otimismo sem convicção ou ainda palavras bobocas de empregados do clube. Mas como a paz é uma ilusão, interrompi meus dias sem descanso para falar de Carbone, morto há pouco.

Como jogador foi uma fera. Sobraria no futebol atual.

É comum ver muita gente que com ele esteve admirá-lo pelo bom humor e pelo caráter. Muita gente. Seu jeito bonachão, divertido, com o bigodão e a careca, era marcante.

Se o treinador Carbone não esteve à altura do jogador Carbone, o debate é válido. Mas uma coisa é certa: sem vínculos anteriores com o Fluminense, José Luiz Carbone chegou ao clube para pegar um dos maiores rabos de foguete de sua história, assumindo o cargo depois da traição de Cláudio Garcia, ídolo em campo, multicampeão e treinador que acabara de conquistar a Taça Guanabara – o primeiro dos vários títulos que aquele time conquistaria.

O Fla x Flu do returno era um jogo de vingança natural, mas eles venceram de virada e já arrancaram para o pré-campeonato, só que em vão: no triangular final, no último lance do Fluminense antes de ser eliminado da disputa do título, a elegância mortífera de Assis virou o mundo de cabeça para baixo. Com isso, o Fluminense ganhou um dos grandes títulos de sua história.

No Brasileirão do ano seguinte, Carbone saiu no meio do caminho e Parreira levou o Flu ao título com atuações implacáveis. Depois, o treinador teve mais duas passagens efêmeras pelas Laranjeiras, mas seu nome já estava eternizado na galeria dos imortais de 1983.


Campeões Tricolores: Abel e Carbone

Carbone tinha acabado de descobrir um câncer fulminante e se foi. A imagem que fica dele é a do divertido campeão que contrariou todos os prognósticos da imprensa, num tempo que parece ter sido outro dia mas já vai fazer 40 anos daqui a pouco. E quando Carbone vai embora, fica um aperto nostálgico por conta daquele time que, seis meses antes, sequer existia e tinha outro treinador. Tudo foi muito rápido.

Pessoalmente, ao pensar em nomes como os de Carbone, Assis, Washington, Renê e, anteriormente, Zezé, eu me sinto cada vez mais sozinho ao perceber que as minhas referências da infância estão indo embora, porque o tempo não para e a vida é assim. Agora, será que eu não vou ter direito a novos nomes de vitória? O Fluminense precisa construir novas histórias, porque os garotos de hoje merecem títulos e vitórias, não o conformismo dos figurantes. O que os meninos de hoje dirão daqui a 40 anos?

Aos amigos e parentes de Carbone, o abraço sincero de quem foi um garoto feliz quando, à beira do campo, ele liderou Ricardo, Branco, Deley, Tato e todo mundo para um campeonato de ouro, quando o futebol do Rio era reluzente demais.

2 Comments

  1. Simplesmente emocionante a narrativa dos fatos históricos, eu estava lá vibrando com as atuações do fluminense eram outros valores daquela geração onde faço parte aos meus 66 anos, ontem vi a homenagem a Carbone é deu muita saudade do Assis da defesa, Rene, escurinho, Assis atacante, Washington sem falar nós nossos pontas Wilton, Zezé, tato , lula realmente eram fenomenais em um tempo que o jogador jogava por amor onde tudo era resolvido entre o clube é família do jogador, hoje ficou sem graça com os empresários de jogadores ninguém cria raiz como diz o ditado pedra que rola muito não cria…

  2. Bela recordação.
    Saudoso Carbone, quantas alegrias foram proporcionadas ao FLU.

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