Brasil x Inglaterra (por Lennon Pereira)

O clima do verão carioca estava bem propício para assistirmos a um jogo em Londres. Vendo e chuva fina intermitente. Realmente o clima pirou, o verão carioca está tipicamente um inverno paulistano. E ainda dizem que ambientalistas são loucos que acreditam em duendes. Deixemos isso de lado e voltemos ao tema.

Como já escrevi aqui, sou do tipo saudosista, gosto de lembrar tempos mais lúdicos e menos hi tech. O jogo de ontem, o primeiro da era Felipão, me levou a algumas reflexões, e para ilustrá-las, vou pedir licença a vocês para novamente voltar no tempo. Acho que esse hábito de ilustrar com pensamentos vem de uma antiga professora do primário, que em suas aulas, tentava fazer com que suas crianças tivessem melhor aprendizado por meio dos exemplos práticos ou históricos. Fica aqui minha homenagem a essa querida educadora, no melhor sentido da palavra.

Felipão todos nós conhecemos, portanto, do velho bigodão dos pampas falarei em momento oportuno quando o futuro me permitir enxergar novidades em nosso comandante.

Minha frustração ontem ficou mais uma vez, mais na postura do que na atuação, dos grandes ícones do futebol brasileiro. Ronaldinho Gaúcho, em fim de carreira, consagrado mundialmente, com carreira nos maiores times europeus, e com uma copa do mundo no currículo, e Neymar, jovem promessa, de pernas rápidas e hábeis, sorriso no rosto e muita esperança.

Vejo muitas semelhanças entre ambos. Ronaldinho começou a brilhar cedo, era tido como craque e grande promessa. Era driblador, insinuante, bailarino, assim como Neymar é hoje. Na seleção nunca repetiu as brilhantes atuações do Grêmio, PSG e Barcelona. Particularmente só me lembro de duas grandes atuações. Uma na estreia contra a inexpressiva Venezuela, e na copa do mundo de 2002 contra a mesma Inglaterra de ontem, quando ele foi decisivo.

Quando vejo e analiso a carreira dos dois na seleção, me lembro da minha juventude. Como todos já sabem aqui, a primeira infância foi no modesto bairro de Bangu. Um ano depois do já narrado titulo do tricolor em 1980, meu pai, pensando em nosso futuro, melhores escolas  e um pouco mais de conforto, promoveu nossa mudança para o tradicional bairro da Tijuca, coração da Zona Norte carioca e bairro com personalidade. Quem é de lá sabe, se intitula Tijucano. Acho que é único bairro carioca com tal característica. Um dia falamos disso também, se Deus quiser.

Fomos morar numa agradável rua sem saída e tal fato permitia que mesmo numa rua de prédios, as crianças e adolescentes fizessem amizades, brincassem na rua, sem movimento de carros, e logo montamos um time de futebol. Eu era dos menores e ficava apenas na turma de apoio e da torcida. Os treinos eram no improvisado campo de paralelepípedo, com os gols definidos por pedras ou chinelos.

O personagem da vez é Jimmy Cliff. O amigo afrodescendente(não quero ser processado por racismo, me perdoem), que de batismo de chamava Marcos ( se não me engano), ganhara esse apelido de um dos colegas, mais gaiato, pela sua habilidade com o futebol. Jimmy, como nós o chamávamos, era habilidoso, dava balões, ovinhos, lençóis (perdoem o regionalismo) e arrebentava nos treinos. Era o camisa dez do time (naquele tempo o craque era o dez). Treinávamos, montávamos o time e íamos para os campeonatos. Jimmy sempre com a camisa dez.

A história era sempre a mesma. Nosso time ficava lá em terceiro, quarto. Uma única vez ficamos em segundo, mas isso não é o importante. O que sempre acontecia era que o melhor do nosso time nos campeonatos era sempre outro colega da rua. Foi o Zezinho, o Cadinho, o Ozório, o Cabeça, o Gerson, mas nunca o Jimmy. Na hora “H” ele sempre era discreto, tímido, displicente, meio aéreo.

Nunca entendemos direito o porquê disso. Anos depois Jimmy tornou-se dançarino de salão e chegou até a se apresentar no extinto “Xou da xuxa”. Acho que Jimmy se encontrou.

Ontem Neymar e Ronaldinho me lembraram Jimmy. Na hora H os dois somem, suas estrelas se apagam. Neymar é o Rei dos jogos fáceis. Contra os bambalas ele é sensacional, mas nos jogos mais duros (vide Santos e Barcelona) e principalmente na seleção, contra Alemanha, Argentina, Inglaterra, não é nem de longe o jogador que desfila seus encantos na Vila Belmiro.

Ontem gostei de alguns, principalmente do Fred. Jogador que não se omite, tem estrela, chama a responsabilidade. Particularmente gosto mais desse tipo de jogador. Gostava do Romário, cara destemido, do Renato Gaúcho, do Reinaldo, do Pelé, do Rivelino, do Gerson e de muitos outros. Caras que falam o que pensam, assumem seus atos e suas responsabilidades.

Personalidades fortes: quanto mais dura a batalha, mais eles cresciam e apareciam. Admiro o jogador do tipo: Dá para mim que eu resolvo. É desses caras que a seleção precisa. A seleção, as famílias, as empresas, as escolas, as organizações, a política… e esses caras estão cada vez mais raros na nossa sociedade.

Um abraço, saudações tricolores e até breve 

Lennon Pereira

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Contato: Vitor Franklin

2 Comments

  1. Texto bacana, Lennon!
    Concordo inteiramente sobre o Neymar.
    ST4!

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