Cabeça e personalidade (por Mauro Jácome)

Cinco jogos, cinco decisões. Ou então, quatro, três, duas. Depende do Fluminense. Ou do Atlético, se resolver facilitar. Fisicamente, o time já fez o que devia fazer. Taticamente, não haverá mais novidades. Agora é papo, conversa, conversa, conversa. Arrancar, ao máximo, algo que não tem faltado: comprometimento.

A ansiedade pelo, cada vez mais possível, título; a pressão que, naturalmente, a mídia e a torcida colocam quando se está em evidência; a impossibilidade de errar e colocar tudo a perder. Esses fatores desgastam emocionalmente e deságuam no estado físico. Percebe-se que o time, ao contrário de algumas rodadas atrás, está cansando na metade do segundo tempo e, pior, terminando os jogos exaustos.

Abel, além de treinador, tem papel decisivo no aspecto psicológico. É preciso conscientizar os jogadores para que não entrem na pilha dos adversários, da imprensa, da própria torcida. Esse é o caminho natural do título. Qualquer um passa por essa situação quando está na posição em que o Fluminense se encontra. É, ao mesmo tempo, o ônus e o bônus do líder e franco favorito.

Podemos reclamar de que o time joga recuado, que não pratica um futebol vistoso, mas algo de que não sentimos falta é personalidade. Os caras têm muita! Dois jogadores são exemplos: Digão e Wellington Nem.

O zagueiro é novo, poderia sentir a responsabilidade, mas, independentemente da situação e de falhas eventuais, não afina. Já havia demonstrado isso na fogueira de 2009, quando, em meio ao senso comum do rebaixamento e ao estado de crise permanente, superou tudo e fez um resto de campeonato magnífico. Agora, novamente é chamado a substituir um jogador titular e o faz com uma tranquilidade que, por diversas vezes, dá um frio na barriga do torcedor.

Wellington Nem está tendo um ano surpreendente. Com uma concorrência estelar, superou medalhões e assegurou a titularidade incontestável. Nos jogos, vai para cima, cria e conclui, principalmente nos mais recentes, quando poderia sentir a pressão. Já ouvi torcedores de outros times, no começo do ano, desdenhar do baixinho. “Vocês acham que vão chegar aonde com Wellington Nem?”. Aí está aonde podemos chegar.

Talvez, essa característica, a personalidade, muito forte no Abel e no Fred, contamine e seja a responsável em puxar todos para cima.

Bons tempos da incerteza

A tecnologia expõe o quanto é difícil apitar um jogo de futebol. Ao contrário da propalada piora da arbitragem, penso que a mudança de alguns anos para cá foi a extrema necessidade de se expor e se julgar, lance-a-lance, a decisão do juiz.

Por que não concordo que houve piora? Porque os erros de hoje são os mesmos de sempre. Há 10, 15, 20 anos atrás, não havia lances em que o atacante estava à frente, por centímetros da última linha da zaga e o bandeirinha deixou passar? Há alguns anos atrás, não havia aquele pênalti em que o zagueiro derruba o adversário e o juiz manda seguir? Claro que existia. Mais ou menos? O mesmo tanto.

No entanto, como a televisão não tinha os recursos que tem hoje, os lances ficavam impregnados de incerteza. O beneficiado jurava que houve e ou prejudicado, que não houve. Assim, as discussões ficavam condenadas ao dito pelo não dito.

Além disso, há alguns anos, também não havia essa ânsia de ficar horas a fio nesse lenga-lenga. Discutia-se exaustivamente o jogo jogado. Mas uma coisa não mudou: a utilização do velho e cansado artifício de atribuir a terceiros a responsabilidade pelos fracassos pessoais. “Vitimismo” é inerente a boa parte dos seres humanos.


Enciclopédia do Futebol Atual

Palavras, termos, frases com significados específicos no mundo paralelo do futebol:

Polêmica – “Divergência de opiniões que provoca debates a respeito de um assunto; controvérsia”*. No futebol, polêmica é uma maneira de encompridar as mesas redondas ou os programas pós-jogos para manter aceso o interesse do espectador. Também pode ser uma forma de evitar, por quem não sabe, a análise técnica e tática do jogo jogado.

Encaixar – “introduzir, inserir, ajustar, amoldar, adequar-se. (Fut) Agarrar o goleiro firmemente (a bola), apertando-a contra o corpo”*. Hoje em dia, o termo é utilizado para diversas situações do futebol: o time encaixou a marcação, fulano encaixou um contra-ataque. Com relação ao goleiro, encaixar é algo em desuso. Geralmente, espalmam para o lado, defendem em dois tempos. Alguns “batem roupa” e…

Bola parada – logicamente, uma bola parada é aquela sem movimento, inerte, sem reação. No futebol, sobrenaturalmente, a bola parada se movimenta e, invariavelmente, entra no gol. Funciona como álibi: “o time tava bem, o professor fez um bom esquema, mas, infelizmente, tomamos um gol de bola parada. Mas, tenho certeza, que no próximo jogo a gente vamos (sic) ganhar”.

Estatística – “Ciência e técnica de captação de dados numéricos para sua análise, comparação e interpretação”*. Os clubes estão, cada vez mais, utilizando a estatística para se desenvolver.  Já nas transmissões esportivas pela televisão, os números aparecem para nada demonstrar o nada, com o objetivo de nada se concluir.

(*) Os significados reais foram extraídos do dicionário digital Aulete.

Mauro Jácome

Panorama Tricolor/ FluNews

@PanoramaTri

Imagem: uol.com.br

Contato: Vitor Franklin

Revisão: Rosa Jácome

2 Comments

  1. Tb acho! Creio que o vasco irá abrir as pernas para o galinho de minas, e deveremos esperar o jogo contra o Cruzeiro para gritarmos CAMPEÃO!!!!!!!

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