Caos (por Paulo-Roberto Andel)

abril

CONVERSAVA tranquilamente com meu amigo Garcez em sua confortável casa, instantes antes do jogo contra o Goiás. Ríamos, falávamos de nossos planos futuros a respeito de literatura (o que pode suscitar calafrios em corações rancorosos), outras besteiras mais, coisas do cotidiano, minha louca paixão virtual, brincadeiras contra os rivais cariocas, mas tudo era pano de fundo para nosso real sentimento.

Apreensão.

Vimos o primeiro tempo da partida com certa tranquilidade, apenas certa. Até a bobagem do garoto Willian – que falhou, mas não pode ser o culpado de uma noite de pavor – a cômica intervenção de Anderson no lance foi capital -, as coisas iam mal, mas não éramos tão ameaçados. Num súbito, de nada adiantou ter três zagueiros e o meio-campo recheado – os goianos iam e vinham como queriam – mais tarde fizeram o segundo gol do mesmo jeito, ainda que tenha havido a falta clara de Valter – também tomamos uma bola no travessão e os verdes nos invadiram como bem quiseram. Resumir os dois tempos desta eliminação é fácil demais: apatia, falta de iniciativa, frieza mórbida. Em nenhum momento fomos o time que, ao menos, tinha vencido o mesmo Goiás no Maracanã e antes empatado com o Corinthians. E fomos trucidados por um adversário bem-arrumado, com um bom – e barato – treinador, mas apenas com um time modesto. Só. Tiro Diguinho da conta: enquanto esteve presente, lutou como tem feito com bravura nos últimos jogos. Importante mas pouco para um time que sonhava com o penta em maio.

ACONTECE que perder faz parte do jogo, por menos que todos queiramos. O que quero dizer é de outra coisa: perder desde cedo e não ter a menor capacidade de reação é o que deprime e afugenta a confiança. São os mesmos jogadores que fizeram parte de campanhas memoráveis nossas, descontando-se a perda até agora irreparável de jogadores como Wellington Nem, Deco e – pasmem! – até o Neves. Perdemos força. Muita força. A conta chegou.

Aqui mesmo neste espaço, havia dito segunda-feira que não era preciso esperar uma eventual eliminação na Copa do Brasil para se promover mudanças – não, não falo dos arroubos megalômanos dos donos da verdade que veem tudo errado e a morte no primeiro suspiro à vista. Quis dizer que estávamos – e estamos – sem viço, sem cor, sem força. Mesclar jovens, dar ritmo e agilidade ao time mesmo com a técnica agora limitada. E pelo amor de qualquer Deus: municiar Fred, que ainda é nossa reserva de talento mais acentuada.

O próximo jogo contra o Santos, no sábado, no frio e vazio Maracanã – modinhas fora, claro! –tomou ares de decisão suprema. Mudamos nosso paradigma aos poucos. O sonho do título virou a vaga para o G4 e, agora, é somar pontos para não passar perto do horror da zona de rebaixamento. Os maníacos de sempre lá estarão e vão acreditar mesmo quando tudo pareça perdido. Em futebol, às vezes um estalar de dedos modifica um cenário inteiro. Mas o que fazer para que este grupo do Fluminense volte a ser um time? Hora de Luxemburgo recolher o cacos e pensar em perspectivas imediatas – elas passam por aumento da velocidade, marcação por pressão no ataque, garra, diminuição do espaço arreganhado em nossa intermediária.

Sem caçar bruxas ou praticar stalinismo barato, parece claro que jogadores como Anderson, Edinho e Wagner não têm mais condições de figurar no time titular. No caso do primeiro e do terceiro, talvez nunca tenham tido.

Onde está a solução?

Longe desse caos de ontem, mais um capítulo de uma novela que vem se arrastando desde os três gols que tomamos contra o Vasco na Taça Guanabara ou a esdrúxula final da Taça Rio contra o Botafogo.

A culpa não era somente de Abel.

Mas tudo isso está muito distante de se abandonar o barco. Nesta hora, os tricolores de grená nas veias deixam a comodidade e fazem de tudo para empurrar fora de CAMPO o que não tem acontecido dentro das quatro linhas. Era assim nos tempos da Revista do Rádio, foi assim em 2009, será assim em 2013.

O sol nascerá, mesmo que hoje seja tudo penumbra e negrume de morte.

Do mesmo jeito que deixei a casa de meu amigo Garcez, olhei o céu sem cor, tomei um táxi silencioso na Haddock Lobo, vi a festa do pré-título dos flamengos e entendi que tudo era um museu de grandes novidades.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: abril.com.br

5 Comments

  1. Peter, acorde enqaunto é tempo: ao invés de ser um presidente de vanguarda, que mudou a história do clube, você pode se tornar o presidente que nos levou de volta ao Inferno. A torcida não se importa com finanças ou PGFN. A torcida se alimenta de títulos e vitórias. Um rebaixamento anula um Tetra. Desça do muro e coloque essa cambada toda para correr. Eles não merecem associar o nome sujo deles ao nosso.

  2. Foi lamentável, deprimente.

    CB quase conseguiu nos rebaixar em 2003, 2006, 2008 e 2009. Está tentando de novo agora. 5 lutas contra o Z4 em 11 temporadas. Alguém ainda acha que o Fluminense depende da Unimerda? Ainda acha que CB é um “tricolor apaixonado”? Ainda acha que temos o melhor patrocínio do Brasil?

    Sou sócio do clube há 28 anos, e tenho orgulho de ter votado, em todas as eleições, em quem foi oposição ao modelo de cornelismo desse caudilho.

    Peter, acorde enqaunto é…

  3. Muito bom seu texto!
    Como você conseguiu dar ânimo a um estado de alma ( acredito seja da maioria), de ansiedade e apreensão???? Eu não era assim, em 2009, me chamavam de “Louca”, “Polyana”, etc… Eu tinha certeza, estava convicta da reação e, do final feliz.
    Da mesma forma que, ano passado, era Fluzão 2012, meu mantra desde o início!
    Temos que ter metas e, a desse 2013, se manter na série A??? Já não fazia mais parte do meu universo! rs

    Mas, vamos em frente!
    Abs e ST

    ***…

  4. A verdade, muito verdadeira é, qu enosso mecenas impoe “titulares” como aquele menino na rua de nossa infancia, gordo e jogador ruim,mas dono da bola. Assim é o Celso Barros , o menino gordo, ruim mas dono que diz, que se nao jogar, ninhuem joga.
    Vide a escalação do esforçado ,mas inutil Sobil e tambem de Edinho, Carlinhos, Jean que nãoperderãoa titularidade nem que o time vá pra serie C.

  5. Antológico: “vi a festa do pré-título dos flamengos e entendi que tudo era um museu de grandes novidades”.

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